sexta-feira, 18 de março de 2011

O meu País pigmeu (@facebook)

Olho hoje para o meu País, e não vejo o sonho. Vejo um País triste, sem esperança, sem entusiasmo, sem alegria. O sonho que nos construiu como pátria, deu lugar ao pragmatismo liberal destes tempos estranhos. Vejo gente sublime escondida, recolhidos da espuma nebulosa que nos abafa. Vejo esta gente sem espaço, sem tempo, sem palavra, sem lugar.



Vejo um País onde o valor da família desaparece vertiginosamente. Vejo Pais e filhos disfuncionais. Vejo crianças criadas em altos muros de betão cheios de segurança, conforto e modernidade. Mas sem regra, sem fé, sem princípios. Vejo Pais e Mães que correm todos os dias. Ofegantes, desesperados. Vejo-os correr para o acessório. Esquecendo ou, quem sabe, desconhecendo o essencial. Vejo um País com cerca de 5000 crianças entregues a lares e instituições, privados de amor, protecção, inspiração. Vejo um País sem exemplos. Um País que tem, nas suas lideranças, gente sem Mundo. Vejo um País que vive dia após dia numa letargia global, aceitando que os seus destino sejam traçados por um homem sem carácter, sem trabalho, sem exemplo. Vejo Este mesmo País hesitante. Hesita entre o risco do que poderá vir, e o adormecimento convicto com o que sabe estar errado.



Vejo um País que acorda angustiado, vive indiferente, e adormece preocupado. Um País que não descansa, quando dorme. Vejo um País onde 20% da sua população vive abaixo do limiar da pobreza. Um País que subsidia a preguiça, a ilegalidade e a desonestidade. E abandona quem, de facto, precisa. Um País onde a solidariedade se move por câmaras de televisão, blocos de notas ou microfones de jornalistas. Impreparados, pouco esclarecidos, adormecidos. Vejo um País onde o valor do trabalho foi ultrapassado pelo valor do sucesso instantâneo. Um País que não sabe esperar, um País que não admira, não valoriza, nem reconhece a experiência.



Vejo um País onde a música não é escutada, a literatura não é compreendida e o filme não é vivido. Vejo um País desigual. Com um fosso inacreditavelmente maior entre mais pobres e mais ricos. Um país cheio de wannabe's, e ausente de achievers.



Olho para o meu País que se resigna. Um País que recusa olhar pela janela. Um País que se finge confiante, mas vive na insegurança. Olho para o meu País que premeia a mediocridade, o oportunismo, o individualismo exacerbado e a indiferença social. Olho para o meu País, e não vejo crianças que brincam na rua, namorados que se beijam indiferentes a quem passa, gente que dance ao sabor dos sons do músico de rua. Um País cheio de não-sei-quê's. Pouco expontâneo, criativo, arrojado e diferente.



Mas olho para o meu País, e vejo valor. Vejo gente que sabe. Gente que faz. Gente que pensa e partilha. Gente de coragem, que ousa, que questiona, que se insurge. Mas vejo-os pouco. Vejo um País que pode ter esperança, pode ter alegria, pode sonhar.



Vejo um País com empreendedores, um País com mulheres-coragem. Que se impõem, que lutam, que educam, que ensinam. Que quebram as regras estabelecidas pelos hipócritas e cínicos e vencem.

O País que vejo, quando olho, é o País de Eça, de Pessoa, de Quental. É o País de Salgueiro Maia, Amaro da Costa ou Sá Carneiro. O País de Egas Moniz, Paula Rêgo, Siza Vieira ou Lobo Antunes.



Olho para o meu País e pergunto-me por que insiste em ser pigmeu, quando podia ser grande. Dir-me-ão que não é o meu País, é o Mundo. Eu não acredito.