sábado, 24 de dezembro de 2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

somos uma imensidão de coisas

Perdemos todos. Todos os dias. A vida é muito mais perda que ganho. Também se ganha eu sei. Mas perde-se mais. Perdemos porque somos mais pequenos, mais frágeis, mais crédulos, mais feios. Porque somos menos competitivos, menos ambiciosos, menos premeditados, menos desconfiados, menos calculistas. Perdemos porque acreditamos de mais, porque não nos sabemos avaliar, porque temos dificuldade em "vendermo-nos" ao outro ou outros. Porque há sempre alguém mais inteligente, mais bonito, mais bem sucedido. Com mais facilidade no discurso, mais organizado, mais conhecimentos, mais amizades. Perdemos muito e todos os dias. Mas o que custa mais é perder sem saber. Não é feio, premeditado, pensado. Certamente que não. Somos, todos nós, um mundo infindável de coisas. Umas vezes para aqui, outras para ali. Hoje brilhantes, amanhã bestas. Hoje tranquilos, amanhã inquietos. Hoje inspiradores e corajosos, amanhã chatos, inconvenientes e precipitados. Fossemos menos coisas cada um de nós, e talvez fosse melhor. Talvez. Mas não ouvir o porquê é que é a perda mais angustiante e frustrante. Mas acontece e é triste.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Jácke - o Super Herói (...ou como a decepção pode ser patética)



Jácke observa as estrelas, por entre os seus óculos especiais. “Cassiopeia, Cassiopeia, por onde andas minha bebé?”. Está nisto há horas na sua cadeira de praia sentado na varanda virada para o Mundo, quando é despertado pelo impulso das suas próprias palavras, milhares delas dirigidas a Pandora. Parêntesis: Jácke é assim, sabe que escreve para ele próprio, sabe agora que só a ele lhe provocam impulso. Fecha parêntesis. Ia no impulso. Abre o frigorífico e puxa da sua Kriptonite. Marmelada. Junta-lhe bolacha Maria do Recheio (a mais barata). E prepara o seu plano. Planeia, este gajo.
Manhã cedo e pensa “é hoje”. Veste o seu fato de super-herói comprado noutros tempos provavelmente na loja mais barata (é uma fixação). Esforço brutal. No fato vivem ainda bocados de sal de fato mal lavado e o tempo do armário da arrecadação que lhe trouxe novidades. Perna esquerda, perna direita. Encaixa bem o livrete, carta de condução e seguro e está pronto. Olha-se ao espelho, um egocêntrico o gajo, e exclama “Olha que foda-se...está-me grande”. Tudo lhe fica grande hoje. É que já foi muiiiito grande este super-herói. Mesmo assim, gosta do que vê. Sente-se forte, aventureiro, imbatível mesmo. Ala para a rua. Chegado à rua, lembra-se doutra coisa. O seu Super-carro está “ausente” em parte incerta. Não faz mal, leva o segundo. É rico, o gajo. Cinto posto, gps ligado e siga para a Pandora. A viagem corre bem. Quer dizer, mais ou menos. Ou o tempo está mau, ou o fumo dentro dos óculos é demasiado. Não chega a perceber, não perde tempo com minudências. É grande e profundo, o Jácke. Chegado ao local, estaciona o seu super-carro-substituto. Está a retirar as suas armas da mala do carro quando é atacado pelos primeiros adversários. Duas águias voam ferozmente contra ele (a Vitória, e a outra...a que nunca encontra o símbolo, cega portanto). Mas vêem destemidas. Mas está preparado, e saca da sua pistola de água roubada em casa dos sobrinhos e mata-as. Não com a água. Com a dita mesmo. Pimba, pimba, pimba. E segue, triunfal.
Ao chegar à porta, Jácke é reconhecido. “Olha que foda-se”, pensa de novo. Dois Iphones gigantes barram-lhe a entrada e querem impedi-lo de passar. Luta mais difícil esta. Disparam-lhe mensagens e mensagens, fotos e fotos, palavras e palavras. Desta vez, conseguem feri-lo. “Então eram aqui que estavam as minhas mensagens, seus cabrões!”. Enfurecido, puxa de um pau. Um pau, pau, mesmo. E dá-lhes com alma. Lembra-se de Eça de Queiroz (um erudito além do mais o super-herói), que, dizia que quando a palavra falta, sobra a paulada. Pimba, pimba, pimba nos Iphones. Vence-os, claro. Entra la loja onde Pandora está, já vai ferido. Mas destemido, sempre. Agarra no microfone e grita “Pandora, Pandora, Pandora!”. O local está cheio, milhares de pessoas. Pára tudo. Silêncio sepulcral no local. Todos o olham. Mas com admiração. Aqueles óculos são irresistíveis. Cosnegue juntar a multidão a si e desta vez gritam todos: “Lalalalalala....lalalalalala...só nós queremos a Pandora aqui!”. Jácke deslumbra-se e distrai-se. Entusiasma-se facilmente o gajo. Nesta distracção aparece-lhe outro adversário. Vindo nem sabe de onde, como e porquê, aparece-lhe pendurado numa corda. E confronta-o. A multidão está hesitante e expectante. Antes de o confrontar, Jácke abre a sua lancheira sport-billy e saca de mais um pouco de marmelada. E flores. Distribui flores pelas milhares de pessoas. De todas as cores e feitios, mais vulgares e mais raras. Um cavalheiro, o Jácke. A multidão grita “Jácke, Jácke, Jácke”. O seu adversário, o tal vindo não sabia ele de onde, como e porquê, e entra em acção. Confronta-o com palavras e palavras, frases e frases, às centenas. Deixa-o confuso. Hesitante. Não consegue perceber uma única frase completa. Um Adónis das palavras, conhecido ali nas redondezas pelo Maneli. E pede-lhe um pequeno time-out. E faz o óbvio nestes momentos. Vai fumar. Regressa e diz-lhe.


O outro, perante tal movimento, foge. Ou esconde-se. “Este cabrão há-de regressar, pensa Jácke.”. A multidão felicita-o, abraça-o, leva-o em ombros. Está eem grande o super-herói. É, digamos, o seu Momento, vá.
A multidão clama por Pandora. Chamam-na em gritos estridentes, e Jácke aguarda. Triunfante, forte, destemido, respeitoso.
Pandora aparece, caminha lentamente na sua direcção. Silêncio absoluto na loja. A expectativa é grande. Ao fundo, ouve-se....



Pandora corre para Jácke, vai abraçá-lo.
Jácke retira os óculos, o fumo saído lá de dentro activa os alarmes de incêndio e chove na loja. O momento é, agora de grande adrenalina e sensualidade. Os cabelos negros e ondulados de Pandora esvoaçam (alguém, entretanto, e para ajudar a história, ligou um ventilador gigante, pronto). Olham-se e Jácke diz-lhe: “Pandora, só queria abrir a tua caixa. Não me deste tempo.” E vai embora.
Olha que foda-se.

(...)

...esta sensação da perda diária, meses e meses a fio, com a noção de que cada dia, cada momento, cada data será a última. Esta sensação do vazio que são todas as tentativas de cuidar, de mimar, de ajudar, de tratar. Esta sensação de pânico interior de cada cada minuto a seguir pode ser o último minuto. Esta sensação de ver, sentir e tocar a vida a acabar. Devastadora de todas as emoções, forças, crenças, equilíbrios, emoções. Devastadora.

o texto mais importante

Um noite inteira a tentar escrever o texto mais importante. Mas só me saía a palavra F......que, diga-se em boa razão, resume na perfeição os milhares de caracteres que dali saíriam. Na falta de melhor, e na curta hora dormida veio-me este sonho. Muito semelhante a outro tido em tempos, ou igual. Mau sinal. Vai.

"Hoje sonhei que era um bacalhau. E, como bacalhau que era, resolvi sair da água e apanhar um pouco de sol. Estava eu deitado na areia quando me aparece uma lula. "Que fazes aqui Lula?", perguntei-lhe, estranhando estar ela fora da água. "Eu...estou á procura do tubarão-martelo. Viste-o por aí?", perguntou-me. Respondi-lhe que não. E lá seguiu o caminho dela, á procura do tubarão-martelo. Acabado de tomar o meu banho de sol, resolvi ir até ao parque, andar de escorrega. Chegado ao parque, o escorrega estava tomado por duas torneiras. "Duas torneiras a andar de escorrega? Que estranho", pensei eu. "Olhem lá, mas que fazem duas torneiras e andar de escorrega?", inquiri. "Nós queriamos os baloiços, mas o tubarão-martelo e a lula, não saem de lá...", respnderam-me muito tristes. Decidi seguir caminho, que coisas mais estranhas encontre neste dia. Como ainda era cedo, fui até ao cinema. Bilhete comprado, para bacalhau há um preço especial, lá entrei. Sentei-me (tive que ir buscar uma cadeirinha de criança, pois por azar, há minha frente estavam dois postes de electricidade altíssimos), e vi o filme descansado, comendo as minhas pipocas (com sal a mais, note-se). Já era tarde e resolvi ir de autocarro para a praia. Estava cheio, tinha havido uma convenção de hienas ali perto. Estava um barulho ensurdecedor. Decidi sair e seguir a pé. Ao descer a rua, tropeço e rebolo por uma avenida inclinada e só paro no final. Quando me levanto, reparo que sou agora uma máquina calculadora. "Será que posso ir para a água?", interroguei-me. Chego á praia e encontro de novo a lula. "Olha lá Lula, achas que eu posso ir para a água?", pergunto-lhe. Com ar incrédulo responde-me "Mas que grande lata, uma máquina calculadora que fala! E ainda por cima quer ir para a água. Já não me bastavam as torneiras...vou mas é procurar o tubarão-martelo!".

domingo, 18 de dezembro de 2011

...e há Homens assim.

Já conheci gente boa e gente má. Gente feliz e gente infeliz. Gente só. Gente imensamente acompanhada. E por isso mesmo acredito que há Homens convictos de que a bondade pode vencer a maldade. A partilha pode vencer a inveja. A solidariedade pode vencer a solidão. Que sabem sentir sem serem sentidos. Que dão sem receber. Que acreditam no valor do trabalho, na força das convicções, na grandeza dos princípios. Que acreditam na lealdade. Que acreditam no destino. Nos sinais. Nas palavras, gestos, sentimentos. Que sabem que os amigos falham. Que eles falham. Todos falhamos. Que acreditam que há sempre tempo para acertar. Encaminhar. Recuperar. Que acreditam na sinceridade de uma desculpa. Que têm humildade para pedir desculpa. Que conseguem entender. Que acreditam que fazer sorrir é melhor que provocar o choro. Que crescem quando conseguem sorrir. Que é assim que vivem. Acreditando. E respeitando. É que há mesmo Homens assim. Conheço muitos.

há homens assim.


Há homens assim.
Encantadores no flirt, perfeitos na abordagem, lindos na apresentação e assertivos no avanço.
Espalham verdades absolutas, definem-se como aventureiros da emoção, fazem levitar. Voyeurs das fragilidades, aproveitam a oportunidade e arrasam. Têm capacidade de baixar todas as guardas, defendem-se nas suas falhas, premeditam cada momento. Mentem, iludem, enganam. Não olham a meios para atingir os os fins. Para eles vale tudo. Respeito zero, Fidelidade zero. Carácter zero. Mas são encantadores. Dizem-se e dizem-lhes. São os donos das oportunidades, a eles tudo se lhes perdoa, tudo se lhes compreende, tudo se lhes aceita. Afinal são perfeitos e proporcionam os momentos perfeitos. Decidem quando, como, onde e em que momento entram e saem. Afirmam e negam. Proporcionam e retiram violentamente. Têm sempre o tempo com eles. São imortais nas sensações quem provocam. Sabem-no e afirmam-no onde e como querem. Há homens assim. Apesar de tudo, têm-lhes as luzes dedicadas. E há homens que não são assim.

sábado, 17 de dezembro de 2011

momentos.

Momentos.
Acredito em absoluto que a vida é um tempo emprestado. Devemos gozá-lo o melhor possível. Quanto a mim, tento usá-lo da melhor forma, vivendo um dia de cada vez, absorvendo os cheiros, sons e sentidos que me rodeiam. Tento dedicá-lo o mais que posso aos que estimo, que amo. Tenho sempre a sensação que cada pessoa a quem dedico tempo, mais cedo ou mais tarde, se tornará uma perda. Mais do que uma sensação, é um facto. Não entendo porquê. Mas concluo que desperdiço cada vez mais este tempo emprestado que vivo. A barreira entre a vida e a morte é, claramente, um traço muito fino, invisível. Não tem forma ou cor. De um momento para o outro, o tempo acaba-se. É por isso mesmo que, bem ou mal, tento que este tempo seja único, forte, intenso e sobretudo, vivido. Há que desfrutá-lo então. Até porque, depois de ultrapassada a tal barreira invisível, virá outro tempo, outra vida, outras perdas. Momentos. Recordá-los é bom. Traz-nos verdade. Vida. Liberdade. E escolhas, as nossas escolhas.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Gosto da Julia Roberts


Notting Hill - Hugh Grant, Julia Roberts «I'm... por Flixgr

Sim, não é Fassbinder, Polanski, Von Trier...já sei, já sei...
Sim, parece rídiculo a Julia Roberts a dizer isto a este canastrão apreciador de Bj's na Boulevard. Com camisa cor-de-rosa.
Infantil, coisa de americanada, irreal, tonto, despropositado, arriscado.
Mas é bonito. Assim lamechinhinho. Mas é bonito. E corajoso. Ela, pelo menos é.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pure Heart, Soul & Inspiration

No que toca a datas, não sou, diria, perfeito. Insisto em não me esquecer das melhores. E de uma ou duas das piores, vá lá. Faz hoje um ano e meio que o teu coração te traíu. Mulher corajosa, forte, independente. Hoje perguntaram-me por ti. Logo hoje. Noutros tempos, para descreveres alguém utilizavas uma expressão que só dita por ti soava bem: Pure Heart, Soul & Inspiration. Devias ver-te ao espelho, quando a proferias. Devias cá estar.
Por vezes deixavas-nos sem respirar, tal era a velocidade a que vivias. E fazem falta as tuas palavras que tornavam tão simples, os mais complicados dos problemas. E ajudariam a aliviar os dias. Merda da vida que nos leva os melhores.
Não eras um anjo, de facto. E ainda bem. Mas gostavas disto, vá lá saber-se porquê.

Gelado Olá


Quando era puto insistia com o meu pai que só gostava dos gelados da Menorquina. Um em especial. Aquilo era uma paixão assolapada, descontrolada, devastadora mesmo (daí a bonita alcunha de “bolinha”). Consumi aquilo sempre com o mesmo sabor, a mesma intensidade, parecia-me sempre como a primeira vez. O único senão (mínimo), era que aquele gelado tinha dois problemas. Em primeiro lugar, o pai achava-o muito caro, logo proibido. Em segundo, cada vez que chegava desaparecia rapidamente o raio do gelado. Chegava a dar pontapés desenfreados na arca, tal era a fúria quando não o encontrava. Mas ele nada. O cabrão do gelado não queria saber. Nunca ficava ali escondidinho no fundo da caixa, para que ninguém o levasse. Ingrato, é o que era! Até que o pai, num acto (julgava ele), de lucidez, cancela os gelados da Menorquina. A partir daquele dia era Olá. Garantia-me que eram melhores, faziam melhor à saúde, e que havia um gelado semelhante ao outro da Menorquina. Que eu ía gostar. Que experimentasse e veria que gostaria da mesma forma, ou ainda mais. Ainda olhei para ele, apreciei a embalagem, flirtei o gajo mesmo. Sentava-me a apreciar o mostruário da Olá, onde ele aparecia em destaque só para se exibir. Juro que até parecia combater dentro da arca com os outros gelados para chegar em primeiro lugar às minhas mãos. Punha-se m bicos de pés, batia palmas, assobiava, armava-se em bom o gajo. Mas eu...nada. Nahhh....até hoje não lhe provei o gosto. Seria bom?

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Anónimo é que sabe...

Encontrado por aí, num blogue de um qualquer anónimo.Que experiência deve ter tido....

“Gostar de ti.
Ansiedade por ouvir a voz. A espera do telefonema prometido. A tranquilidade de um abraço forte e quente. A sensação do sorriso na face, apenas pela lembrança do nome. As olheiras marcadas e o cansaço extremo por noites saborosas não dormidas. A possibilidade de um talvez futuro, assumindo a insegurança do presente. A vontade do beijo a qualquer hora do dia. O acordar repentino a meio da noite com desejo de possuir apaixonadamente, sem preocupação por noites mal dormidas.
A sã mas estúpida vontade de mandar sms, mms e toso os ésses possíveis. A ilusão de ser ELA. Agora. A certeza que está ali a força para a maior dificuldade, o conforto para a maior dor, o calmo abraço para a mais terrível angústia. A ouvinte cúmplice dos sucessos, das notícias boas do trabalho, das alegrias dos amigos, das peripécias dos sobrinhos. O estar. Saber que se está acompanhado ainda que ausente, abraçado ainda que longe.
A voz que nos tenta corrigir os defeitos e nos elogia as qualidades. Que nos faz caminhar pela terra, com o olhar na Lua. Encontrar, ali ao lado, a coragem, a ambição, a alegria. Ternura, sensualidade, esperança. Força de vida. Sem horas marcadas, dias previstos ou instantes programados, receber um “estás bem?”. O gozo de contemplar o corpo nu, com a luz mínima que entra cheia pela janela aberta, trazida pela Lua.
O saborear o cheiro do corpo, o toque da pele, o sabor do beijo. A tentativa frustrada de ver um filme até ao fim, sentados no sofá num dia de chuva. Vê-la adormecida no peito, embalada por milhões de passagens de dedos pelo cabelo longo, o pescoço saboroso. A vontade interior quase louca de beijá-la, abraçá-la, senti-la. O desejo de fazer um longo “pause” nos dias que correm rápidos demais, sem tempo para o tempo, em que os ponteiros do relógio avançam desenfreados sem respeito pela nossa vontade de “ver”.
A partilha descomplexada de histórias passadas. A dúvida súbita entre as palavras ausentes e as palavras a mais. A juvenil descoberta dos sons, cheiros, cores, vontades e sonhos. O medo da insegurança total da alma, da exposição brutal dos defeitos, das falhas, das incapacidades. Mas a simples, quente e leve esperança de que vai dar certo. A coragem para contar a história ridícula sem vergonha, a descabida e irreal sensação de se “estar bem”.
Perder a bússola, confundir norte com sul, este com oeste. Desorientar. Desracionalizar. Emocionar. A dúvida entre o silêncio necessário e o silêncio exigível. A mais simples vontade de desejar. Ver. Ter. Sorrir.
A terrível escolha da camisa certa, as calças adequadas, o engraxar semestral dos sapatos. A verificação minuciosa da ausência do buraquito no dedão das meias, e garantir que não se levam as boxers com o Buzz Lightyear. As pastilhas na boca para eliminar o hálito dos 5 cigarros fumados na ansiedade do primeiro encontro. A filosófica questão do “ela gostará de cabelos no peito?”. A pergunta óbvia sobre o que lhe devo elogiar primeiro. Se os olhos, a boca, as mãos, a inteligência, a força e o humor, com receio de ser apelidado de “especial”. Se o peito, o rabo perfeito, a sensualidade total do corpo e ser apelidado de “atrevido”. Soltar a piadola espontânea saída de um humor natural, ou a programada das enciclopédias dos Bogarts, Clooneys ou Pitts. O sabor de ler ou ouvir “tenho saudades tuas”.
No fundo, é isto.”

sábado, 10 de dezembro de 2011

Júlio de Matos

A propósito de Monchique no seu Júlio de Matos, vem-me à memória uma frase de Lobo Antunes "...esta coisa de sermos cada um de nós, a maior parte do tempo dois, é uma chatice...". Pois é. Desejamos em privado o que rejeitamos em público. Sabe-nos muito bem hoje o que amanhã já esquecemos e nem lembramos. Sorrimos no grupo e fechamos o rosto no privado. É uma chatice esta merda de sermos quase sempre dois. E chatice maior é decidir qual queremos ser. Porque os tempos, os momentos e as circunstâncias só passam uma vez. Por ambos os dois que somos. Basta escolher. Uma chatice. Ou, citando Conan O'Brien "maybe a good call...mabe." Prefiro o Conan.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

SMS: 00.19h

Não digo todas as palavras que quero. Não escrevo todas as palavras que imagino. Não imagino todas as palavras que sinto. Não faço todas as acções que desejo. Não desejo todos os actos que tenho que fazer. Não procuro nada que não queira. Não quero nada que não procure. Não exprimo toda a emoção que sinto. Não sinto emoções que não queira. Não imaginava tudo o que poderia sentir. Não deixo de sentir o que julgava já inimaginável. Não desisto de tudo o que acredito. Não acredito naquilo que não me motiva. Não deixo, nunca, de seguir o instinto que os sinais da vida que vão dando. Não desisto. Não desacredito. Acredito que falho quando confio e faço confiar. Mas acredito que o tempo, esse verdadeiro julgador da alma, tudo repõe. Não me surpreendo com as dúvidas, desiludo-me com as ausências frias, pensadas, submetidas as juízos de valor que a vida ainda não teve tempo de ensinar. Não deixo, jamais, que a vida que as pessoas fazem dela, a torne verdade absoluta. Não me engano na expectativa, mas acredito na esperança do querer, do fazer, do sentir. Não acredito em corações frios, almas escuras e gestos premeditados provocados por instintos de sobrevivência e de vivência que a vida provoca em cada um. Acredito, isso sim, que há gestos que valem por mil discursos elaborados. Acredito na bondade, sinceridade, doçura e amizade de uma simples sms com 14 palavras. Não significa o pensamento constante ou a paixão exacerbada. Mas significa que aqueles 3 minutos o pensamento e preocupação estavam ali. Chama-se a isto, dar. E acredito em gostar de quem sabe dar. Não me sei viver de outra forma. Jamais saberei.
Posso não ter o céu nas mãos, mas é para ele que olho. Sempre, e apesar.

Vida

Vida. Caminho tão estranhamente delicioso ou abruptamente triste. Forte, segura, emotiva, tranquila e quente. Traiçoeira, enganadora, frustrante, infeliz. Vida. Cheia de desencontros, enganos, problemas, desilusões. Vida. Inundada, nos mais inesperados e impreparados momentos, de calor, fogo, paixão, tranquilidade. Vida. Olgares, toques, beijos, cheiros, amores. Vida. A certeza, a cada dia que passa, de que só existe um caminho. Em frente. Com riscos de enganos, possibilidade de perder ou entristecer. Mas com a alma e coração suficientes para dar, acreditar, fazer, escolher. E viver cada emoção que ela nos traga. Só assim vale a pena. Só mesmo assim.

domingo, 4 de dezembro de 2011

...ou o Fernando Alvim é que sabe

"Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: “Nem pensar, leve isso daqui que me irrita a pele”.

Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos.. E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados?


Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é difícil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que não vi a tua chamada não atendida”.

Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.

Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campainha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós. "
Fernando Alvim

O MEC é que sabe

“Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”. Odeio esta mania contemporânea porsopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio,não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.”

Miguel Esteves Cardoso

sábado, 3 de dezembro de 2011

se o meu amigo tivesse um blogue...

Tenho um amigo que gostava de ter um blogue. Gostava mesmo. Um daqueles amigos desbocados, o gajo tem uma opinião sobre tudo e mais alguma coisa. Desde há muito. E hoje dizia-me "eh pá, se eu tivesse um blogue, convidas-me para escrever no The Printed Blog?". É um grande admirador do TPB, já agora. Qualidade que lhe aprecio bastante. "Então, imagina que tens, e que o teu texto tem que ser avaliado pela Directora e editoras da revista. Escreve lá qualquer coisinha, pode ser sobre o tema que mais aprecias, essa treta da emoção, e a malta logo vê". Aviso já, o gajo afinal tem mesmo muito para dizer. Escreveu isto (perdoem-me os palavrões, mas estou a citar). Cá vai.

"Eu sou um gajo cheio de emoções. Tenho várias, a maioria delas, estupidamente, reprimidas. Emocionam-me várias coisas. Mas, para já, vou falar apenas de uma.
Uma mulher, claro. Uma grande amiga de há 20 anos proporcionou-me conhecê-la. Mas já lá vou, primeiro a amiga. Esta amiga, passados praticamente 15 anos em que não nos víamos, vemo-nos e falamo-nos hoje como então. Impressionante. Vêem-me há memória milhares e milhares de momentos com ela vividos então. Conhecemo-nos na faculdade (o que dada a charmosa idade, já lá vai algum tempo). Lembro-me como se fosse hoje. Já então, os meus conhecimentos eram básicos, logo, entrei naquele curso na terceira fase. Ou seja, depois da primeira e da segunda. Logo aqui se avalia o elevado grau de inteligência do autor. Entrado numa turma pequena, cheia de mulherada, e com o curso em andamento, os olhares dirigidos ao gajo da terceira fase eram semelhantes aos dirigidos à Cátia da Casa dos Segredos. Mas esta amiga foi a primeira a dirigir-me a palavra. Logo ali lhe percebi a atitude. Para além do coração bom, era avessa à regra. Forte como um touro para enfrentar uma vida não tão fácil assim, rapidamente se tornou a melhor amiga. Comigo foi sempre assim, estas mulheres "diferentes" para melhor, olham-me sempre como um amigo. Cruz que me persegue até hoje. Mas andando que se faz tarde. Fomos uns companheiros do caraças durante o curso, partilhámos tudo. Estudos (os possíveis), amizade, desgostos, angústias, dificuldades, alegrias. Boa, gente mesmo muito boa. E forte, e positiva, e optimista, e lutadora. Mas adiante, lá escreverei sobre a dita noutra oportunidade. Um blogue é curto.
De volta à Mulher.
Por coincidência, deu-me a conhecer a tal Mulher. Numa primeira noite, em que, claro, lhe tirei as medidas de alto a baixo.Ela, claro. Ignorou por completo. Foda-se....Mas houve ujma segunda oportunidade, Uma festa, onde vários fomos convocados. É assim a amiga. Convoca os amigos para os bons momentos. Raro, portanto. Receoso que fui, desconhecia por completo que lá estaria a tal Mulher. Saio do carro, preparado para ums noite para a qual estava, obviamente, impreparado. Nem a roupinha nova levei. Apaixonei-me logo ali, mal a vi sair do carro.Sim, é daquelas que leva sempre o carro. Quer dizer, não foi bem ali. Foi um pouco mais tarde. Encostado que estava, já emborcado no 3º JD, observo-a ir ao bar. "Toma conta da minha mala", disse-me. Sem faz favor. Está bem. Felizmente, a qualidade do serviço era tal, que demorou a ser servida. Tempo perfeito para a observação. Já lhe tinha visto os olhos com atenção. E as mãos. E o cabelo. O resto, só naquele momento. Escuso as palavras que me vieram à mente (seria vetado no blogue). Depois daquela noite, e sempre forçado aqui pelo Jeanvalgen dos tempos modernos, la vou provocando á força uns encontros. Sabem-me bem cada minuto, cada hora. Mas a verdade é que eu tenho um defeito (um). Sou estupidamente tímido e estupidamente "certinho". Raramente provoco, raramente flirto, raramente transgrido a regra. Flores e florzinhas, mensagens e mensagenzinhas, beijinhos e beijinhos por sms, Tento entender, compreender, pensar e pensar para caralho. Penso demais, Ou não, sei lá. Bom, e tentando concluir. Se eu tivesse um blogue, aproveitaria para a exibição muito macho que eu possuo, claro. Para lhe dizer que o que gostava mesmo era de passar umas horas do dia com ela. Falaríamos claro. Prefiro ouvi-la, mas acabo sempre por falar mais. Prefiro beijá-la, mas acabo sempre por adiar até à última. Um certinho da merda, é o que é. Até ver. Mais dia, menos dia a coisa vai diferente. Agarro-a (num elevador, nas escadas do centro comercial, no jardim da rua, no meio da estrada ou no estádio de futebol), e dou-lhe um beijo de meia hora. Meia hora sim, que eu sou um resistente. E insistente. Depois explico-lhe que esta coisa do certinho que entende tudo, espera por tudo, compreende tudo, vai à fava. Ou à merda. Passo duas horas com ela (chega, de momento). E fico na expectativa de, depois disso, e só depois disso, ela decidir. E eu. É que, há coisas, emoções, sentimentos, emoções, desejos, vontades, cheiros, sons, que só se decidem depois de experimentar essas duas horas. Já tivemos várias "duas horas" (poucas, claro). E estou em clara desvantagem, hé quem passe 10 ou mis horas com ela. Mas estou habituado às desvantagens. Mas fui sempre estúpido. Ou certinho, o que, a avaliar pelo resultado, não é bom. Lá chegarei. Não seja eu um homem "especial". A ver vamos."

Sinais


Fazem-nos circular, por princípio em segurança, e põe-nos algo que, a nós humanos, pelos vistos faz muita falta. Regras. São isto os sinais de trânsito. Regras de circulação por um caminho que tanto pode ser longo e seguro, como curto e perigoso.
Os sinais de prioridade, por exemplo, fazem-nos acreditar na confiança dos outros, no respeito que terão e, quem sabe na esperança. O sinal de rotunda, indica-nos provável circulação de vários, que, todos eles, sabem a regra essencial da prioridade. O sinal de stop. Faz-os parar. Obriga. Impõe. Outros obrigam-nos a virar para a esquerda quando queremos ir para a direita. A seguir em frente, quando ansiamos virar à direita. E, o mais estúpido, mas ao mesmo tempo significativo. Proibido fazer contorno de marcha. Ou seja, descobrimos, pelos tais sinais que vamos apanhando, que é obrigatório voltar atrás e tomar mais atenção aos sinais apanhados no caminho (ainda que curto), mas, que raio, não podemos fazer o contorno de marcha. Mesmo depois se escarrapachado que não é aquele o nosso caminho, a nossa estrada. Estamos ali a mais, em tempo errado, em momento errado, na condução errada. Então, que se lixe, é para o desastre, é para o desastre. Estúpidos, estúpidos, estúpidos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Akunamatata

Benfica 1 - Sporting 0. Ainda por cima um resultado injustíssimo (sim, o Elias fez-me lembrar o Postiga...) vivido ao lado de uma meia dúzia de benfiquistas e milhares de Leões. Na vontade, quero dizer. Eles eram mais, mas ele e os seus "leões enjaulados" são mais...bonitos, vá. E a beleza vale muito, hoje em dia. Pronto, do lado dos benfiquistas havia uma que...enfim...parecia sportinguista. Mas um pouco agressiva, ainda hoje ele anda na fisioterapia tais foram os apertões, mordidelas e entradas a pés juntos feitos por ela. Uma Javi Gárcia da bancada, digamos.
Face a isto, restava-lhe uma solução. Beber. E foi.
Após variadíssimas tentativas, onde a noite parecia ir ser passada a andar de carro, chega ao sítio. E a Javi Garcia, claro. Mesmo lesionado após o jogo, havia de se vingar. Lá chegados é chamado a atenção pelo "arrumador" local. "Eu não gosto quando não estacionam onde eu digo!", disse-lhe. Mas, graças à companhia a à Irina que já se ouvia no parque, ainda lhe pagou. Claro, afinal ele manda ali.
Lá chegados, e ainda lesionado, está como gosta da coisa. Cheio. Bom som, gente boa e bonita e uma voz do outro Mundo. Em virtude da derrota injusta já referida, e para amenizar as dores já referidas do resultado jogo ( e na ausência de morfina), venha o JD por favor. Armado em esperto (arma-se muito este gajo) sugere "aquele spot é o melhor, vamos para lá...". Era. Agora não é, ali não se fuma. Mas vê-se e ouve-se melhor. Não se pode ter tudo. Nunca se pode ter tudo. Novo spot. Também não se fuma ali. F.....
Mas então, onde se fuma?? No meio, exactamente no único sítio do espaço onde se janta, e com mais gente acumulada por metro quadrado. Estranho não? Mas que importa isso, se a Irina continua a cantar que nem uma louca, uma Sofia qualquer da vida é convidada para tocar baixo e o ambiente é cada vez melhor. E a Javi Garcia vai ficando cada vez mais bonita, está quase a perdoar-lhe as lesões. Quase. Aguarda que a Irina cante Pearl Jam, para a noite melhorar. Vai cantando outra coisa qualquer e o 1-0 já está esquecido. Lights on. For now. Akunamata!

Mundo

Para os amigos, lembrei-me desta música. Estes senhores, assim como eu, já são um bocadinho antigos. É mais um daqueles discos herdados do mano velho que tanto ouvi. Ou ouvimos. Disco sim. Eram numas coisas chamadas vinil. Ainda existem para quem tenha curiosidade. E como é para os amigos, cá vai.
Ao ouvi-lo lembrem-se que isto só vale a pena se amarmos mais, formos mais presentes, abraçarmos mais, beijarmos mais, sentirmos mais, preocuparmos mais, ouvirmos mais, falarmos mais, partilharmos mais. É verdade que se pode fazer o contrário disto. Sim pode. Mas vai chegar sempre o tempo e o momento em que perguntarão "porque não fiz mais?". E olhem que chega assim. Sem aviso de recepção. Entra-vos na caixa de correio deixado pelo tempo que corre muito rápido. Lembrar de outra coisa ainda. É quando achamos que finalmente o Mundo é nosso que nos devemos lembrar que a outros falta mundo. O mundo que então nos deram eles. É só um conselho, nada mais. Aceitá-lo ou segui-lo é com cada um. É sempre com cada um. Mas há tanta gente sem Mundo...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Alma sobrinho...alma

Há mais ou menos dois anos, num canto partilhado com dois bons amigos escrevi isto. Chamava-se "Carta ao Joãozinho". Hoje, depois do dia que tive e, sobretudo, da conversa acabada de ter numa noite longa, bem longa, lembrei-me disto. E reforço. Paixão e alma João. É isso que te vai levar e ajudar nas decisões mais difíceis. No teu trabalho, na tua vida. Na Mulher que um dia encontrares. Mas mais importante que tudo isto. Nos filhos que tiveres, no teu irmão e nos teus pais. Para que nunca chegue o dia em que te arrependas de não lhes teres dado tudo.

"Olá meu querido sobrinho. Tens sido companheiro do Tio ao longo destes últimos anos da minha vida. Tens sido o melhor companheiro que poderia desejar. Tens, já te disse, aquela luz especial, luz essa que te fará brilhar mais que os outros. Não entendas por estas palavras que serás melhor que os outros. Serás diferente. Terás alma. E isso, meu querido, não tem valor. É preciso que saibas que essa luz não te trará mais dinheiro, mais fama, mais sucesso. Não te trará as mulheres que fores amando. Far-te-á não amar algumas que te amem. Não te trará mais ou melhores amigos. Vai trazer-te desilusão. Muita desilusão. Frustração, impotência, angústia, solidão. Não te trará a felicidade eterna. Não existe essa felicidade. Mas vai trazer-te muita coisa. Os que te amam, amar-te-ão sem limite, regra ou medida. Vais ter uma alma livre. Sem correntes sem sentido, sem obediências cegas e absurdas, sem caminhos traçados. Essa tua luz vai fazer-te viajar. Pelas vidas de quem te encontrar, pelos corações de quem te amar, pelos lugares onde o destino te levar. Vais perceber que serás muitas vezes incompreendido. Irão chamar-te sonhador, romântico, tonto até. Irão dizer-te que vives na Lua, que deverás assentar os pés na terra. Não os ouças. Segue e continua a dançar. Só. Quando deres, não vais esperar em troca. Porque darás sem limite, regra ou pedido. Também aqui te estranharão. Afirmarão que ou não existes, ou és falso. Não os condenes. É que essa tua luz torva-lhes a visão. Vais aprender o valor do tempo. Não viverás do imediato. Sonharás com o que está para vir. Sabe desde já que concretizarás uma ínfima parte dos teus sonhos. Porque é assim a vida, dá e tira. Tira mais do que dá. Mas saberás valorizar tudo o que terás. Muitas vezes pensarás nos sonhos que não concretizas. Mas pensarás mais ainda nos que ainda irás concretizar. Viverás na dúvida de saber qual a medida do amor. Concluirás que não tem medida. Encontrarás quem te ame assim. Porque existe sempre essa luz. A luz que tu tens.”

terça-feira, 29 de novembro de 2011

1 Hora

1 hora. Pode ser o tempo de uma reunião enfadonha cheia de yuppies encharcados nos seus iphones, ipads e ai-o-raio-que-os parta. Pode ser também o tempo de outra reunião menos enfadonha, onde se trabalha, realiza, conclui. Pode ser o tempo em que uma mentira construída ao pormenor, se desmorone. Pode ser o tempo de uma TAC feita absolutamente para nada. Pode ser o tempo em que o João Galamba ou a Joana Amaral Dias demorem a explanar todo o seu conhecimento geo-político. Pode ser o tempo que o Prof Machado Vaz demore a explicar o sexo dos anjos. Pode ser o tempo de cozinhar uns camarões à guilho, inundando uma cozinha perfeita azeite, limão e cabeças de camarão moçambicano. Pode ser o tempo de uma lição dada no bowling. Pode ser o tempo de um beijo prolongado, ou "fazer o amor" no sofá confortável, ou apenas o simples tempo de olhar a esperança. 1 hora. Foi o tempo que o Oswaldo disse que levou a compor esta canção. Em cada momento, tempo, companhia e objectivo, 1 hora pode ser o tempo perfeito. Ou não, se tivéssemos planeado 3 horas. Seria a triplicar.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

a tal paixão

Os cínicos desta vida costumam afirmar que a paixão é um factor "desviante" e "desconcentrador" (se é que existe a palavra). Talvez estejam certos. Talvez. Sinceramente eu acho que levarei uma vida inteira para perceber os certos e os errados, tais são as entradas diárias que o comportamento humano nos vai trazendo.
O que acredito é que é essa paixão por fazer que me leva. Que nos leva. O gozo profundo em conseguir alcançar o apenas imaginado. A euforia momentânea pelo gesto conseguido, provocado ou sentido. O acreditar constante, apesar das imensas dificuldades racionais e emocionais que a vida nos proporciona. O não desistir nas convicções, a confiança contínua nas percepções, a crença constante na emoção.
Assim tento fazer no trabalho. E na vida. Onde felizmente, a paixão ainda vai estando presente.
Coisa herdada de duas pessoas. Um pai lutador, honesto, convicto, forte e emocional. E uma mãe apaixonada pela vida e pelas pessoas. Coisas raras. Muito raras.

domingo, 27 de novembro de 2011

É a única foma.

Só há uma forma de ter. É querer. Não há outra.
Hoje fica por aqui, que o dia prevê-se muito coiso.
Em vez do fado, fica isto.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O gajo mais estúpido que conheço

Políticas, greves, ministros, policias mauzinhos, manifestantes bonzinhos. Muito se escreveu nestes dias. Não me apetece. Pronto.
Vou falar do gajo mais estúpido que conheço. Porreiro não?
Então este gajo tem passado a vida na total exposição. Expõe tudo, logo ali à grande. Opina, escreve, fala, sorri, grita, chora (maricas ainda por cima). Explia tudo, expõe as falhas todas, um gajo cheio de defeitos ainda por cima. E fala deles, com a voz estridente para que o ouçam bem. Esconde as vontades, as bondades, as preocupações. E expõe as angústias, as raivas, os desgostos, os erros de casting, os erros de interpretação. Sempre deu o que teve e não teve, a maioria das vezes ainda por cima, considerado pouco. Não esconde, não se faz difícil, não se refugia em cantinhos e palavrinhas obscuras. Acredita, acredita, acredita. Qualquer palavrinha afectuosa, qualquer gesto que provavelmente foi treinado e repetido vezes sem conta pelo outro, qualquer mentira o engana. E é persistente na crença. Já lhe disse mil vezes que parasse com essas figuras de parvo. Mas não vale a pena. O gajo é mesmo estúpido. Apesar de ter razão.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

as saudades são f........

Para inicio de conversa. As saudades são fodidas.
Retratos. Cheiros. Sons. Gestos. Palavras. Ansiedades. Esperanças. Gostos. Sexo. Alegria. Abraço. Força. Temperatura. Adrenalina. Confiança.
A temperatura quente do coração quando próximo, mas gelado quando longe. Sorriso despregado quando olhado nos olhos, apagado quando ignorado. Força para ser o Rei do Mundo, e pequenez exacerbada quando ignorados. Segurança no abraço forte, estranheza na ausência de desejo. Voz escutada sem que o ponteiro aponte a hora, e o raio do relógio que corre lento e cruel no silêncio. O desejo incontrolável do corpo do outro, a impiedosa recusa. O simples saber se está bem, quando a preferência é a ausência de preocupação. A vontade de um simples repousar no colo, e a cabeça que teima em se esconder. O flirt naif, e o fugir constante. O querer tocar o corpo, sentir o cheiro da pele, passar os dedos por cada recanto da pele doce. O silêncio cúmplice na escuta daquela canção. Nunca mais ouvida. O despertar de todos os sentidos eróticos apenas pela visão do gesto simples. O raio da sms, msm ou outra “s” qualquer sem resposta, quando um simples olá conforta. A constante procura de quem foge. O correr quilómetros só para olhar nos olhos. O gerir um tempo que o raio da vida pouco nos dá para say hello, e ouvir o goodbye. O fazer expontaneamente o jamais feito. Horas e horas sem dormir julgando ser prazer, quando afinal é simpatia. Desesperos diários de uma vida que nos obrigado ao certinho, ao adequado, ao bem comportado, que se resolvem com um simples jantar acompanhado do vinho certo. É recordar datas. O julgar-se no caminho, e concluir ser errado. Querer agarrar a Lua antes que se apague, e o raio da lua que foge a toda a hora. A completa ausência de barreira, de preconceito, de medo.A coragem de dizer, de fazer, de tentar. A resposta simpática e educada à provocação clara. A vontade de esquecer regras, jogos, obrigações, responsabilidades ou frustrações diárias. É ser inteiro, não metade.
Dizem que saudade é uma palavra portuguesa intraduzível. Mas tem tradução. É fodida.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

esperança...

Esperança. Palavra que motiva o ser humano. Desde putos, alimentamos várias esperanças. Nos brinquedos que vemos nos outros e pedimos aos pais, na bola de futebol da Nike que os pais do Gonçalo lhe ofereceram, em comparação com a nossa, já velha herdada do irmão mais velho. Na escola, a esperança em alguma vez conseguir compreender adequadamente a raiz quadrada de 298, na expectativa da não ida para o cantinho do castigo (ou, dependendo do “pedagogo”, da reguada). A esperança em conseguir convencer a Ritinha, a miúda mais gira da turma naquela viagem a Óbidos, onde depois de experimentada a ginjinha na tenra idade dos 14, tentamos sacar-lhe um beijo na camioneta onde temos a esperança que ninguém cante o “...sr. Choffeur por favor ponha o pé no acelerador...”. Depois vem a esperança em saber escolher o curso certo, conseguir a nota adequada e entrar na faculdade. Alcançado esse passo, lá vem a esperança de, de facto, sabermos tudo o que vamos aprender. Ou de termos gajas boas na turma. Varia de uns para outros. A esperança que um dia a professora de Sociologia queira ir...sei lá...beber um café, onde poderemos discutir a integração social em ambiente hostil. Nas primeiras saídas, a esperança de conseguir convencer alguma miúda do nosso eterno amor, paixão exacerbada e inteligência fora do normal. E do humor, claro. Parece que gostam do humor. Cansados da vida boémia ou entediante (mais uma vez, depende dos casos), casamos. Outra vez na esperança do amor eterno, na alegria e na tristeza, e um conjunto de palavras que se me foram da memória. No trabalho, a tal esperança em conseguir fazer bem, ganhar bem e trabalhar pouco (voltamos a casos e casos, opto por citar a maioria que observo). Adultos que somos, temos ainda várias esperanças. Conseguirmos ser honestos no trabalho, fiéis nas relações, fortes nas convicções e assertivos nas escolhas. E temos, inadvertidamente, a mesma esperança em relação aos outros. Tempo difícil este vivido. A esperança é parca, a honestidade é exígua, as relações são as possíveis e as escolhas mudam ao sabor do tempo. Neste turbilhão de esperanças, existe uma mais forte que todas as outras. A de que milagres aconteçam. Mas não acontecem. Infelizmente.

domingo, 20 de novembro de 2011

Strike



Vida feita de experiências, a da maioria. Boas e longas, curtas e efémeras. Valem pelo que valem, pela experiência vivida. Em caminhos cruzados acidentalmente, encontram-se passados vividos, presentes incertos e futuros pensados em separado. Ou nada disto. Mas vale sempre muito, cada experiência. Insufla-nos e aquece-nos no presente, e ensina-nos para as futuras. Aos que aprendem. Tudo se resume a, no momento exacto, sentirmos se fizemos strike.Se não o fizemos...paciêcia. Mas a experiência, essa fica. Quem sabe, noutro tempo,com o equipamento adequado, a pista bem escolhida ou adversários menos bons, o strike aconteça. Never sai never.

sábado, 19 de novembro de 2011

Porquê silêncio?

Confesso que aprecio bastante o silêncio em algumas pessoas. Prefiro-as assim. Caladas. Mas noutras, poucas muito poucas, o silêncio não lhes é favorável. As suas palavras, os seus actos sonoros, os seus gestos, a sua positividade e os seus sorrisos, fazem bem. Nas suas ausências e silêncios estão acções, pensamentos, decisões. Contrárias ao esperado, à expectativa gerada, às anteriores palavras e sons, até. E é uma pena. Fazem bem os seus sons e palavras. Aquecem em tempo frio, confortam em tempo desassossegado e, sobretudo, alegram em tempos tristes. Fazem sorrir. E a capacidade de fazer sorrir e gerar tranquilidade é característica apenas de alguns. Por isso, sim, é uma pena o seu silêncio. Gritem, se faz favor. O mundo agradece. E eu também.

Família


Somwhere over the rainbow por chtiteninie

A propósito da proximidade do Natal, transcrevo um texto que pode ser visto por todos na secção de Voluntariado da SCML. É público, faz parte da história de vida uma uma criança que sempre conheci adulta. E é uma lição de vida. Que lhe foi curta, curta demais.

"Todos nós temos o mesmo sonho, amargurados, tristes, sós ou enfurecidos, o sonho que nos aguenta é o mesmo. A família, queremos todos a família. A mãe que perdemos num caminho estreito, estúpido e confuso, ou o pai que de nos lembramos não como ele era, mas como queríamos que ele fosse. Deus fez-nos ter muitos irmãos, muitos amigos, somos mais de 1000 aqui em Lisboa. Mesmo assim, sentados em roda da fogueira que fazemos todos os anos num natal tão absurdo e só como é o nosso, e mesmo após a troca de presentes-mistério, acabamos todos no mesmo tema, a família. Somos todos nós uma família, claro que somos. Agradecemos a Deus todos os dias as centenas e centenas de amigos que dedicam algum do tempo das suas vidas para passarem algum connosco, com os nossos maus-feitios, as nossas tristezas, as nossas revoltas. Não lhes perdoamos nada, um atraso ao sábado de manhã, a falta de um sorriso naqueles domingos tristes passados a ver sempre os mesmos filmes, a visitar sempre os mesmos jardins, a limpar sempre a mesma casa. Entendam todos vós que são cada um à sua maneira a nossa família. São a mão doce da mãe que já foi na cabeça quando estamos tristes, o ombro forte quando precisamos do conselho que o pai ausente não dá. Somos todos muito difíceis ou fáceis, mas somos assim. Perdoem-nos as falhas, ensinem-nos as qualidades, acompanhem-nos nas dúvidas e mais que tudo, dêem-nos um sorriso e um abraço quando precisamos. Mesmo aos mais estúpidos, mais arrogantes, mais revoltados, mais tristes e mais distantes. Falo por mim. Um Natal feliz com as vossas famílias é o que eu muito desejo, em nome dos meus mais de 1000 irmãos. E obrigado do fundo dos nossos corações, hoje foram a nossa família."

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Rosas


Contrariando, como habitualmente nesta matéria, decide fazer o mesmo. Flores.
- "Mas que raio, de tantas vezes ainda não decorei o número? ah já sei, está no caderno de apontamentos, mas sendo eles 5 em cima da mesa, em qual deles escrevi? F...."
Enfim, encontrado.
- "Muito bom dia, eu gostaria de encomendar a caixa com 3 rosas por favor."
- "Bom dia, já é nosso ciente?"
- "Sim...bastante, eu diria..."
- "Que bom saber, indique-me por favor o seu nome..."
- "Não sei..."
- "Não sabe? Não sabe o seu nome???", pergunta ela, simpaticamente, apesar de começar a pensar tratar-se de mais um louco.
- "Não, desculpe, o que quis dizer é que não sei se sou cliente."
- "Já estamos melhor nesse caso ahahaha...mas não disse que era?"
Desliga o telefone, O tempo é pouco, e a impaciência é muita...resolve lá ir. Trânsito infinito, reunião marcada para o meio-dia com o cliente mais impaciente com os horários. Mas arrisca, ainda assim.
Lá chegado.
- "Bom dia, eu liguei há para fazer uma encomenda de uma caixa de três rosas, mas resolvi vir cá." Erro. Sorriso do outro lado. Gente simpática e bem disposta, a observar pela recpcionista.
- "Ainda bem que aqui resolveu passar, ficámos todas muito curiosas em saber quem seria!", afirma ela, ao mesmo tempo que se vê cercado por mais quatro colaboradoras. Risonhas, elas. Resolve chamar a colega que havia atendido o telefone.
- "Bom dia outra vez", diz ela com aquele ar de finalmente ver a cara do assunto de conversa com as colegas pela manhã...
- "Olá bom dia, como está, olhe resolvi cá passar, assim sempre escrevo eu o cartão, gostava de escrever um cartão especial sabe?"
- "E fez muito bem, mas permita-lhe a pergunta. Afinal é cliente ou não?"
- "Já devia ser accionista!", responde ele.
Risos, Risos. Risos.
- "Então nesse caso, diga-me as encomendas que já fez, hoje fazemos-lhe um descontinho..."
- "Muito obrigado, fiz esta neste dia, aquela naquele dia e a outra no outro dia."
Consulta ao ficheiro. Sim, existe um ficheiro.
- "Ah muito bem, então é o senhor X, que manda sempre para esta morada! Sabe que já se tornou conhecido por aqui..."
- "Ai sim, então porquê?
- "Manda sempre sem cartão. Das duas uma, ou é extremamente convencido de que sabem do outro lado que é o senhor que manda. Ou faz isto pela primeira vez, Vou dar-lhe umas dicas, permite-me?"
Silêncio, Pausa. Reflexão.
- "Venha de lá esse conselho!", arrisca.
- "Tome lá este cartãozinho especial, com este envelope especial. E já agora, no final assine assim.", e explica.
Serviço especial por aqui, pensa ele.
- "Vá homem, escreve lá isso, que nós preparamos a caixinha, hoje vai com uma oferta especial..."
Nem quer imaginar o que seja.
Cartão escrito e colocado no envelope.
- "Posso dar uma espreitadela? Como mulher posso aconselhá-lo..."
Ele já está por tudo. A reunião aproxima-se e cede a tudo.
- "Humm...hummm...aqui devia escrever antes isto, vai ver que ela vai gostar...", diz a conselheira..."Além do mais, tem que escrever de novo, a sua letra parece a do meu filho...que tem 7 anos. Concentre-se e esmere-se, vá lá..."
Paciência.
- ""Novo cartão, aceita a sugestão da senhora."
- "Muito bem, então e que para hora quer a entrega?"
- "De manhã, a ideia é conseguir um almoço...", responde-lhe. Já lhe responde a tudo.
- "Bem, de manhã, e para conseguirmos a horas, são mais x euros..."
- "Bolas!!! fica mais caro que a caixa! Bem sei, que vai com oferta especial, e com os seus valiosos conselhos, mas...vai com uma barra de ouro?"
- "Não, é que a esta hora e para conseguir ainda de manhã, fica mais caro:"
- "Mas não é isso que está no vosso site!", responde-lhe já com a nervoseira no ponto!
- "Ai não? Óh Joana, vê lá o site, temos que mudar lá uma coisa, Mas o preço mantém-se, peço desculpa. Mas obrigado, assim já podemos corrigir o site.", respnde-lhe, com a tranquilidade típica de Paulo Bento....
- "Mas deixe_me dar-lhe outro conselho, deixa?"
Mau, o que vem aí desta vez....pensa.
- "Porque não entrega em mãos? É tão mais bonito...onde fica a sua reunião, não fica a caminho?"
- "Mas isto será para os apanhados", já se questiona.
- "Sim, de facto, é bem ao lado, coincidentemente."
- "Não há coincidências, sabe?", diz-lhe ela.
Pois não.
- "Está bem, então eu levo-as, pronto esta feito!"
- "Muito bem, assim ela vai gostar mais, vai ver..."
Mal sabia ela...mas é sempre delicioso conhecer gente optimista.
- "Vou pedir-lhe mais uma coisa", diz-lhe ela
Já está por tudo...
- "Então diga-me, em que posso ser-lhe útil desta vez'", questiona-a ele.
- "Tem aqui o nosso número. Mande-nos um sms, com o resultado da emtrega. Aqui festejamos cada vez que corre bem!"
- "Mas há vezes em que corre mal...cerca-lhe o medo..."
- "Algumas. Mas com esse cartão, e o senhor é tão bonito, só pode correr bem!"
- "Dê-me cá uma beijoca, já ganhei o dia!"
Beijoca dada. Mas não fica por aqui.
- "Mais uma coisa, sr. x....tem a braguilha desapertada. Aperte-a. E esse casaco não combina com a camisa. Desculpe, mas não bastam as flores sabe:::"
Vergonha.
- "Muito obrigado, sou meio distraído. Tinha outro casaco sabe, mas está cheio de maionese e ainda não tive tempo de o limpar..."
- "Vá, vá lá homem não se atrase. Ah...e boa sorte comas flores e com a reunião! E não se esqueça da sms"
Faz-se à estrada, Atrasadíssimo. E pneus carecas ajudam pouco com a chuva.
Chegado ao destino, telefonema.
- "Olá bom dia! Tens cinco minuto para vir aqui fora?", pergunta-lhe.
- Olá. Não, não tenho."
Pausa. Respiração profunda.
- "São só cinco minutos..."
- "Não posso."
- "Até logo então, beijinhos bom trabalho."
- "Beijinhos."
Sms.
- "Olá D.Maria, como combinado, aqui vai a sms. A reunião correu bem. Muito obrigado pelos conselhos. De facto, este casaco não o trago mais."

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

"tell the certinhos to f....themselves"

Ontem em conversa virtual com uma americana, um inglês e aqui o português falava-se disso. Confesso que a dúvida que me assalta sempre nestas conversas que se tornaram habituais é a mesma: que químicos terão tomado estes gajos hoje? O meu é o de sempre, copinho de leite (um certinho, eu) acompanhado de bolacha maria d'oro inundada de marmelada. Não a marmelada que me está prometida, mas a do Recheio que é a mais baratinha. Como dizia, o tempo é aproveitado para o desabafo, o despejar das nervoseiras do dia, dos desejos incontidos e ali explicados. Falamos sempre todos certamente nesta certeza de que nunca nos veremos pessoalmente. Se acontecer, será certamente um momento interessante de ver. E então a malta fala, fala, fala. Deste lado, a câmara do skype desligada, que eu não dou assim essa confia à primeira, sobretudo pela beleza do pijama oferecido pela mãe no Natal, que teima em ser...feio. Mas quentinho, vá. Dos lados de lá, os cenários são dignos de serem gravados e colocados no youtube, onde certamente ganharia à estupidificação levada à glória de um tal de Hélio. Vem a coisa a propósito dos humanos, já me esquecia bolas! Eu explico. Do lado de lá está um homem que foi responsável pela lançamento de revistas e projectos editoriais no Mundo inteiro: UK, Espanha, Portugal, Singapura, Argentina, França...e uma mulher que é hoje editora-chefe de uma das revistas mais prestigiadas do Mundo, na área do Marketing &Comm. Só falo com gente prestigiadíssima, óbvio. E então contava-lhes (conto sempre), como vão as coisas por aqui pelo burgo. A dificuldade em fazer algo diferente, os preconceitos sempre latentes quando se põe um pezinho de fora, o julgamento fácil ao mínimo deslize, a falta de respeito pelo pagamento do trabalho. Enfim, deu-me para a coisa séria. Afinal, o acompanhamento era o leite e bolacha. Fosse Jack Daniels e teria uma conversa bem mais interessante "for sure". Mas eles lá ouviram e responderam com a maior normalidade do Mundo. Que era tudo normal, que as falhas eram normais, que os julgamentos espúrios eram habituais, que nada do que possa ser diferente, pode ter um caminho "certinho". Explicaram-me, então, o caminho que alguns dos projectos deles tinham tomado, como tinham chegado onde chegaram. E deram-me o melhor conselho. "Continue believing, say sorry for mistakes, but coninue believing." E mais um. "Tell the Certinhos to fuck themselves". Esta parte, ou ouvi mal tal eram as doses de marmelada, ou ouvi bem.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

52 CORAÇÕES

Há mais ou menos um ano e meio atrás escrevi um texto semelhante. Onde foi, confesso que não me lembro, a memória é coisa que por vezes já não me vai assistindo.
Vem a propósito de corações bons. De 52 corações bons.
Nascido de dois seres socialmente denominados de "excessivamente emocionais", foi criada uma ideia que, de tão simples que era, parecia inacreditável nunca ter sido feita. Juntaram-se a esta ideia mais 6 pessoas, vindas de mundos e experiências diferentes. Naquele tempo, e com alguma surpresa, á ideia juntou-se o essencial, quem pagaria. Por razões que o mais negro que habita o ser humano por vezes nos saltam na vida, a ideia e quem a teve passaram de brilhantes a "evitáveis". O tempo, na sua velocidade, encontrou-a de novo. Encontra sempre. Juntaram-se de novo algumas das mesmas pessoas, acrescentaram-se mais algumas, horas e horas de estudos psicossomáticos, avaliações técnico-avaliativas, enquadramentos socio-económicos e decisões políticas têm condicionado a coisa em si. Mas nasceu. Passou de ideia e vontade a realidade e obrigação. Só possível porque aqui se encontraram as melhores qualidades que o ser humano (qualquer um), possa ter. Coração cheio, persistência inabalável e capacidade de dar e abdicar. São muitos os nomes que o tornam possível, sendo indiferente a nomeação dos joões, marias, mafaldas, sandras, ritas, anas, teresas, rosas ou fernandos. É mesmo indiferente para cada um. O que não é de todo indiferente é que todo esta trabalho (impossível de quantificar), dedicação, abdicação, sacrifício, vontade e fé, tem um resultado. Chama-se Academia das Artes e vai acompanhar, ajudar, formar, divertir, ensinar, aconselhar. Vai dar esperança, força, coragem, esforço e sentido a 52 vidas. São 52 crianças que ficam a saber que não estão sozinhas neste Mundo tão cínico, invejoso, cruel, indiferente e vazio que os rodeia. Não lhes vai ser fácil a adaptação. A exigência, a obrigação e a responsabilidade. Mas vai encher-lhes a alma. E o coração. 52 corações cheios.E só sabe o valor disto quem os vir sorrir nesse primeiro dia. Pode ser bom, o Mundo.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Impulsividades...

Há momentos em que, tomados pelo chamado "impulso", estragamos. Olhamo-nos ao espelho, convencemo-nos do que queremos acreditar e, pimbas, fazemos. Erro crasso, este da má interpretação dos sinais. Ou, citando um iluminado amigo possuidor da doçura nas palavras. "Fazemos figura de parvos". Pois. Apressar o tempo, acreditar que somos possuidores das mais esbeltas qualidades e benefícios e convencidos da razão. Fazer e dizer antes do tempo, faz-nos errar. E fazer, sobretudo convencidos das palavras, emoções e acções que estão do outro lado, faz-nos precipitar. Mas é este o eterno problema. Se não fazemos quando acreditamos, fazemos quando? Pois...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Querer e desejar

Querer e desejar. A maior parte do tempo, contraditórios em nós.
Nessa maior parte do tempo o desejo sem o querer, está associado ao proibido, ao que, inexplicavelmente nos causa um turpor interior incontrolável e fraquejamos. Fraquejamos, porque temos (ao menos), a consciência que não nos faz bem. Já o querer desejar é bem diferente. Queremos aquilo com que nos confrontamos, que acabámos de conhecer, que se cruza connosco nesta enorme coincidência de caminhos e tempos que é a vida. Sabe-nos bem, tranquiliza-nos, traz-nos uma segurança perdida, queremos desejá-lo. Falta-nos isso, a maior parte do tempo. Bom mesmo, é quando conseguimos aliar o desejo ao querer. Um querer desejado pode ser ainda mais intenso, mais saboroso, mais eterno. Mais tranquilizador. Mas aqui, não é a mente quem nos comanda. É o coração. Resta-nos dar-lhe uma oportunidade, não evitar, não esconder, não fugir. Experimentar. Quem sabe querer e desejo se juntam? Os tais caminhos acidentalmente cruzados acontecem poucas vezes na vida. Muito poucas. E a possibilidade de uma boa oportunidade para ser feliz também não aparece muitas vezes. Digo eu.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Paixão

Diz uma amiga que quem tudo faz com paixão, perde muitas vezes. Seja no trabalho ou na vida pessoal. Mas ainda que se perca muitas vezes, ou que nos enganemos muitas primeiras vezes, há algo que tem um sabor indescritível. A sensação de ter tentado, e de como soube bem a esperança que fosse bom. Faz com que erremos ou nos enganemos ou alimentemos falsas esperanças. Mas faz com que, quando corre bem, o sabor é o melhor do Mundo. O melhor do Mundo. E vale sempre a pena tentar.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Insuportável Sr. Presidente?

Insuportável, diz o sr. Presidente. Que os tempos que vêm podem ser insuportáveis para as famílias e gerações vindouras. Pois bem, Sr. Presidente, lembro-me dos tempos idos dos 80's, em que, para além de passar o tempo entretido com um infindável conjunto de inutilidades, fazia figura de parvo em inúmeras RGA'S (para os mais novos, Reuniões Gerais de Alunos). Sim, naquele tempo, a coisa fazia-se assim em open-space. E quem fazia figura de parvo, fazia-a em estado "open". E fazia-a em seu nome, deixe que acrescente. Promovia o Sr. então, com a Ministra de Educação Manuela Ferreira Leite, a introdução das propinas nas universidade. Todos preparavam as marchas ao sabor da Super Bock, e levantavam as vozes que pouco se ouviam na sala de aula, mas estridentes nas tais Rga's, contra si. Contra si, mais nada. O resto, o essencial que tinha a ver com um direito consagrada nesta Constituição bacoca, ultrapassada e "socializante" que temos ainda hoje era, para eles, essencial. As contas nunca foram matéria brilhante neste cérebro, mas já na altura fazia algumas. E achava bem. As propinas, as reformas anunciadas na administração pública, a reformulação do Sistema Nacional de Saúde, a urgente revisão de um sistema de segurança social já no tempo anunciado como quase falido (já lá vão 20 anos, 20!). Portanto, em seu nome, fazia a tal figura de parvo. Anos passam, continuo a ouvi-lo (sim só o ouço, não lhe faço likes no facebook onde me parece meio tonta a sua presença). Olho para trás, e que vejo, num caminho por si iniciado. Peneirices. Um país cheio de peneiras.
Governantes atrás de governantes com o discurso habitual do "eu ganhava mais ali". Gostava de os ouvir com a mesma convicção "agora sim, depois, ganho bem mais aqui". Não me lembro de um. Um país onde a peneira é tal que se acham todos brilhantes nas suas actividades, explanam longas e aprofundadas teses sobre os seus feitos. As suas opiniões. As suas teorias. Citam de tudo. Cobram valores pornográficos por cada meia-hora de trabalho "criativo" ou "técnico". Tudo ás centenas de milhar, que são muito bons pois então. Os políticos, rodeados de assessores trancados em bunkers bibliotecários, preparam discursos, estudam cores de gravatas, analisam índices de notoriedade. Vejo um país sem culpas. Desde 1974, ninguém tem culpas. De absolutamente nada. Vejo os produtores dos panfletários libertadores de Abril, rapidamente tornados em terroristas e que deviam estar hoje presos, a negociar com, hélas, os "povos libertados". Doutores, Economistas e Engenheiros formados com "passagens administrativas" em finais dos anos 70, tratados como senadores. Vejo presidentes de câmara que se eternizam no poder com rotundas, fontes, fogueteirices, jardins desertos e luzes de natal. Os tais que o Sr. considera como "forças vivas essenciais junto das populações", e para quem considera (tal como o Governo), terem a "necessidade" de manter a sua taxa de endividamento nos 125%. Pagamos todos (ou quase todas, vá). Eles não. São "forças vivas". Deputados criminosos eleitos para Conselhos de Magistratura (perdoe-me o eventual erro de terminologia, mas sou um simples "insuportado"). Depois vejo sindicatos que insistem em considerar que greves gerais resolve problemas. Não resolvem. Agravam. Os meus pelo menos. Bem como os dos milhares de pais que verão os seus filhos sem escola, os doentes sem enfermeiros, os milhões de "gente que vive no limite do insuportável" sem transportes públicos. E milhões e milhões de prejuízos. Boa solução, portanto. Vivem nesta peneira da preocupação pelos "direitos adquiridos" no tempo da maria caxuxa, esquecendo que mais importante que ter o direito adquirido no trabalho...é ter o trabalho por adquirido. Vai-me perdoar o tom, é que se aproxima o fecho do trimestre. E no fecho do trimestre deparo-me com o mesmo problema do trimestre anterior. Pagar IVA relativo a trabalhos efectuados e facturados. Mas não recebidos. Ou seja, o trabalho faz-se, o estado recebe pelo que não contribuiu. E quem o fez contribuindo para a peneirice do outro? E a quantidade de gente que, certa dos chamados "direitos" também trabalhou? Quase 70% de empresas que, fruto deste sistema vicioso tributário iniciado e piorado por si, sufocam. Ou insuportável, para usar a sua expressão. E passam a ser, estes parvos que aqui andam pelo meio, os desonestos. Vai-me desculpar a missiva que lhe dedico, mas tenho para mim que o Sr. Presidente, para além do cargo que lhe está inerente, tem feito companhia a estes milhares e milhares de peneirentos que têm tornado Portugal insuportável. Sei que é um mero professor universitário, mas se há coisa que sempre respeitei, foram os meus professores. Que muita reguada me deram, quando não fazia o trabalho de casa, faltava ao compromisso, mentia ou falhava. A régua eu já comprei (com iva a 23%). Agora, permita que lhe pergunte...onde os posso encontrar?

domingo, 6 de novembro de 2011

a night at the bowling



Convite para o bowling. Perguntado se gosta de jogar, ele, na sua extrema assertividade responde de imediato que sim, claro. Gosta mesmo, no caso. Na verdade, se ela lhe perguntasse se gostava de cricket, a resposta seria a mesma. Então, siga para o bowling. Pelo caminho, condução a duzentos à hora, com a tranquilidade de quem passeia no campo. Pergunta-lhe se vai muito depressa, Claro que não, responde-lhe, na esperança que o caminho seja curto...não que tenha medo da condução, mas porque lhe sabe bem ir ali ao lado. Bem devagarinho, afinal, não é todos os dias. São muito poucos aliás.
Antes do bowling, um quick-snack bem spicy. Arre que arde. Nada que a Pilsener não apague. Por ele, seriam 10 pilseners, mas está no estágio para bowling...na sporttv o Sporting ganha...claro. Com um olhar desviado para o ecrã, onde o Wolkswinkel marca mais um (marca muitos o puto), lá se tenta concentrar. Está pronto para a humilhação. Ela é profissional da coisa. Mas que raio, pensa ele, queria tanto brilhar e fazer dez strokes seguidos...não faz claro. Leva a chamada tareia. Sua desalmadamente, esforça-se por escolher a bola correcta, mas essa nunca aparece. E ela, claro, pinos atrás de pinos. F....começa a desesperar. Tenta duzentas manobras de distracção, nenhuma surte efeito. É imune à distracção. Jeito blasé, com o balanço certo nuj jeito meio naif cheio de pinta, ela dá-lhe baile. Solução encontrada: fuma. No quadro electrónico, o computador teima em não somar os pontos deles. Afinal não acerta nos pinos. Mas bolas...e o esforço...não é premiado? Injustiça! Fica a dez pontos, ou mais, não se lembra. É que, entre olhar extasiado e encantado para ela que o humilha acertando em tudo o que seja bonequinho de madeira, e o sporting que, entretanto, marca mais um...perde-lhe a conta. No fim, percebe o essencial, faltaram os sapatinhos. Foi isso, os sapatinhos fariam toda diferença. E ela, claro. Até no bowling tem pinta. Mas haverá algo em que não tenha? Duvido.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Vida não se arquiva

Vida. Pode ser passada grande tempo em angústia constante, esta viagem por vezes curta, por vezes longa, por vezes tranquila, demasiadas vezes atribulada.
Ou não. Razões de queixa de comportamentos, expectativas defraudas, verdades esguias, mentiras descaradas, fraquezas reveladas ou forças recuperadas. Todos vamos tendo um pouco. Erros de avaliação, erros de sonhos criados ou confundidos, vontades ansiadas ou desejos realizados. Tudo na procura do mesmo. Tranquilidade. Paz. Insistir na alimentação do ódio, do desespero, da angústia crescente ou do arrependimento saudoso faz-nos mal. Faz-nos maus. Paramos pouco para a reflexão, a contemplação, a admiração, a mais pura e abstraída observação. Porque estamos sempre em luta, em esforço, em quase desespero, em guerra. Ruidosa ou silenciosa, guerra de qualquer forma. Será tão difícil deixar correr? Deixar andar? Deixar que o tempo e as coincidências e encontros que a a vida provoca resolvam o caminho? O caminho não esperado ou não planeado corre sempre como um rio. Mas que raio passa pela cabeça dos humanos para insistirem na procura do mar revolto? Querem marés calmas, mas provocam as ondas. Querem o mar quente e tranquilo, mas insistem na procura da mudança da maré, que traz ondas inesperadas, inundações do espaço ocupado e revolta. Essa revolta exaspera, cansa, martiriza, desgasta, destrói. É tão simples olhar para um passado triste e esquecê-lo. Basta olhar para um presente, que nos entra de rompante, mas que pode ser a melhor forma de, num futuro que está já ali na abertura da janela, olhar para trás e sorrir. Pode fazer-nos sorrir, esse olhar crítico para um passado em que o disparate imperou. Mas ainda bem que assim foi, só um passado de erros nos pode trazer um futuro mais tranquilo. Que se guardem todas as angústias, todos os ódios inexplicáveis, todas as exasperações espúrias. Que se acredite mais na capacidade de fazer, de construir, de modificar, de melhorar. E de sorrir. O sorriso abre-nos a alma. E faz-nos sempre bem. Desbloqueia incompreensões e injustiças. Resolve conversas não havidas e palavras que soaram que nem facas agudas. Que seja passada a sorrir então. A vida. Será bem melhor. É sempre tempo.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sorriso

Impressionante como a força de um sorriso pode mudar tanto. Atrás desse sorriso está esperança recuperada, desejos alimentados, estórias resolvidas, passados colocados no seu tempo e lugar. Não é fácil ser assim. Mas quando se consegue, a solidão torna-se menos angustiante, o sono vem profundo e relaxante, o despertar difícil rapidamente conseguido e ultrapassado com o aroma intenso do café da manhã que sai pela janela virada para a muralha do castelo. O dia que se preparara longo, arranca na velocidade sempre certa, compassada e habituada. Mesmos caminhos, mesmos hábitos, mesma força. São mais limpos os sorrisos do dia quer acorda cedo. Mais expontâneos, mais soltos, mais expressivos. Dias intensos passados entre o puro gozo pelo que se faz e a procura de ser sempre bom, sempre feliz, sempre positivo. Existem os mesmos problemas, as mesmas inseguranças, as mesmas dúvidas, as mesmas angústias, os mesmos desejos por alcançar? Certamente que sim. Mas existe sobretudo a certeza que com um sorriso, este sorriso, o dia será melhor. Este e o seguinte. Bom ser assim. Muito bom.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Ter Pinta.

Ter a coragem de assumir. O riso no olhar. A esperança expressa em cada gesto. O humor divertido, descomplexado e arrojado para reagir. Saber olhar para a vida de frente, não esquecendo passados importantes. Assumir, lutar, procurar. Viver na plena certeza de quem se é, do que pensa, do que quer ser e do que pode fazer. Olhar no espelho e elogiar o que se vê, com orgulho do bom que se possui e o olhar crítico sobre cada pequeno defeito. Saber respeitar os silêncios, com a mesma convicção que impõe os sons. Ter uma força interior avassaladora, amando a vida e o que pode ser viver. Saber entender a bondade dos actos, a natureza dos afectos, a pura contemplação das palavras simples. Trabalhar com carácter, tenacidade e pouca lamentação. Esforçar e saber pedir o esforço. Proteger e agradecer a protecção. Saber libertar a beleza de uma alma interior. Ter a plena segurança do belo que se é. Respeitar e saber admirar. Chama-se a isto ter pinta. Muita pinta.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Falando Sério: acampo, claro.


Juscelino Kubistcheck de Oliveira, por muitos considerado o melhor Presidente da Republica brasileiro, começava muitas vezes os seus discursos com esta expressão. Falando sério.
Num gesto que me deixa reservas, vão existindo vontades e pequenas (começam sempre assim) movimentações para a "criminalização" do ex-primeiro-ministro Sócrates e seus ministros. Mas condená-los de quê? De seguirem os seus manuais Keinesianos, aliás seguidos por americanos, alemães, franceses, de políticas absolutamente suicidas de endividamento da despesa pública? E daqui a alguns anos, condenaremos aos actuais, por este caminho liquidatário de uma nação, com um ultra-liberalismo sem limite, que nos levará a pagar, pagar, pagar, e nada produzir?
É assim Portugal. Enquanto foi tendo os seus sucessivos governos, que disparate atrás de disparate (iniciados nos tempos do actual Presidente da Republica), fomos alimentando um monstro que não parou de crescer, cheio de boys & girls do blocvo central que decidiram, assinaram, comprometeram e endividaram Portugal, nada dissemos. Elegemo-los, elogiamo-los, calamo-nos.
O que temos em Portugal, já o temos há tempo demasiado.
Deputados impreparados, ministros impreparados, primeiros-ministros impreparados. A maioria fruto de uma sociedade que cresceu mal em liberdade. Educou-se e educou mal.
É um país cheio de terrenos comprados a preço de saldo por sociedades de advogados, que contornam, subornam e adulteram PDM's. Decidem onde, quando e quem faz hospitais, hotéis, residenciais, condomínios e até aeroportos. É um país onde autarcas, uns atrás dos outros e de todas as cores partidárias, enriquecem em off-shores de sobrinhos, primos ou netos. Onde ex-ministros decidem hoje, e colhem amanhã. São inúmeros os casos de enriquecimentos absolutamente pornográficos em meia dúzia de anos. Decidem hoje contratos-programa com universidades onde serão reitores amanhã, decidem obras ao abrigo dessa engenharia financeira destruidora e devassadora do bem e dos bens públicos chamada de "Parceria Público-Privada", onde amanhã serão gestores. Criam Fundações atrás de Fundações, com zero empregados e actividades infinitas expostas nos seus websites (se está lá é porque é verdade), recebendo milhões de euros de subvenções estatais, quando nada fizeram, nada fazem e nada farão pelo país. Um país que escolhe entre um mentiroso compulsivo e um mentiroso em potência. Do compulsivo todos se esquecerão rapidamente. Do actual, poucos se lembram que defende e faz hoje muito pior do que criticou anteriores direcções, na caça do voto. Que apoiou, repito, apoiou muito do que fez o anterior. Um país onde o jornalista independente de hoje, se torna no fiel assessor de amanhã. Um país onde miúdos de 26, 27 anos, saídos dos seus mestrados de pacote pós-bolonha, exercem meia dúzia de meses algo a que chamam de actividade profissional, logo habilitando-os para assessores, directores-gerais, "responsáveis" de qualquer coisa.
Peçam-me para ser um "indignado". Serei sim, mas não para reclamar outra democracia ou sistema político. Sou e serei para reclamar a justa e correcta aplicação desta democracia. Irei a correr á decthalon ou sport zone comprar a minha tenda. E acamparei sim. Mas à porta de Institutos fictícios, motas-engis, ongoing's, grandes lojas das maçonarias, carris, metros do porto, fundações saramagos, produtores "culturais" que nos levam milhares anos consecutivos, ccb's, etc. É aí, exactamente aí que reside grande parte do mal deste país. É onde formam futuros decisores públicos. Onde a preguiça da esperteza é ensinada em lugar do trabalho honesto. Onde se ensina que existem os "nós" sempre antes e, a maior parte das vezes, contra os "eles". Onde se criam teias de relação escuras, sombrias, desonestas e destruidoras do bem social. Acampo sim, em frente ao Ministério da Saúde, onde se decidem enormidades como cancelamentos do pagamento de transporte a doentes dos IPO's Lisboa, Porto ou Coimbra, por serem "caros". Que venham a pé. Ou, melhor ainda, que morram. Serão "gordura" eliminada. Acampo sim, em frente aos parques dos ministérios, assembleia ou empresas públicas, que contratam mais de 100 milhões de euros em frotas automóveis. Por ano, por ano. Acampo sim, em frente ao aeroporto de lisboa, esperando que albertos joões, isaltinos ou fátimas felgueiras aterrem. Para os prender. E dizer-lhes "não, assim não se faz". Acampo junto de quem promove esta total ausência de respeito pelo trabalho de milhares de micro e pequenas empresas, que têm que inovar, criar, promover novas ideias e novos negócios, com médias de recebimentos de 60, 70 ou até 90 dias dos seus clientes. Milionários. Acampo junto de quem promove esta asfixia brutal do pequeno empreendedor, com a carga fiscal mais alta e mais intensa da União Europeia, com pagamentos por conta, prestações sociais, irs. iva's, irc's. Tudo para o estado, pelo estado e para quem este alimenta. Acampo sim, junto de quem ensina, promove e elogia uma sociedade onde já nem o contrato escrito vale, quanto mais a palavra. Onde em cada esquina, cada reunião, cada relação laboral, a desconfiança, o insulto escondido e vil e a promoção da desgraça alheia vive constantemente.
Acamparei sim para evitar que por cada homem mau, 2 homens bons caiam em desgraça. É um país bom, com gente boa. Mas escondida ora no seu conforto que julga eterno, ora no seu medo que é, de facto, diário e real.
Falando sério, sou há muito um indignado. E tenho do direito de querer trabalhar honestamente neste país. Que é o meu país.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Felicidade

"A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar"

Felicidade - Vinicius de Moraes

terça-feira, 18 de outubro de 2011

coincidência? não.

Reunião para conhecer o novo responsável de marketing de uma marca desportiva que conheço desde sempre. Com quem já trabalhei, deixei de trabalhar, voltámos a considerar trabalhar, amuou, eu amuei, e há 2 meses exactos que aguardava por esta reunião. Tudo resolvido, caminhos preparados, muito trabalho pela frente. Gente boa, gente disponível, gente reconhecida. Impressionantes as voltas de uma vida. Parecem, também no trabalho, andar dependentes de coincidências, tempos e oportunidades. Parecem. Desde que me considero gente crescida (há pouquinho tempo, reconheço), que não acredito em 99% das coincidências. Como agora. O good mood faz o tempo avançar mais rápido, mas eficaz, mais positivo. Regressam, portanto, os dias de reuniões do moleskine cansado, as marcações no Porto e Chiado. Logo agora, que o desporto me apareceu. Bom, muito bom este savoir faire dos deuses.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Slowas?


Shall We Dance? por brainstorm

Recebe um sms. Sábado à noite, festa do slow. Estás convidado e inscrito. Mai nada. É assim esta amiga dele. Decidida.
Seja. Tomada a decisão, surge-lhe a primeira dificuldade. Dançar slows. Já não se lembra bem, aliás as últimas recordações que tem remontam às tardes do Crazy Nights e Loucuras, onde ele tentou inúmeras vezes dançar com a Madalena, a "boa" da turma. Dançar, ele dançou. Mas correu mal, muito mal. Primeiro dançava pior que um rinoceronte dos Himalaias. Segundo, a sua anatomia traía-o sempre naquelas alturas. Líbido típica dos 17 anos...
Então, tendo em mente a dança, deu-se à primeira missão. Jennifer Lopez aberta (salvo seja) no youtube, onde ensina o canastrão do Gere em "Shall we dance". E ensaiou. Noite da festa, põe-se a caminho. Chegado ao destino, primeira notícia boa. O grupo tem uma "Madalena". Mais velha, claro. Mas mais bonita, bem mais bonita. E pinta, sobretudo, muita pinta. E pensa, hoje vingo-me e danço qual Patrick Swayze!
À entrada, embora já motivadíssimo, repara nos restantes convivas. Eles, parecendo necessitados da botija de oxigénio, assim que Lionel Richie acabar o primeiro refrão. Elas, com a seringa do botox escondida na mala, onde o iphone tem o número do Personnal Trainer à mão, não vá a noite acabar cedo...
Memórias boas. Springsteen, Adams, Cougar, Fischer Z. O Dj muda o balançao, e entra com Elvis Costello. Ele dá um trago longo no JD ansioso e enche-se de coragem. Olha-a e lembra-se da Madalena. Merda. Começa a imaginar os seu 84 kilos pressionando os dedos dela que, simpaticamente, lhe dirá que não faz mal. Vá. E fica quieto. Prefere não arriscar. Afinal, melhores dias poderão vir. Espera ele. A noite acaba e regressa a casa. Missão do dia seguinte...youtube. Até à próxima festa, onde se encherá de JD e coragem e lhe dirá com o seu extremoso charme "Danças?"

sábado, 8 de outubro de 2011

Matrioskas ou Palhaços?




Um (sim, um dos duzentos que em média são corridos numa hora) dos temas de hoje ao jantar: pessoas "normais". Mas, pergunto eu, há-as?
Como são? O que vestem? O que comem? A que cheiram? Que idioma lhes ouvimos? Não conheço. Mas reconheço o enorme e cada vez mais comprovado grau de ignorância sobre esta espécie. A das pessoas, claro. Mas gostava de conhecer, afinal, eu sou um "people addicted", dizem-me lá do outro lado do Atlântico. Vantagens da virtualidade, digo eu.
Mas voltando à people. A verdade é que quanto mais leio, mais vejo, mais ouço ou mais conheço que raio...não as vejo. É certamente fruto deste olhar turvo, esguio, escuro típico de um mestre que me vem esta incapacidade. O que mais vejo é Matrioskas. Sim, aquelas coisas de madeira cheias de cor, redondinhas, perfeitinhas. Com umas dentro de outras, cada uma menor que a outra. Começam grandes, nobres, imponentes. Perfeitas, diria. Aos poucos, abre-se a coisa e, surpresa, vem outra. Parece igual, mas não é. É mais pequena. Menos nobre, menos imponente, menos perfeita. E outra, e outra, e outra. Acaba minúsculazinha, uma pequena aproximação e aspiração da outra, a grande. A que se apresenta primeiro. O problema está no abrir, já alguém disse. Sobre as pessoas.
Mas vejo também o Palhaço em cada um de nós. Veste-se a rigor, ensaia as palavras, as quedas, as partidas, os risos, a expectativa do aplauso. O desejo do aplauso. Mas depois, lá no canto, bem no cantinho, olha-se ao espelho e pensa. Mas afinal, sou um palhaço ou quê?
Ouço a "normalidade" e rio. Interiormente, que exteriormente o Canal Parlamento leva-me os sorrisos todos. Rio, porque, se exceptuarmos a morte, a morte crua, dura e áspera, tudo o resto é uma enorme vontade de rir. As pseudo-crenças, as fantasiadas ilusões, as problemáticas necessidades de afecto, os actos premeditados falhados, os enganos nas avaliações de carácter. Enfim, uma risada completa. Bem, pensado e reflectido (acto aconselhável na companhia do John D.), dá tudo uma enorme vontade de rir. Tal é o ridículo.

Pai

Em época de Nobel, lembro-me de ti. E dou-te o prémio.
Fazes anos hoje. 72 ou 73. Dúvida de filho desnaturado. Devia ser, vai ser, um dia bom.
Neste dia, vêm-me à memória os mais românticos sentidos de uma vida. Sem saberes, és um romântico. Acreditas hoje, com a mesma força e energia com que acreditavas quando, há trinta anos atrás, refizeste toda uma vida. É neste dia que me chegam aos lábios palavras como solidariedade, trabalho, justiça, honra, respeito. Aprendi-as todas contigo, nesta viagem cheia de entradas e saídas numa via rápida cheia de obras imprevistas. Tomara eu que, como tu, as praticasse todos os dias. És assim como a Força Tranquila que Séguéla inventou para Miterrand. Uma vida de trabalho intenso, contínuo. De muita luta. Um companheiro incansável, um conselheiro lúcido, um homem cheio de amor. Não te envergonhas no choro, não hesitas no sorriso. Tens orgulho no afecto, e gostas do afecto. És assim uma espécie de seguro de vida da eterna tranquilidade. Falava-se ontem de como deve ser difícil ser filho de pais brilhantes. No meu caso, é fácil. E é a melhor sensação do Mundo. Esta de me lembrar de ti.
Assim que acordar, vou-te dar um abraço. Parabéns Pai.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pay it forward




Porque me ocorreu ontem.
Conheci o Padre António Amaro em meados de 2001. Em trabalho (curioso para onde me tem levado o trabalho) para os Jogos Santa Casa, comemorava-se na altura os 500 anos da Lotaria Nacional, instituída por D. Maria I, "Raínha santa", como é por ali conhecida.
Este homem foi um dos criadores e grande mentor de um projecto de impressionante humanidade, solidariedade e respeito pelo ser humano, a Aldeia de Santa Isabel. Esta instituição alberga no seu espaço mais de 200 pessoas, entre recém-nascidos, crianças e jovens, e idosos. Vivem todos de acordo com um princípio básico por ele promovido, "eu ajudo-me, ajudando-te". É o Pay it Forward à portuguesa, portanto. Numa das muitas noites por lá passadas, e quando chegava o silêncio da noite que tanto amedronta as mais de 50 crianças lá residentes, sentámo-nos na cozinha a beber o seu café trazido de Monção. Forte, como ele. Naquelas noites, contava-me as mais incríveis histórias de sobrevivência, de força interior, de crença e fé. Naquela noite chuvosa de Dezembro, contou-me a história dele. Posso partilhá-la, ele próprio a tornava pública. Foi recém-nascido abandonado, criança adoptada e violentada consecutivamente durante 3 anos, jovem institucionalizado. O pior possível. Até que numa situação particular vivida aos 16 anos, cheio de angústias, medos, raivas incontidas e uma solidão aterradora, ajudara alguém pela primeira vez na vida. A partir daí, dizia, criou-se uma razão interior que o levou a escolher a congregação onde dificilmente entrara. E passou mais de 30 anos nessa missão. Ajudar. Ele que se considerava um ser cheio de imperfeições. Do que lembro dele, e cada vez que me vem à memória cada acto da sua vida na Aldeia de Santa Isabel, só me ocorre o bom que é ter conhecido uma pessoa que, identificando-se como imperfeito, era e é um dos seres mais perfeitos que conheci.