sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Ter Pinta.

Ter a coragem de assumir. O riso no olhar. A esperança expressa em cada gesto. O humor divertido, descomplexado e arrojado para reagir. Saber olhar para a vida de frente, não esquecendo passados importantes. Assumir, lutar, procurar. Viver na plena certeza de quem se é, do que pensa, do que quer ser e do que pode fazer. Olhar no espelho e elogiar o que se vê, com orgulho do bom que se possui e o olhar crítico sobre cada pequeno defeito. Saber respeitar os silêncios, com a mesma convicção que impõe os sons. Ter uma força interior avassaladora, amando a vida e o que pode ser viver. Saber entender a bondade dos actos, a natureza dos afectos, a pura contemplação das palavras simples. Trabalhar com carácter, tenacidade e pouca lamentação. Esforçar e saber pedir o esforço. Proteger e agradecer a protecção. Saber libertar a beleza de uma alma interior. Ter a plena segurança do belo que se é. Respeitar e saber admirar. Chama-se a isto ter pinta. Muita pinta.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Falando Sério: acampo, claro.


Juscelino Kubistcheck de Oliveira, por muitos considerado o melhor Presidente da Republica brasileiro, começava muitas vezes os seus discursos com esta expressão. Falando sério.
Num gesto que me deixa reservas, vão existindo vontades e pequenas (começam sempre assim) movimentações para a "criminalização" do ex-primeiro-ministro Sócrates e seus ministros. Mas condená-los de quê? De seguirem os seus manuais Keinesianos, aliás seguidos por americanos, alemães, franceses, de políticas absolutamente suicidas de endividamento da despesa pública? E daqui a alguns anos, condenaremos aos actuais, por este caminho liquidatário de uma nação, com um ultra-liberalismo sem limite, que nos levará a pagar, pagar, pagar, e nada produzir?
É assim Portugal. Enquanto foi tendo os seus sucessivos governos, que disparate atrás de disparate (iniciados nos tempos do actual Presidente da Republica), fomos alimentando um monstro que não parou de crescer, cheio de boys & girls do blocvo central que decidiram, assinaram, comprometeram e endividaram Portugal, nada dissemos. Elegemo-los, elogiamo-los, calamo-nos.
O que temos em Portugal, já o temos há tempo demasiado.
Deputados impreparados, ministros impreparados, primeiros-ministros impreparados. A maioria fruto de uma sociedade que cresceu mal em liberdade. Educou-se e educou mal.
É um país cheio de terrenos comprados a preço de saldo por sociedades de advogados, que contornam, subornam e adulteram PDM's. Decidem onde, quando e quem faz hospitais, hotéis, residenciais, condomínios e até aeroportos. É um país onde autarcas, uns atrás dos outros e de todas as cores partidárias, enriquecem em off-shores de sobrinhos, primos ou netos. Onde ex-ministros decidem hoje, e colhem amanhã. São inúmeros os casos de enriquecimentos absolutamente pornográficos em meia dúzia de anos. Decidem hoje contratos-programa com universidades onde serão reitores amanhã, decidem obras ao abrigo dessa engenharia financeira destruidora e devassadora do bem e dos bens públicos chamada de "Parceria Público-Privada", onde amanhã serão gestores. Criam Fundações atrás de Fundações, com zero empregados e actividades infinitas expostas nos seus websites (se está lá é porque é verdade), recebendo milhões de euros de subvenções estatais, quando nada fizeram, nada fazem e nada farão pelo país. Um país que escolhe entre um mentiroso compulsivo e um mentiroso em potência. Do compulsivo todos se esquecerão rapidamente. Do actual, poucos se lembram que defende e faz hoje muito pior do que criticou anteriores direcções, na caça do voto. Que apoiou, repito, apoiou muito do que fez o anterior. Um país onde o jornalista independente de hoje, se torna no fiel assessor de amanhã. Um país onde miúdos de 26, 27 anos, saídos dos seus mestrados de pacote pós-bolonha, exercem meia dúzia de meses algo a que chamam de actividade profissional, logo habilitando-os para assessores, directores-gerais, "responsáveis" de qualquer coisa.
Peçam-me para ser um "indignado". Serei sim, mas não para reclamar outra democracia ou sistema político. Sou e serei para reclamar a justa e correcta aplicação desta democracia. Irei a correr á decthalon ou sport zone comprar a minha tenda. E acamparei sim. Mas à porta de Institutos fictícios, motas-engis, ongoing's, grandes lojas das maçonarias, carris, metros do porto, fundações saramagos, produtores "culturais" que nos levam milhares anos consecutivos, ccb's, etc. É aí, exactamente aí que reside grande parte do mal deste país. É onde formam futuros decisores públicos. Onde a preguiça da esperteza é ensinada em lugar do trabalho honesto. Onde se ensina que existem os "nós" sempre antes e, a maior parte das vezes, contra os "eles". Onde se criam teias de relação escuras, sombrias, desonestas e destruidoras do bem social. Acampo sim, em frente ao Ministério da Saúde, onde se decidem enormidades como cancelamentos do pagamento de transporte a doentes dos IPO's Lisboa, Porto ou Coimbra, por serem "caros". Que venham a pé. Ou, melhor ainda, que morram. Serão "gordura" eliminada. Acampo sim, em frente aos parques dos ministérios, assembleia ou empresas públicas, que contratam mais de 100 milhões de euros em frotas automóveis. Por ano, por ano. Acampo sim, em frente ao aeroporto de lisboa, esperando que albertos joões, isaltinos ou fátimas felgueiras aterrem. Para os prender. E dizer-lhes "não, assim não se faz". Acampo junto de quem promove esta total ausência de respeito pelo trabalho de milhares de micro e pequenas empresas, que têm que inovar, criar, promover novas ideias e novos negócios, com médias de recebimentos de 60, 70 ou até 90 dias dos seus clientes. Milionários. Acampo junto de quem promove esta asfixia brutal do pequeno empreendedor, com a carga fiscal mais alta e mais intensa da União Europeia, com pagamentos por conta, prestações sociais, irs. iva's, irc's. Tudo para o estado, pelo estado e para quem este alimenta. Acampo sim, junto de quem ensina, promove e elogia uma sociedade onde já nem o contrato escrito vale, quanto mais a palavra. Onde em cada esquina, cada reunião, cada relação laboral, a desconfiança, o insulto escondido e vil e a promoção da desgraça alheia vive constantemente.
Acamparei sim para evitar que por cada homem mau, 2 homens bons caiam em desgraça. É um país bom, com gente boa. Mas escondida ora no seu conforto que julga eterno, ora no seu medo que é, de facto, diário e real.
Falando sério, sou há muito um indignado. E tenho do direito de querer trabalhar honestamente neste país. Que é o meu país.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Felicidade

"A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar"

Felicidade - Vinicius de Moraes

terça-feira, 18 de outubro de 2011

coincidência? não.

Reunião para conhecer o novo responsável de marketing de uma marca desportiva que conheço desde sempre. Com quem já trabalhei, deixei de trabalhar, voltámos a considerar trabalhar, amuou, eu amuei, e há 2 meses exactos que aguardava por esta reunião. Tudo resolvido, caminhos preparados, muito trabalho pela frente. Gente boa, gente disponível, gente reconhecida. Impressionantes as voltas de uma vida. Parecem, também no trabalho, andar dependentes de coincidências, tempos e oportunidades. Parecem. Desde que me considero gente crescida (há pouquinho tempo, reconheço), que não acredito em 99% das coincidências. Como agora. O good mood faz o tempo avançar mais rápido, mas eficaz, mais positivo. Regressam, portanto, os dias de reuniões do moleskine cansado, as marcações no Porto e Chiado. Logo agora, que o desporto me apareceu. Bom, muito bom este savoir faire dos deuses.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Slowas?


Shall We Dance? por brainstorm

Recebe um sms. Sábado à noite, festa do slow. Estás convidado e inscrito. Mai nada. É assim esta amiga dele. Decidida.
Seja. Tomada a decisão, surge-lhe a primeira dificuldade. Dançar slows. Já não se lembra bem, aliás as últimas recordações que tem remontam às tardes do Crazy Nights e Loucuras, onde ele tentou inúmeras vezes dançar com a Madalena, a "boa" da turma. Dançar, ele dançou. Mas correu mal, muito mal. Primeiro dançava pior que um rinoceronte dos Himalaias. Segundo, a sua anatomia traía-o sempre naquelas alturas. Líbido típica dos 17 anos...
Então, tendo em mente a dança, deu-se à primeira missão. Jennifer Lopez aberta (salvo seja) no youtube, onde ensina o canastrão do Gere em "Shall we dance". E ensaiou. Noite da festa, põe-se a caminho. Chegado ao destino, primeira notícia boa. O grupo tem uma "Madalena". Mais velha, claro. Mas mais bonita, bem mais bonita. E pinta, sobretudo, muita pinta. E pensa, hoje vingo-me e danço qual Patrick Swayze!
À entrada, embora já motivadíssimo, repara nos restantes convivas. Eles, parecendo necessitados da botija de oxigénio, assim que Lionel Richie acabar o primeiro refrão. Elas, com a seringa do botox escondida na mala, onde o iphone tem o número do Personnal Trainer à mão, não vá a noite acabar cedo...
Memórias boas. Springsteen, Adams, Cougar, Fischer Z. O Dj muda o balançao, e entra com Elvis Costello. Ele dá um trago longo no JD ansioso e enche-se de coragem. Olha-a e lembra-se da Madalena. Merda. Começa a imaginar os seu 84 kilos pressionando os dedos dela que, simpaticamente, lhe dirá que não faz mal. Vá. E fica quieto. Prefere não arriscar. Afinal, melhores dias poderão vir. Espera ele. A noite acaba e regressa a casa. Missão do dia seguinte...youtube. Até à próxima festa, onde se encherá de JD e coragem e lhe dirá com o seu extremoso charme "Danças?"

sábado, 8 de outubro de 2011

Matrioskas ou Palhaços?




Um (sim, um dos duzentos que em média são corridos numa hora) dos temas de hoje ao jantar: pessoas "normais". Mas, pergunto eu, há-as?
Como são? O que vestem? O que comem? A que cheiram? Que idioma lhes ouvimos? Não conheço. Mas reconheço o enorme e cada vez mais comprovado grau de ignorância sobre esta espécie. A das pessoas, claro. Mas gostava de conhecer, afinal, eu sou um "people addicted", dizem-me lá do outro lado do Atlântico. Vantagens da virtualidade, digo eu.
Mas voltando à people. A verdade é que quanto mais leio, mais vejo, mais ouço ou mais conheço que raio...não as vejo. É certamente fruto deste olhar turvo, esguio, escuro típico de um mestre que me vem esta incapacidade. O que mais vejo é Matrioskas. Sim, aquelas coisas de madeira cheias de cor, redondinhas, perfeitinhas. Com umas dentro de outras, cada uma menor que a outra. Começam grandes, nobres, imponentes. Perfeitas, diria. Aos poucos, abre-se a coisa e, surpresa, vem outra. Parece igual, mas não é. É mais pequena. Menos nobre, menos imponente, menos perfeita. E outra, e outra, e outra. Acaba minúsculazinha, uma pequena aproximação e aspiração da outra, a grande. A que se apresenta primeiro. O problema está no abrir, já alguém disse. Sobre as pessoas.
Mas vejo também o Palhaço em cada um de nós. Veste-se a rigor, ensaia as palavras, as quedas, as partidas, os risos, a expectativa do aplauso. O desejo do aplauso. Mas depois, lá no canto, bem no cantinho, olha-se ao espelho e pensa. Mas afinal, sou um palhaço ou quê?
Ouço a "normalidade" e rio. Interiormente, que exteriormente o Canal Parlamento leva-me os sorrisos todos. Rio, porque, se exceptuarmos a morte, a morte crua, dura e áspera, tudo o resto é uma enorme vontade de rir. As pseudo-crenças, as fantasiadas ilusões, as problemáticas necessidades de afecto, os actos premeditados falhados, os enganos nas avaliações de carácter. Enfim, uma risada completa. Bem, pensado e reflectido (acto aconselhável na companhia do John D.), dá tudo uma enorme vontade de rir. Tal é o ridículo.

Pai

Em época de Nobel, lembro-me de ti. E dou-te o prémio.
Fazes anos hoje. 72 ou 73. Dúvida de filho desnaturado. Devia ser, vai ser, um dia bom.
Neste dia, vêm-me à memória os mais românticos sentidos de uma vida. Sem saberes, és um romântico. Acreditas hoje, com a mesma força e energia com que acreditavas quando, há trinta anos atrás, refizeste toda uma vida. É neste dia que me chegam aos lábios palavras como solidariedade, trabalho, justiça, honra, respeito. Aprendi-as todas contigo, nesta viagem cheia de entradas e saídas numa via rápida cheia de obras imprevistas. Tomara eu que, como tu, as praticasse todos os dias. És assim como a Força Tranquila que Séguéla inventou para Miterrand. Uma vida de trabalho intenso, contínuo. De muita luta. Um companheiro incansável, um conselheiro lúcido, um homem cheio de amor. Não te envergonhas no choro, não hesitas no sorriso. Tens orgulho no afecto, e gostas do afecto. És assim uma espécie de seguro de vida da eterna tranquilidade. Falava-se ontem de como deve ser difícil ser filho de pais brilhantes. No meu caso, é fácil. E é a melhor sensação do Mundo. Esta de me lembrar de ti.
Assim que acordar, vou-te dar um abraço. Parabéns Pai.