terça-feira, 31 de maio de 2011

tranquilidade

Simplicidade, tranquilidade. Deixar o dia acordar normal, seguir as horas calmamente, desfrutando do seu sol, do seu tempo, dos seus lugares. Dizer as palavras normais e rotineiras, sentir os gestos puros e dedicados. Sorrir, abraçar e elogiar. Contemplar, usufruir e descansar. Jantar uma massa preparada com a simplicidade dos gestos, acompanhada do vinho tinto comprado ao acaso, mas que sabe sempre como o melhor. Saborear o jantar na companhia desejada e que nos deseja, seguido do relaxamento merecido de final do dia, falando dos pequenos heróis com que nos cruzámos, as boas histórias que nos foram contadas, e perpectivando o dia a seguir. Calmo, sem conflito, tranquilo e saboroso. Porque é o melhor que a vida nos traz. A cada um de nós. Simplicidade e tranquilidade.

domingo, 29 de maio de 2011

"A melhor estória, é a estória não contada"


Adele - Someone Like You (BRIT Awards 2011) por javierlobe
Há estórias assim.
De amor profundo. De entrega, encontro, dedicação. Daquelas estórias que apneas se imaginam, ou leiem. Ou sonham. Estórias de gente com caminhos descruzados, passados cheios de céus carregados, vontades por concretizar, tranquilidades por alcançar. Há estórias em que esta gente se encontra. E quando se encontram, o caminho não lhes é fácil. Parece constantemente não merecedores de luz. O destino dá-lhes fugazmente o que lhes devia ser eterno. Consomem-se, entregam-se, completam-se. Distraem-se. Mas lá se encontram, e se juram eternamente juntos. Já pouco afectos a palavras vãs, acreditam nos olhares que se fixam, nos silêncios que se perduram no tempo certo, nas salas cheias de sons ausentes. Mais do que no acessório, vivem no essencial que os alimente. A vida corre-lhes todos os dias ao sabor de um tempo que parece não passar. Olham para a rua, e vêem sempre o mesmo sol, a mesma luz, o mesmo horizonte. Nestas estórias, o coração tolda-lhes a razão. Ou não. Depende dos corações, sobretudo, depende das razões. A estória tem um bom caminho inicial, sobretudo porque não foi procurada exasperadamente. Nada se questiona, nada se premedita, em tudo se acredita. Em tudo. E como são raras estas estórias, têm vida curta. São estórias boas demais para serem de pertença única. Ou são vividas por todos, ou todos a desacreditam. O muito citado Goethe insistia em dizer que “a melhor estória, é a estória não contada”. Depois de contada, passa para um espaço público polvilhado de rancor, inveja, cobiça. E maldade. Que a aniquila. Ninguém tem o direito a uma estória melhor. Ou a temos todos, ou ninguém a tem. Para sempre. Má hora, a hora em que esta foi contada.

terça-feira, 24 de maio de 2011

encontro.

O reinicio de um caminho. De um destino procurado e confuso. Até um dia. Aquele dia. No lugar da esperança, dois olhares cruzados, distâncias respeitadas, espaços partilhados. Dois destinos. Duas vidas. Passados de luta e ansiedades que desesperavam, e futuros sonhados. Pensamentos julgados irreais, que se tornaram vida. Dois estranhos tornados amigos. Nos sorrisos, nas ironias, nos almoços imprevistos e nos cigarros partilhados com milhares e milhares de palavras. Contos e estórias. Duas vozes cruzadas pela primeira vez, com sensação de que se ouviam desde sempre. Procura, desejo, encontro. Tranquilidade. Liberdade. A sensação quente do encontro enfim acontecido, embora já não procurado. Assim, da forma menos pensada e premeditada possível. A melhor. Dois olhares confiados, crentes num futuro que não acabava. Do horizonte agarrado. Tocado. Sublimes sensações vividas. Cheias de toques jamais imaginados, sabores desconhecidos e palavras que desfilavam ao sabor do vento forte de Norte. Um sentir sem saber, viver sem acabar. Puro êxtase da partilha. Assim foi, faz dois anos. O resto...bem o resto é espuma difusa dos dias. Não me merecem palavras. Já não.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

máscara


"...Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime."
Tabacaria - Fernando Pessoa

let's do it then!

sábado, 21 de maio de 2011

erro

Opiniões. Todos as têm, muitos as dão. Certas e erradas. Razoáveis e sem sentido. Esperadas e inesperadas. Assertivas e duvidosas. Experimentadas ou emocionais. Todos, sem excepção têm. Nos momentos confusos, perturbados, turvados por uma espuma dos dias que teima em ser azeda, conflituosa, áspera, ingrata. É nesses momentos que a mais importante opinião dever ser ouvida. Pedida. Perante uma história intensa, forte, sincera, profunda e pura existe hesitação, medo, angústia, desespero e mentira. Será mesmo possível que tenha sido o mesmo caminho apontado? E se sim, é verdadeiro? E se sim, que fazer quando percebermos que cometemos o maior erro da nossa vida? Aquele sobre quem o erro é cometido tem um tempo e um limite interior para entender, desculpar, racionalizar sobre a acção. Tempo esse que acaba.

Mulher Coragem

És uma menina grande. Muito grande. Já viveste muitas emoções na tua vida. Casaste bem longe, construíste uma vida, foste mãe. Praticamente a meio da tua vida, muniste-te de todas as forças, agarras-te nos teus dois filhos e atravessaste o mar e aqui regressaste, onde nasceras. Aguardas-te que o teu marido, o teu primeiro e único companheiro viesse. Tinha ficado na vã tentaiva de algumas coisas assegurar para o futuro dos quatro. Em vão. Mas veio, e cheios de uma energia e uma força interior absolutamente extraordinárias, construíram tudo de novo. Mesmo tudo. Sempre juntos, sempre companheiros, sempre fiéis. Há algum tempo que te vês obrigada a partilhar a tua vida, o teu companheiro, tua família, com um novo companheiro. Daqueles maus companheiros, espécie de pretendente obssessivo-complusivo. Todos os dias, sem excepção, te faz lembrar que aqui está. E para ficar. Com o teu sorriso incomparável, a tua natural boa disposição e um coração incrível, lá lhe vais explicando, também todos os dias, que ele não é bem vindo. Por mais absurdo que pareça, onde estás é sempre a mais bem disposta. A mais positiva, a mais bonita, a mais alegre, a mais crente. É o que nos dizes todos os dias, nessa tua inocência doce de uma Mulher crescida. No fundo, és o que foste a vida toda. Uma Mulher de CORAGEM.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Como na vida, a habitual escolha entre Ben-U-Ron's e Zythromax's Pedro e José - which one?


A vida (pelo menos a que vejo neste olhar limitado) contém, muitas vezes, a luta diária entre os Ben-U-Ron's e os Zythromax's. Os Ben-U-Ron's são os simpáticos, os companheiros fiéis ao longo de uma vida. Aqueles a quem damos importância eterna, e que ali estão. Sempre disponíveis. Educados, tranquilos, inofensivos, chegam-nos apenas mediante a nossa chamada. Não são invasivos. Não provocam danos colaterais, não desvendam outras maleitas que julgávamos inexistentes. Só que, a tal vida, traz-nos sempre outros momentos. Momentos para os quais os Ben-U-Ron's são, manifestamente, insuficientes. Quando a maleita é prolongada e forte, quando a tranquilidade já é confundida com falta de adrenalina, quando queremos que o Ben-U-Ron seja mais que uma simples companhia. É neste momento que, talvez em desespero, recorremos aos Zythromax's. Estes são eficientes, em pouco tempo garantem a eficácia absoluta. Mediante a adequada receita, usamo-los, deles beneficiamos. Com controle, funcionam na perfeição. O problema é que facilmente nos descontrolamos. Usamos e abusamos, tentando reparar o mal o mais rápido possível, com sofreguidão, até à exaustão quase. A dor é tanta, que tomamos doses abusivas dos Zythromax's. E traz-nos os tais danos colaterais. Usamo-los tempo demais, e trazem-nos problemas ainda maiores que os anteriores. Ou outros, pelo menos. Tornam-se desagradáveis, fazem-nos mal, quase nos provocam a náusea interior só de os olharmos. E despachamo-los. Cortamos-lhes as lamelas, esmagamo-los e lixo com eles. Até á próxima dor. Têm um tempo limitado, porque são uns limitados. Desconhecem que o exagero das suas composições, acabam por ser a sua maior imperfeição. Lá recorremos de novo aos Ben-U-Ron's e, pontualmente, uma pequena dose de Zythromax's para acalmar a ânsia. Portugal faz um pouco ao contrário. Tem à sua disposição um simples Ben-U-Ron que, com calma e tempo, talvez os ajudasse na cura dos seus maiores males. Porém, tornou-se tão dependente do Zythormax que, ao que parece, não o consegue largar. Corre, assim, o maior risco de todos. Tornar-se igual a ele. Ao Zythromax. E aí, nessa altura, já não haverá Ben-U-Ron que lhe valha..

quinta-feira, 19 de maio de 2011

caminho.

Desespero, angústia, solidão, tristeza. Tudo nos acompanha neste caminho que, ao mesmo tempo, nos soa a curto e longo, rápido e demorado, forte e fraco, feliz e infeliz. Um caminho que é atravessado por constantes lutas, dificuldades, incompreensões, infidelidades, traições, perdas, desilusões. Vida adulta que não aprende nunca. Passam as horas, os dias, os anos, e o tempo que falta pode ser sempre o melhor que chega, o pior do qual mais nos arrependemos. É um caminho injusto. Tanto nos dá tarde o que cedo deveria ser nosso, ou cedo demais o que só lá para a frente deveria chegar. Postos perante constantes provas e desafios, dúvidas e angústias. Gente que passa sem rosto, sem forma. É um caminho tantas vezes inerte, completamente ausente de forma e conteúdo, cheio de imensos nadas. É neste caminho que só a esperança nos pode valer. Acreditar que o destino bom chegará em breve a um caminho tão mau. Acreditar que a nossa voz, o nosso verbo, a nossa vontade, ganharão forma de vida. Ganharão caminho. Bastará tentar amanhecer vestido de branco, não desistir quando todos dormem, ganhar luz. Limpar com um pano de cetim as asas que nos fazem voar, vermos um rosto novo no espelho, ponderar e avançar. Agarrar na única coisa que nos resta, a esperança do que somos. Já é muito. E não, não é um vão combate. É o caminho.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Inteligência Emocional?


A Vida e a Inteligência Emocional
Aviso já. É longo, pessoal, chato e coitadinho.
Convencido do profundo conhecimento sobre a mesma, desato a toda a hora (não toda, mas grande parte do tempo útil), nesta constante interrogação sobre a vida. O que nos move, porque nos move, como nos movemos e, sobretudo, como a vivemos, cada um de nós. Tentativa constantemente frustrada, obviamente, mas ainda assim persisto na tentativa. Dizem-se ser persistente. Seja então.
Desde cedo me convenci que olhava de forma diferente para...digamos...o Mundo, vá. Olhava para ele e procurava sempre o que estava...atrás. E assim em tudo. Interpreto cada olhar, tento perceber o contrário de cada palavra, o porquê de cada acto. Uma canseira. É uma cruz. Esta que carrego. Senão, vejamos. Dizem-se ser, para além de persistente, possuidor da tal Inteligência Emocional. Recorro ao google e leio que é a capacidade de perceber os próprios sentimentos e os sentimentos dos outros. Eu?? Bom, se assim é, e porque reconheço mais inteligência, mais experiência e mais saber em quem mo disse, acredito. Falta-me, contudo, alguma dessa Inteligência Emocional. Hoje. Hoje falta. Envolvido brutalmente num enredo kafkiano nos últimos tempos, certamente também por culpa própria, lá ando há 8 meses a tentar interpretar os tais porquês. Explico porquê. Quer dizer que, há este tempo atrás era uma espécie de Dono do Mundo. Para além das inúmeras qualidades já referidas, entrava numa nova fase da minha vida profissional. Convidado e contratado para, diria, o emprego de uma vida. Bem recebido, apreciado, bajulado até, pasme-se. Porém, surge um episódio que, em 3 dias, mudou tudo isto. Alguém que ninguém conhece ou sabe quem é, escreveu o que ninguém sabia ser verdade. Absorvido da minha Inteligência Emocional ao tempo, convenci-me do que ouço hoje ser a resposta óbvia de toda a gente. "Eh pá, não dês importância, o que tu és ultrapassa qualquer boato que queiram construir." Erro. Num ápice, um conjunto de gente tomou interiormente as suas decisões. Aliado a outro conjunto de gente que as comunicou exteriormente. O tal génio, inteligente, bondoso, persistente, foi convidado a abdicar daquilo que, aliás, nunca procurou. Mas que, por azar, passara a apreciar. Passam-se meses e meses, horas e horas perdidas, gente e gente desencontrada. Tempo e afectos perdidos. Caminhos destruídos, vontades eliminadas, devoções eternas no lixo. Escrevi bem, no lixo. Pois bem, imbuído das enormes e brilhantes capacidades de que sou possuidor, lá continuei. Interpretando a vida. Ora bem, hoje sou bruscamente interrompido na interpretação, informando-me que tudo estava agora esclarecido, desculpas apresentadas, devoções devolvidas, verdades repostas. Que era uma questão de honra e ética empresarial e profissional remediar tudo isto. O que me deixa com a interrogação de sempre. Existe Inteligência Emocional que consiga interpretar esta Vida? Acredito que exista. Eu é que, certamente, não a tenho.

um simples telefonema, fez-me lembrar...

Carta ao Joãozinho (recuperada de um antigo pasquim)
“Olá meu querido sobrinho. Tens sido companheiro do Tio ao longo destes últimos anos da minha vida. Tens sido o melhor companheiro que poderia desejar. Tens, já te disse, aquela luz especial, luz essa que te fará brilhar mais que os outros. Não entendas por estas palavras que serás melhor que os outros. Serás diferente. Terás alma. E isso, meu querido, não tem valor. É preciso que saibas que essa luz não te trará mais dinheiro, mais fama, mais sucesso. Não te trará as mulheres que fores amando. Far-te-á não amar algumas que te amem. Não te trará mais ou melhores amigos. Vai trazer-te desilusão. Muita desilusão. Frustração, impotência, angústia, solidão. Não te trará a felicidade eterna. Não existe essa felicidade. Mas vai trazer-te muita coisa. Os que te amam, amar-te-ão sem limite, regra ou medida. Vais ter uma alma livre. Sem correntes sem sentido, sem obediências cegas e absurdas, sem caminhos traçados. Essa tua luz vai fazer-te viajar. Pelas vidas de quem te encontrar, pelos corações de quem te amar, pelos lugares onde o destino te levar. Vais perceber que serás muitas vezes incompreendido. Chamar-te-ão sonhador, romântico, tonto até. Dir-te-ão que vives na Lua, que deverás assentar os pés na terra. Não os ouças. Segue e continua a dançar. Só. Quando deres, não vais esperar em troca. Porque darás sem limite, regra ou pedido. Também aqui te estranharão. Dir-te-ão que ou não existes, ou és falso. Não os condenes. É que essa tua luz torva-lhes a visão. Vais aprender o valor do tempo. Não viverás do imediato. Sonharás com o que está para vir. Sabe desde já que concretizarás uma ínfima parte dos teus sonhos. Porque é assim a vida, dá e tira. Tira mais do que dá. Mas saberás valorizar tudo o que terás. Muitas vezes pensarás nos sonhos que não concretizas. Mas pensarás mais ainda nos que ainda irás concretizar. Viverás na dúvida de saber qual a medida do amor. Concluirás que não tem medida. Encontrarás quem te ame assim. Porque existe sempre essa luz. A luz que tu tens.”

domingo, 15 de maio de 2011

Pares.

Desde Adão e Eva, que permanece a dúvida. Como se forma o bom par?
Há-os de todo o gosto e feitio.
Aqueles que, desde miúdos, prometem amor eterno. E resulta. Desde muito cedo, encontram-se nos hábitos, conciliam-se nas diferenças. Partilham alegrias e tristezas, sempre construindo o sonho de juntos prosseguirem. Livres de dúvidas, sujeitos e tentações, claro, todos estão. Mas lá resistem, e mantêm-se a par. Tiveram a sorte de um encontro inicial. Muitos dirão que já não existem estes pares. Talvez, mas se existirem, é bom.
Depois aqueles que, por mais tentativas que façam, erram sempre. São os "felizes por uma semana" de Goethe. Projectam no "outro" o que gostariam que tivesse. Ou aquilo que procuram incessantemente. Encontram muitos, por pouco tempo. Vivem intensamente cada minuto, onde aliam o êxtase do ter, com a ansiedade da perca que sabem ser para breve.
Existem ainda os que se encontram ocasionalmente. Quando já não procuravam, quando, aliás, se achavam não merecedores de encontrar. Essa improbabilidade do encontro é o seu valor maior. E o menor, por vezes.
Maior, por que têm, naquele momento agora chegado a possibilidade de dar uma chance a si próprios. Acreditam, agora, nas milhares de palavras escritas, nas centenas e centenas de músicas ouvidas em silêncio, enquanto imaginavam. Projectavam nos seus quartos escuros, uma luz breve na parede e construiam o seu "par". A cor dos olhos, a força do abraço, o som das suas palavras, o sabor do seu beijo. E vivem apaixonados. Encontram-se, enfim. Sentem tranquilos, leves, donos do Mundo. Do seu Mundo que julgavam perdido. E distraem-se. Porque um caminho não preparado, traz sempre o imprevisto. A qualquer momento chegam as mágoas passadas vividas então, os medos que julgavam já afastados, um futuro não preparado, mas que se exige o mais preparado possível.
Enfim, gosto de pares. De os ver, observar, perceber as suas cumplicidades, os seus silêncios. Os seus sorrisos. Conheço muitos, e bons. Sei hoje de um novo par. Sei que será bom e feliz. Nela, está a tranquilidade doce dos anjos, a sabedoria da experiência vivida na troca do amor, a capacidade inesgotável de entregar. Nele...bem nele, está o que ela precisa. E procura, sem saber. E ainda bem. Que os veja sorrir, sorrir muito.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

24 horas de "Verdade"


Como um puto que espreita o proibido, lá espreitei. A Verdade. Ontem, conversa de quase duas horas. Hoje, novamente a Verdade e conversa de uma hora. Ou seja, em 24 horas, 3 dedicadas a falar sobre a Verdade. Das restantes 21, 4 passadas a dormir, sonhando com a Verdade. Sobram assim 17 horas. Dessas 17 retiro 2 horas, para ir buscar o Miguel à escola e jogarmos à bola. Quer dizer, ele jogar e eu assistir, basicamente. Sobram então 15. Dessas 15, duas passadas a almoçar e jantar (onde a Verdade, sempre a Verdade, aparece). Já vou nas 13 horas. A essas gloriosas 13, retiro mais duas, passadas a ver a nova temporada do American Idol (com Steven Tyler fabuloso e a J-Lo sempre “de ver”), seguido do Parenthood que, apesar de não constar da lista de séries do Primeiro-Ministro menos verdadeiro da nossa história, eu gosto. Gosto mesmo. É que, ali na série da tv, os pais enganam-se, os filhos erram, os namorados têm conflitos. Mas lá se entendem, todos. É o meu lado Mary Poppins, pronto. Ora bem, já vou nas 11 horas. Retiro mais uma a ver Sócrates e Louçã na tv. Outro momento cheio de Verdade, portanto. E desses, eu não abdico. Chego, portanto, às 10 horas. Nessas 10 horas, muitas de trabalho, lá me cruzo outra vez com a Verdade. Irra! A Verdade do cliente que já fez a transferência. Ele fez. Eu é que não recebi. Depois o outro. O ex-cliente que, de acordo com a sua Verdade, passou a ex. Mas que agora, encontrada outra Verdade, quer passar a ser um ex-ex. Complicado. Com este, foram duas horas. Mas de emails, vá lá, menos chato. Tenho ainda tempo para reflectir sobre uma outra Verdade. Aquela que mais me afecta. É então que tiro a única conclusão útil destas 24 horas. A Verdade (no seu sentido puro e literal), tem dias. Ou, citando Eça, que escolhia palavras mais adequadas, a “Verdade é uma boa merda semântica”.

luz


"...naquela manhã em que o Sol aquece o Rio, Francisco está estático. Inerte, imóvel, triste. Lembra-se que só aqueles candeeiros envelhecidos pela frieza do rios, foram testemunhas do seu tempo, iluminado pela ténue luz laranja. Sim, realiza hoje como era ténue aquela luz. Observa aquela figura que, ávido, toca a campaínha e acena como o adolescente apaixonado e entra, subindo aqueles cem degraus que ele tantas vezes subira, pensando ser o caminho doce para o seu destino..."

quarta-feira, 11 de maio de 2011

sorriso


Quando perguntaram a Cyrano de Bérgerac porque razão ajudava a sua amada a encontrar a felicidade num outro homem, respondia “...porque o sorriso dela me enche o coração..”.
Para alguns trata-se de pura tontice. Para outros masoquismo. Para um romantico tonto é pura afeição. Sem pedir troca. Sem cobrar. Sem julgar. É o respeito máximo pelo outro. É um puro estado de alma. Limpo. Sem juízo de valor. É sentir o sabor de um beijo que não é dado. A sensação de ter sem nunca ter tido. É, sobretudo, viver o momento de um desejo imaginado. É o sabor de querer bem, sem ser querido. É perceber que não foi o nosso tempo. Que não vai ser nunca mais. É, no fundo, saborear o teu sorriso. Contaram-me hoje como brilhava o teu sorriso. Por isso, para que saibas, basta-me o teu sorriso. Já me enche o coração.

chateado com o raio do tempo


Chateia-me este tempo que já não tenho. Que já não temos. Ciclo injusto este que a vida nos obriga a viver. Não podemos voltar atrás. Retomar, repensar, recuperar. Se pudesse embarcava nesse regresso ao passado e levava comigo a lucidez que então me faltou. Juntava as letras de hoje e construía as palavras que não disse então. Diria o que faltou dizer. Faria o que não tive coragem de fazer e mudava o que não consegui mudar nesse tempo. Ainda hoje, e agora de regresso a este presente perdido, acredito que o coração me trai vezes demais. Sou um gajo feito de coração. Chateia-me que as nossas palavras já não se cruzem. Chateia-me que pura afeição se tenha perdido no tempo. Neste tempo que já não tenho. E que me chateia.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

NÃO.

alma.


"É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!
É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!
É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!
É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!
É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."

F.Pessoa

domingo, 8 de maio de 2011

Happy Family Frost


Um dia aquela carrinha da Family Frost parou, sossegou e pensou. Durante tantos anos, apesar de saber que tinha consigo as mais deliciosas doçuras, tinha sido constantemente denegrida, trocada, esquecida. Mal tratada e igonorada. O seu cliente preferido era assim que a tratava. Gostava muito de gelados, menos dos seus. Elogiava todos os doces que encontrasse, excepto os seus. E assim foi durante anos. Começava a sentir-se menos doce, menos possuidora de encanto, de delícia. Foi então que, após frustadas viagens por terras que não dominava, afastando todos os clientes que dele ase aproximassem, que a carrinha encontrou um novo cliente. E, com esse novo cliente, ganhou anos de vida. Pintura nova, novos sabores, circulava com a alegria que nunca lhe havia sido vista, passava por cada nova terra, novos clientes com orgulho. Sentia-se a carrinha Family Frost mais bonita do Mundo. E tudo por causa daquele cliente. Pensava hoje, que aquele era, de facto, o cliente mais improvável do Mundo, que chegou um dia, meio perdido, já esquecido daqueles sabores. Na verdade, ela sentia que eram sabores que nunca ele havia experimentado. No entanto, esta carrinha, depois dos anos e anos sem vender um único gelado, sabia que era, hoje, uma carrinha assim meio fragilizada. E então, cada elogio de novo cleinte, cada nova compra, cada novo sabor que lhe era elogiado, sabia-lhe a tudo. Sabia-lhe bem, muito bem. Afinal, sabia que os merecia há muitos anos atrás. E começou a sentir-se desconfortável com o cliente novo. Apesar de a ajudar a arrumar os gelados e a seleccionar quais os melhores para vender em cada dia, ela sentia-se abafada. Queria saber da sua existência, mas que a visitasse apenas de quando em vez. Habituara-se a um espaço só seu, e a poder responder e vender os novos sabores que entendesse, quando entendesse, e a quem entendesse. Afinal, se a elogiavam, porque náo saberia bem? E entao, hoje, estacionada junto ao rio onde descansada, lembra-se do seu cliente que lhe trouxe de novo o sorriso. E de nada se lembra. Absolutamente nada. E arranja-se, passa o lustro na sua nova pintura e parte. Distribuindo sabor. Feliz.

strange life


Vida estranha. A da maioria de nós. Como é possível viver uma vida cheia e vazia ao mesmo tempo. Acompanhada e tão só. Alegre e tão triste. Cheia de certezas, mas constantemente assaltada de dúvidas. Planeada nos sonhos e destruída na realidade. Convicta nos ideais e tão falível nas acções. Alicerçada em fidelidades, porém imensamente infiel. Rodeada de sons, mas cheia de imensos silêncios incómodos. Com tantos caminhos percorridos, para chegar sempre ao mesmo ponto. Escolhas bem pensadas, com resultados falhados. Verdades coxas, abafadas por mentiras que voam. Tanta porta aberta, tanta ainda por fechar. Vida atraiçoada por destinos que nos amarram. Manhãs cinzentas que nos lembram olhares nunca mais vistos. Sorrisos que encantam quando próximos e angustiam quando tão longe. Vida estranha.

sábado, 7 de maio de 2011

Truth.


“Deus traçou o caminho de cada um: o voo do falcão não é igual ao do cisne, mas isso pouco importa, desde que cada um sirva a verdade e a justiça.”
(Tolstoi)

Sejamos nós Falcões ou Cisnes, tentamos, espero eu, um caminho de verdade. Desde cedo lá hesitamos entre o voo aguçado perante a presa, ou o caminhar suave e tranquilo pela vida. Com o destino já traçado, tomamos decisões. Achamos que, dessa forma, mudaremos e faremos o nosso destino. Doce ingenuidade a nossa. Somos o que no fim fizémos. Olharemos para trás, cada um de nós, e aí e só aí saberemos a resposta. Fui mais Falcão ou mais Cisne? Escolhi caminhos tranquilos, logo por princípio, mais verdadeiros. Ou optei sempre pela confrontação, a vitória sobre o outro, a minha felicidade construída sobre a sua triste derrota? Procuraremos todos a Verdade, acredito. A nossa. A de cada um. Aquela que julgamos fazer parte de um caminho que, premeditamente, vamos construíndo. Através de escolhas, negações, opções que fazemos. Julgamo-nos a maior parte das vezes certos, e erramos pouco. Nós, não os outros. Fazemos livres e público julgamentos sobre verdades que construímos, visando a ultrapassagem interior dos nossos erros. Mandamos o erro para o outro lado da barricada, sabendo-o inocente, indefeso, exposto. Do lado onde deveríamos estar, aliás. E porquê? Porque temos a certeza do nosso destino. Um certeza absoluta que a verdade está do nosso lado. Porque voamos como um Falcão, e temos uma visão ampla do ontem, do agora e do amanhã. O Cisne, esse coitado é mais lento, tem uma visão reduzida. Esquecemo-nos da sua vantagem. É incapaz de nos aniquilar. Pelo menos nisso, é mais puro. E mais verdadeiro.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Kindness.


“...e, assim, só se chamarão bons os de coração recto, os não flexíveis, os insubmissos, os melhores. Reinvindicarão a bondade apodrecida por tanta baixeza, serão o braço da vida e os ricos de espírito. E deles, só deles, será o reino da terra...”
Pablo Neruda - “Nasci para nascer”

Bondade implica a disposição natural para o bem. Dezenas e dezenas de poetas já a escreveram, dezenas e dezenas de artistas já a cantaram. Nascerá com todos, certamente. Ao longo dos tempos, foi o Homem e só ele quem a usou. De quem dela abusou. Já foi usada, é usada, por uns e por outros. Os que se acham detentores da mesma, e os que acham que a mesma faz parte de si. Pode ser usada por uns, para reivindicar o que é de outros. Fossemos todos mais rectos, menos insubmissos. Mais ricos de espírito. E seríamos, todos e a toda a hora, possuidores de bondade. Mas nascemos, crescemos e somos criaturas imperfeitas. Todos nós. Os bons e os maus. Aspirar a sermos os primeiros, deverá ser o nosso devir. Que poucas vezes, ou vez nenhuma sejamos os segundos. Que de nós possam dizer que sim, ele tenta e é, a maior parte do tempo, bom. Já não será mau. O contrário é angustiante. Angustiante.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

horizonte


O velho, cansado e já vencido pela vida, senta-se no seu banco de jardim de sempre. Gosta de ali repousar, junto àqueles dois nomes escritos a custo nas costas do banco. Todos os dias, numa luta constante pelo não esquecimento da sua companheira de uma vida, ali vai. Senta-se, retira o seu velho e gasto caderno, a sua caneta oferecida por ela nos seus 45 anos de casados, e escreve. Tudo o que vê e sente. Os carros que passam cheios de faces inanimadas logo pela manhã. Casais que não se olham, não se falam, não respiram. Ansiosos por mais um dia ofegante e corrido, mas sem causa, sem sentido, sem procura. Retira-se para almoçar no restaurante de sempre, e pede sempre o prato preferido dela. Sente-a presente. Sentada, ali na sua frente. Tem uma conversa imaginária, falam dos seus sonhos, dos casamentos dos seus dois filhos, dos rostos fortes e corajosos dos netos, acabados de nascer. Falam das festas de final de curso, dos infindáveis natais, aniversários. Das Páscoas passadas em aldeia longínqua, onde caminhos de flores construídos na rua, davam as boas-vindas ao Padre Américo. Caminha junto ao seu Tejo. O Tejo que tantas vezes os viu passar, olhara-os com esperança, com ternura, com alegria. Nas tardes solarengas, ou nas noites soturnas, era o Tejo quem lhes fazia a melhor companhia. Os três eram testemunhas do seu amor eterno. Depois da caminhada, acomoda-se de novo no seu banco. Observa o cão que tudo cheira na procura do seu refúgio, a criança que, embalada no colo da jovem mãe, adormece ao som da rua. Lembra-se do que lhe dizia a sua companheira, nas primeiras noites dos seus filhos. Lembra-se que o melhor silêncio para os seus meninos adormecerem, era silêncio algum. Gostavam de sons. Todos. É quase noite, e os carros fazem o caminho de volta. Anota de novo as mesmas faces, os mesmos silêncios aterradores, as mesmas angústias. No meio de uma multidão absorta que caminha de regresso a casa, aquele jovem casal chama-lhe a atenção. Passeiam longamente junto ao rio. Neles, não falta a palavra, parecem dois meninos que, chegados da escola no primeiro dia, só têm histórias para contar. Interrompem o verbo apenas para se beijarem. É uma bela imagem esta que ele agora capta. Ao fundo, passa o cacilheiro, com o recorte do horizonte laranja. Lembra-se do que lhe dizia o seu amor de sempre. Dizia-lhe que o seu maior defeito e a sua maior angústia seria essa mesmo. A da procura incessante, dolorosa e desarmante pelo horizonte. Pois é. Apercebe-se.

terça-feira, 3 de maio de 2011

meu Norte...

Memória do que somos

"À calúnia responde com o silêncio, diminuindo-a. À indiferença responde com a palavra, provocando-a. Ao ódio responde com nada, um absoluto e convicto nada." M. Gandhi
Dito por Gandhi, soa bem. Vivido por qualquer um de nós, sabe mal. Muito, muito mal. Qual o ser humano que aguenta dias e dias a fio, meses e meses seguidos, viver sob estes três factores: Calúnia, Indiferença, Ódio. Na verdade, ser humano algum julga algum dia poder ser alvo de um ódio tal que o destrua, que o consuma a tal ponto de errar, claro. Se contado, todos teremos certamente as melhores decisões. Contado, todos teremos as melhores atitudes. Contado, seremos sempre controlados, serenos, tranquilos e ponderados. E vivido? Manteremos todos estas virtudes? Talvez alguns o consigam, talvez. O que me parece, sinceramente, é que ninguém que tenha um determinado perfil na partilha, na amizade, na solidariedade consegue o controlo absoluto. É que a maior das indignações não está no espaço público, está numa vivência interior. E essa, é incontrolável. Ora, o ódio, infelizmente, gera a calúnia. A calúnia vive de duas coisas. De quem a faz. E de quem nela acredita. E quanto a isto, mais uma vez, nada a fazer. Talvez o silêncio, como aconselhado. Talvez. Quantos o fariam? Não conheço ninguém. Ninguém. Depois a indiferença. A indiferença surge por várias razões. Por completo alheio social e solidário para a qual caminhamos todos. E de razões pessoais. E, nas razões pessoais, a indiferença surge como o mais perfeito subterfúgio para a nossa fraqueza. Escondemo-la, sendo indiferentes. Com a nossa indiferença, tornamos o outro o alvo. O detentor dos defeitos, o pior dos seres humanos. Se não o fizéssemos, seríamos nós o observado. E isso é, de todo, absolutamente escusado. Temos pois, que, perante a frase do Gandhi, resta-nos lê-la, interpretá-la, elogiá-la e citá-la. Mas vivê-la?

Pedrinho e Zézinho - Carta da minha avó aos Mestres do Engano


Pedrinho e Zézinho.
A carta que vos escrevo, á revelia do Prof. Eduardo Catroga, é o meu pensamento mais profundo acerca do que espero de vós. E o que espero está bem longe do que o menino Pedrinho julga ver respondido pelo seu grupo extenso de economistas, empresários, especialistas. E está ainda mais longe da falta de pudor do menino Zézinho que, em plena comemoração do dia da Liberdade, e num dos fins-de-semana mais tristes que este País tenha memória, o menino resolveu passá-lo no recanto de um Hotel de Luxo. Despudor, falata de vergonha e criancice, calculo. Só as crianças actuam em confrontação com o Mundo, esperando o seu reconhecimento. Só elas embirram, birram e rebirram, quando o outro menino não diz o que eu quero que ele diga, ou não faz o que eu quero que ele faça. Hoje ouvi uma expressão que, infelizmente, se aplica aos meninos. Têm sido, uns verdadeiros Mestres Do Engano. O menino Zézinho, porque cria, fabrica e efabula sobre um outro Mundo, que não este. Este, ressalvo, que o menino criou. E o Mundo que o menino criou é um Mundo de mentira, usurpação de poderes, premiação do compadrio e desonestidade, poder pela força da economia e, pior de tudo, total insensibilidade social. É que o menino, resguardando-se em palavras grossas sobre o “estado social” é o mesmo que premiou, por exemplo, um alto quadro de uma empresa onde tem participação, totalmente sem curriculo para tal, envolvido nas maiores vergonhas e desonestidades laborais e empresariais. Esse outro menino, nos últimos 2 anos, foi premiado com 5 milhões de euros. 5 Milhões de euros. Corresponderá a quantos abonos de família ou congelamento de pensões? O menino Pedrinho, pede opiniões ao Mundo, repete-as, contradi-las, nega-as e corrige-as. Decida-se. O que espero de si é decisão. De contradição, engano, mentira, estou e estamos todos cansados. Recomendo-vos o seguinte. Acordem de manhã bem cedinho, apanhem o autocarro para o metropolitano. Depois, apenhem de novo o autocarro. Pelo meio do dia, almocem o jantar requentado do dia anterior, aquecido no micro-ondas. Se o tiverem, senão vai frio mesmo. Ao final do dia, repitam o percurso, vão buscar os meninos à escola, expliquem-lhes que o jantar de hoje, é o mesmo de ontem, acrscentado de mais massa para o dia de amanhã. Contabilizem quantas horas e quanto dinheiro gastaram nesse dia. Depois pensem, peçam opiniões, tomem medidas. Mas sérias, responsáveis, avisadas e com efeitos positivos no futuro. No nosso futuro e no vosso. Sendo que o vosso, se forem crescidinhos, deveria ser decidido por todos nós.

domingo, 1 de maio de 2011

mentes brilhantes

Hoje era assim...

Hoje fazia isto.
Um passeio junto ao Tejo, ao sabor dos ventos de sul a refrescarem-me a pele, pedalando ou andando. Apenas passeando. Depois, um banho retemperador nos 20m2 mais aconchegantes da minha vida. De seguida, um aperitivo no restaurante "Estrela", ali já ao fundo do corredor, na 2ª à direita. Neste restaurante, insistentemente na cozinha nunca existem os pratos constantes na lista. Incompetentes, repete sempre a dona do restaurante. A mais assertiva que conheço. Aperitivo tomado, hora de ir espreitar a família Sims. Sim, esses. Aqueles que para dizerem "Olá" emitem um estranho som parecido com "rugbugrugbug". Da cozinha, já me chega o aroma delicioso do jantar. Jantar sempre imprevisto, mas sempre com o melhor sabor. Cozinhado ao som de Caetano Veloso, em posição de Flamingo. O jantar, sempre acompanhado das mais incríveis histórias inventadas, sorrisos contagiantes e risos estridentes, tem como fundo o som sempre alto do Disney Channel. Onde as vozes da dobragem, soam ainda pior que o original, como se isso fosse possível. Findo o jantar, café na varanda virada para um Tejo que, a esta hora, já descansa. Acompanhado de um cigarro. E de uma silhueta doce, elegante e única que é realçada pelas luzes ténues laranjas que saem dos candeeiros que testemunham o momento. No sofá, a audiência está impaciente. Lugares reservados, som bem alto e começa. Magia, pura magia. Hora de deitar, a hora mais incómoda e reclamada do dia. Mas respeitada, sempre respeitada. E depois...bem depois vem o silêncio tranquilo, os sons sempre no tom certo e os gestos. Sempre doces. Sempre bons. Era isto. O que faria, hoje. Bom, bem bom.

Mães ( a minha e as que mais admiro)

"No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas."
Poema à Mãe - Eugénio de Andrade