domingo, 31 de julho de 2011

proud.



A partir de amanhã aqui está o The Printed Blog Portugal.
Um projecto editorial sonhado, pensado e concretizado. Com a ajuda de gente de bem. Feito com as qualidades que melhor se encontram nas mulheres. Sensualidade, Coragem, Audácia, Arrojo e Instinto.
Que seja o primeiro de muitos.

(...)

vou comprar um cão.

sábado, 30 de julho de 2011

Olhos doces e suaves

Volta e meia, certamente motivado pela ausência de lingerie para escolher, dou comigo nos mesmos redondos pensamentos. Comigo são redondos, claro.
Cá vai um. O que eu gostava.
Gostava que o Mundo visto pelo meu olhar fosse mais tranquilo, mais justo, mais bonito. Gostava que fossem meus olhos bem mais bonitos. Dizem que os olhos são o reflexo da alma. Em tempos, um anjo que por cá passou disse-me que os meus olhos eram doces e suaves. Sim, vou repetir, doces e suaves. Outra vez, vá. Doces e suaves. Na lógica da narrativa semiótica da linguagem, sendo os olhos, assim o é a alma. Sendo a alma, sou eu. Doce e suave. Bom, bem bom.
Gostava que M.J. Fox estivesse disponível e passasse por aqui. Dava-me uma boleia até lá atrás. Não muito longe, só um pouco. E, ali chegado, agarrava no belo lápis azul dos tempos idos e emendava. Muito. Emendava muito. Gostava mesmo de poder ter ouvido com outra inteligência, de ter feito com outra sabedoria, de ter previsto com outra responsabilidade. Gostava, no fundo, ter feito tudo com os tais olhos doces e suaves.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Muita Pinta

Cansaço. Correria. Noites sem dormir, manhãs agitadas, tardes que passam rápido e, de novo, noites sem dormir. Correio que só alberga contas para pagar, tempo de férias escolares que obriga a tempo e mais tempo, disponibilidade e mais disponibilidade. Trabalhos feitos, que demoram a serem pagos. Trabalhos presentes que levam todo o tempo do Mundo. Trabalhos futuros, que tardem em chegar. Angústia. Luta e mais luta, baterias recarregadas a cada manhã, brincadeiras de criança que se exigem, casas que teimam em estar desarrumadas, jantares que não aparecem instantaneamente. Correria, sofreguidão, quase desespero. Pouco tempo para ter tempo. Contemplação impossível, relaxamento muito raro, descanso inexistente. Novos afectos presentes vividos com o desejo de futuro. Mas sem tempo. Muito pouco, mas ainda assim vivido. Energias retemperadas, sorrisos regressados, peles brilhantes de novo. E novas inspirações que se reflectem num trabalho perfeito. É pouco o tempo, mas é bem vivido. Só possível de uma forma. Gerindo palavras, negociando silêncios, guardando privacidades. Com pinta. Muita pinta. Perfect.

Cool, qual cool?

Assunção Cristas acha-se Cool. Melhor, o Governo acha-se Cool. Gravatas fora, abraços ao Álvaro, que sai agora de vespa com o menino Pedro, prontos para uma tarde colossal em alta velocidade pelo meio da avenida do camarada Costa, já livre das galinhas e porcos dos melhores produtores nacionais. O ar condicionado à temperatura do juro pornográfico imposto pelos que emprestam a 100, para receber a 125. O ex-secretário-geral deste mundo e do outro, hoje ministro do reino, convive com os seus assessores que um dia insultaram o líder, atirando setas ao alvo que tem, agora, o nome Moodys escarrapachado. Os vizinhos do reino, discutem a semiótica do afecto. Que faz falta, diz um. Que a politica não é um magma de afecto, diz outro. Entre um e outro, várioa escolherão. Os saudosos dos tempos idos, os agora arrependidos, os que só agora reflectem, o inenarrável Lello (esse magnífico representante da Nação socialista), e o deputado-com-fétiche-por-gravadores. Os trotskistas-leninistas-estalinistas saltam, esfusiantes, ao lado dos precários de concerto de verão em concerto de verão, de bilheteira esgotada. Chegado de fora, eis que chega o ministro germânico Gaspar, com a sua pontualidade britânica, manda-os abrir o comunicado na página 1. Onde diz: Juízo. Ter juízo. Sem palavras pelo meio.

(entretanto, O Primeiro Passos e a Ministra Cool nem ouvem, estão distraídos a comer muamba ao som de kizomba...)

os Deuses lêem Maquiavel ou Goethe?

Imagino-os sentados nas suas nuvens, ouvindo Bach assim bem baixinho, enquanto vão trocando umas ideias sobre esta gente que anda aqui por baixo. Certamente ao caso (mão encontro outra razão), escolhem alguns de nós e, qual Maquiavel, vão construindo o caminho. Decidem, por exemplo, colocar-nos no caminho aquilo que consideramos ser o nosso destino encontrado. Depois, pacientemente aguardam que seja bem saboreado e vivido. E depois tiram. Com enredos assustadoramente bem escritos, e histórias brilhantemente enleadas, ele premeditam. Fazem-nos passar por momentos que, de tão marcantes e saborosos, não esquecemos. Locais e hábitos que, por mais indiferentes ou mínimos que possam parecer, nos ficam marcados na pele. Obrigam-nos a aceitar que esses momentos, tempos e locais, em alguma hora, deixarão de ser nossos. Passam a significar tudo e nada, ao mesmo tempo. Até que, um dia, pensando nós ser fruto de um acaso que não existe, ali nos põem. De novo. Obrigam-nos a recordar, a recuperar, a viver as mesmas imagens, cores, sons, movimentos. Que um dia nos marcaram e foram tudo. Resta saber, se regressados a esses locais, o futuro nos reserva Maquiavel ou Goethe, para quem "uma vida marcada por mais do que uma coincidência, passa a ser destino". Venha um ou outro. E siga-se.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

(...)



Um suspiro sem fim. Uma vontade sem controle de ir. Um desejo de agarrar. Abraçar. Beijar. Uma ansiedade não percebida. Um fogo quente e forte que não apaga. Um fazer sem pensar. "be stupid".
uff...

Tricky...

Mas, afinal, Francisco, o que viste assim de tão extraordinário nessa Mulher? O que procuras tu numa mulher?
- Procuro isto. Inteligência. Inteligência para sentir. Para olhar. Para saborear. Para fazer. Para dizer. Para criar. Que o faça como ninguém. Uma inteligência deliciosa de contemplar. Nata e adquirida ao longo do tempo. Com a capacidade para aprender de quem tenha para lhe dar. Com a capacidade para olhar diferente. Com a capacidade para ver o quadro todo e não apenas o detalhe. Com a capacidade para ouvir. Mas sobretudo, com a capacidade para sentir. É isto. Achas difícil?
- Vou pensar..

(...)

"Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam"

Segue o teu destino // Ricardo Reis

segunda-feira, 18 de julho de 2011

a complexa escolha da lingerie - Parte 2

"Levo este", exclamou, entusiasmado pelo sucesso da compra.
"Excelente escolha", respondeu-lhe a empregada, já com os olhos lacrimejantes pela comissão da venda.
"Nesse caso, e porque foi uma excelente escolha, até lhe oferecemos estas caixa em metal, com as letras cravadas em seda. Muitos parabéns mais uma vez, foi muito bem escolhido.", repetia ela num entusiasmo quase orgásmico.
"Paga em cartão ou dinheiro?"
"Cartão por favor", responde ele, enquanto retira o cartão já quase caducado, meio partido, mas ainda vivo.
"Muito bem. São 2600 euros por favor."
"Como?"
"2600 euros por favor."
"Como?"
"2600 euros por favor."
"Mas pareceu-me ter visto 450...", responde, já naquela fase em que o cigarro lhe vem de novo ao pensamento.
"E viu bem. 450 as cuecas. O soutien são 2150."
silêncio. pausa. reflexão.
"Então espere. Ela vai achar demasiado sofisticado. Na verdade eu tinha visto um outro, um momento que volto já."
Dirige-se, ainda assim confiante a um outro conjunto, azul pérola ou petróleo. Sempre confundiu ambas as riquezas. Verificou demoradamente todas as possíveis e imagináveis etiquetas e preços. E escolheu. Confiante, claro. E seguro de que afinal era aquela a escolha.
"Excelente escolha", diz-lhe a empregada.
"Mau...", pensa ele. "Queres ver que não saio daqui hoje com um conjunto..."
"Então e este quanto custa?"
"450"
Suspira, já mais tranquilo. Já começava a suar por tudo o que eram poros, e numa angústia que já quase lhe eliminava o gozo da compra.
Lá pagou, e veio. Peito cheio, confiante. O maior. Tinha entrado no reino da fantasia. E mais logo, novo reino.
Chegado a casa, nem esperou. Mau tipo para surpresas este. Se tem, tem e é para dar já.
"Que trazes aqui?", exclama a namorada, enquanto olha para a caixa (esta de cartão, mas bonita vá...).
"É uma surpresa, vê o que achas. É a tua cara." (metáfora estranha, tendo em conta o presente)
"És doido!", exclama ela. Contente (pelo menos era o que lhe parecia a ele, embora nesta fase já tudo lhe turvava o pensamento...
"Vou vestir, volto já"
"Vai".
Três cigarros fumados em 5 minutos. Rotações ao máximo. E ela volta.

Esperança

Há uns anos trás tive a oportunidade de conhecer relativamente bem o Brasil. Lembrei-me disso hoje, por vários motivos. O principal, a palavra ESPERANÇA. Apesar de tudo o que de bom observo no País e nas pessoas, fiquei sempre com a triste e cruel impressão de ver um País racista e com uma desigualdade social assustadora. Põem-no hoje nessa classificação modernista de País BRIC. Talvez seja, mas ali falta muito a palavra Esperança. A crença no dia seguinte, na solução, no caminho, no chegar lá. A esperança é o que alimenta o sonho. Turba as escolhas, talvez. Mas torna-as possíveis. Mesmo nos cantos mais escuros, ou nos caminhos mais sinuosos, a esperança é quem chega, e nos estende um chão de madeira polida, onde podemos tentar dar os nossos passos de dança. É o puto que admira a colega mais bonita e concorrida da turma, mantendo a esperança de a conquistar. Ainda que não o consiga, fez de tudo para se melhorar a si próprio e tentar. É o que motiva a maioria de nós, gente humana. Alimentamos a esperança naquela luz que está lá bem longe, e vamos andando. Podemos não a agarrar, é certo, mas andamos e caminhamos. Tentando, tentando sempre. A esperança faz de nós gente melhor. Gente com vontade, com garra, com força, com segurança. O tombo de não conseguir pode ser grande, mas é bem maior o gozo de tentar. De sentir o coração quente, a emoção latente, a força interior inesgotável. Faz-nos gente mais completa. Gente melhor. Permite-nos corrigir defeitos de carácter, inaptidões que nos são difíceis, vidas que nos custam, doenças traiçoeiras que não nos deixarão.Porque há sempre esperança. De ser melhor, de fazer melhor, de ter melhor. Principalmente, de sentir melhor.

domingo, 17 de julho de 2011

O Mundo vê-se nos olhos

Chato. Desagradável. Irrascível.

Adjectivos aplicados a um escriba que bem conheço. Que quer sempre falar mais do que há paciência, discutir mais do que necessário, opinar mais do que 5 minutos de conversa. Não são qualidades, de facto. Até o consigo olhar em detalhe, e encontrar-lhe tudo isso. Mas há razões. Profissionais, sobretudo. Com sonhos de adolescente fixados em livros, revistas e televisão, esse escriba queria ter sido Jornalista de Guerra. Aquilo fascinava-o, devorava tudo o que eram histórias de grandes estadistas, de grandes libertadores, de grandes jornalistas. Mas acabou por estudar e dedicar já grande parte da sua vida à comunicação. De todo o jeito e feitio, de toda a forma e conteúdo, ele já deu a volta ao bilhar grande da comunicação. Nunca gostou muito de fazer os normais trabalhos. Talvez errando, ele sempre procurou oa mais difícil de fazer. Tem um gozo especial em fazer o que lhe possam dizer que não, de todo, fazível. Por ele. Náo sou a pessoa certa para avaliar a quantidada de tudo o que ele fez. Nem sequer a qualidade. O que consigo avaliar é que o que tem feito, faz a diferença. E deixa a recordação. Talvez seja esse o seu desejo escondido no alter-ego, deixar marca. A maioria dos homens, faz um filho. Este trabalha. Mas voltando aos adjectivos, julgo saber o porquê de lhe serem aplicados. É que, ele tem uma diferença clara. Num qualquer trabalho, não olha às opiniões do establishment, aos mais elaborados manuais. Aos nomes que vêm com prémios, dá-lhes zero de valor. Este tipo sabe que o que quer que possa ser o seu valor está no detalhe. Na percepção das pessoas, primeiro. Olha, observa e tenta "sentir" o melhor que pode cada pessoa com quem trabalha. Depois, mais do que à vertente "powerpointiana" tão dos tempos modernos, ele gosta é do rascunho escrito numa folha a4. Sabe e sente que cada história, cada facto, cada momento, são definidos pelo detalhe de cada coisa. É por isso que é chato, irrascível, desagradável. Porque anda sempre em contramão. Acha, talvez de froma naif, que o Mundo não se escreve num mail ou num sms. O Mundo vê-se nos olhos.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

a complexa escolha da lingerie - Parte 1

Lisboa. El Corte Inglés. Secção Lingerie. É de manhã.
Imbuído da mais sã fantasia, e de alguns euros ainda na era pré-moody's, ele lá foi ao reino da fantasia masculina. Secção de lingerie do El Corte Inglés. Alimentado, talvez, pela clássica cena hollywoodesca da empregada toda boazona que lhe dirá "mas a sua namorada tem o peito assim como o meu?", ele lá foi. Ao chegar, mostrou-se convicto no seu critério de escolha. Observar as empregadas das várias marcas (muitas mesmo...), e mostrar-se o mais duvidoso possível na escolha. Talvez lhe aparecesse a tal senhora do filme. Mudança de planos. Esse critério estava, a vistas largas, posto de parte. Eliminado o primeiro, passou ao segundo. Escondeu-se num provador, buscou o telemóvel no bolso e olhou para a fotografia da namorada. Observou uma última vez e imaginou. A missão estava a encaminhar-se. Antes de partir em busca da lingerie, lembrou-se. La Perla. É isso. La Perla. Em algum momento, em algum lugar, filme, revista ou mupi aquela marca ficara na sua memória. O que, no caso dele, é coisa boa. Ora bem, então "faz favor, onde encontro a marca La Perla?", pergunta ele à sra. da Triumph. "Ali, onde diz La Perla. Tente, talvez seja ali.". "Parva", pensou ele. Lá foi. Ora bem, quer dizer então que temos soutiens, cuecas, tangas, slips, body's. Em separado. E tudo junto. Um swing de combinações, portanto. Na hesitação, decidiu o que decide sempre nestes momentos. Foi fumar um cigarro. De volta. Nova olhadela para a fotografia da namorada. E nova procura. Sempre na nobre tarefa de escolher entre o que gosta, o que acha que ela gosta, o que acha que ela acha que ele goste, o que ele acha que ela acha que ela goste. E o preço, claro. "Vai este"!, exclama. Contente, feliz, já em êxtase com a escolha. (continua)

O Beijo


Gosto de beijar.
De passear suavemente os dedos pela face desenhada a cinzel de ouro e beijar. Com a intensidade do nunca. A ternura de ser para sempre. O sabor único que jamais desaparece. Enche-me a alma, e rebenta-me o coração com a força maior do Mundo.
Gosto de beijar. Sinto-me o Dono do Mundo. Com o tempo parado, sem ponteiros de relógio que avançam sofregamente, sem sons exteriores incómodos, sem frio. Fico quente, com a arrogante sensação de que sou o maior. O mais perfeito. O mais bonito. O mais bem-humorado. O mais inteligente. O mais forte. O Beijo dá-me a força de Ulisses, e consigo juntar as margens de um rio, e voar acima do temporal. Gosto do sabor de um beijo prolongado, a tranquilidade de um abraço forte. O Beijo dá-me a alegria de acordar de manhã, na procura do sorriso. Gosto mesmo. Pá.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sobreviventes

Contemplo nesta vida de trambolhão, e a toda a hora, dois tipos de Sobreviventes.
Aquele para quem a vida nunca foi um caminho fácil, que viu truncados ou destruídos todos e quaisquer planos de sonho. Cada plano, é alterado ainda antes de se iniciar. Mas que luta, não desiste, não dá tréguas a cada bofetão que leva. Tem a capacidade de mudar todo o rumo de uma vida, de reconstruir, reconstruir, reconstruir. Nada tem a menos, na verdade, julgo até ter a mais. Capacidade de encaixe, de perdão, de desculpa, de acreditar. Olha para cada mau acto, e interpreta-o na devida medida de causas e consequências. Não tem a palavra fácil, mas luta. Vive constantes lutas interiores. Falha, falha muitas vezes. Sobretudo, porque avalia mal. Este sobrevivente, tem uma fé inabalável nos seus primeiros instintos. Que são, vezes demais, traídos pelo tempo, pelas formas, pelas leis plásticas. Mas é mesmo um sobrevivente. Porque, apesar de tudo, nada altera o seu princípio básico. Tentar fazer o bem. Ainda que levando ao colo o mal. Que não o larga. Largaria apenas de uma forma, se, por um feliz acaso, que acontece uma vez, num bilião de pessoas, encontrasse o caminho. Mas é raro.
E o outro. O que, ao passar dos dias, dos meses, dos anos, muda. Muda muito. Iniciou um caminho cheio de sã esperança na bondade humana. Cheio de crenças em sonhos, fábulas e realidades que só os seus lhos podiam ver. Mas que, com escolhas erradas, com pressupostos mal colocados, com conflito razão/emoção sempre latente, decidiu mal. Partiu então, em determinada fase, de novos errados pressupostos. Tudo passou a ser mau, tudo passou a ser o contrário daquilo que parece, tudo passou a ser mais forma, e menos conteúdo. Refugiou-se nos seus erros, nos seus caminhos cruzados, e estabeleceu um quadro perante o Mundo. E nesse quadro, tudo passou a ser uma questão de sobrevivência. Acaba por fazer as mais torpes acções, mas mais insanas traições, as mais desumanas irracionalidades. Sem esse consciência, obviamente. Porque é o bem que ali anda. Mas adormecido, resguardado, trancado. E sobrevive, sobrevive com a memória do mal que vai encontrando pelo caminho. E assim decide, sem hesitar.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A Nobre Vergonha de Sócrates

São Fernando Nobre e José Sócrates dois (maus) exemplos das fragilidades de uma democracia? Ou são bons exemplos das fraquezas de um País?
E um outro, foram eleitos de acordo com a sua vida, experiência, carácter. Fizeram acreditar.
Um sai sem o menor pudor de um cargo para o qual foi eleito, argumentando que a Cidadania (que ele, na perfeição incorporiza), só estaria representada na Assembleia da República, caso ele fosse o chefe da banda. O outro, despede-se com um "agora vou ser feliz". O uso daquela frase, naquele momento, naquele dia, fez lembrar o pai que lambuza o hamburger sofregamente, ao mesmo tempo que diz ao filho esfomeado que os gelados são caros.
O problema desta falta de vergonha é ainda maior porque, num ápice, ninguém lhes reclama o que quer que seja. Muitos ainda afirmam, que um dia se fará história. Fará mesmo, pergunto eu? Será mesmo que o sr. que não é engenheiro, mas que é dos quadros da bela Câmara da Covilhão, onde pediu uma licença sem vencimento da função de engenheiro, um dia verá a sua histórian escrita? Avaliada, julgada, corrigida. Algum dia este rasto de clientelismo, de falsidade, de compadrio obsceno entre uns e outros, que ele ajudou a solidificar nesta sociedade, será eliminado?
E pergunto, qual a vergonha maior? A deles pelo que fizeram ou simbolizam. Ou a de quem neles acreditou? É que não há vergonha maior, do que sabermos que tudo em que acreditámos é a a mais vil, obscena e desavergonhada MENTIRA.

sábado, 9 de julho de 2011

Overtalking

Tarde dedicada à leitura de coisa antiga. Gosto da coisa antiga, parece-me sempre vir com outro sabor literário, outro cuidado linguístico, outra certeza nas ideias. Leio numa há muito extinta Grande Reportagem, uma entrevista a Martin Adler, um fotógrafo de guerra. Entrevista rara, era pouco dado a estar "daquele" lado, este fotógrafo chamado um dia de humanista. Adiante. Quando perguntado qual era de facto o grande problema dos grandes líderes africanos, que ele bem conhecia, respondeu que se resumia a uma palavra: Overtalking. Diziam sempre mais do que deviam, do que sabia, do que seria esperado ouvir. E comparava-os a alguns grandes líderes Norte-Americanos ou Europeus a quem, de facto, o "carisma" lhes vinha utilizando outros formatos comunicacionais.
Mas que, concluía, nada havia a fazer. É assim que eles são e serão sempre. Está-lhes no sangue e na alma africana.
Também o vejo hoje em muitos. Em mim, para começar. O Overtalking. Sempre o achei uma péssima receita para aquilo a que na nossa sociedade europeia se chama de "bem sucedido". A afirmação exagerada de palavras, opiniões, adjectivos leva qualquer uma a um estado ad nauseum. Poucos são os que gostam de ouvir, de retorquir, de argumentar, de afirmar. A maioria refugia-se na chamada reflexão. Na ausência de palavra ou som, significando isso mesmo a sua palavra. Quanto menos expõem, menos riscos correm. Quanto menos afirmam, mais podem contradizer. Quanto menos se dão, mais recebem. Utilizam os seus pequenos tempos de palavra para o julgamento simples, fácil e cobarde. Raramente ou nunca mesmo se prostam perante o espelho. E quando o fazem, é brilhante o seu reflexo. Puro, imaculado, doce. Angelical, mesmo. Fazem parte de um círculo muito curto de gente que, sabem eles, nasceu e vive sendo diferente dos "outros". Raramente lhes vemos um elogio, uma expressividade pura. Em público, certamente dificilmente lhes ouviremos um merda, jamais um foda-se. Vivem no julgamento do overtalker sendo eles, no seu mundo íntimo, escondido e ele sim ad nauseum, os mais ruidosos.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Nua

“...batem à porta. Num repente, Francisco acorda. Assustado e ressacado. Outra vez. Fixa o olhar no corpo nu deitado a seu lado. Um outro corpo nu. Sem nome, sem história, sem morada. Um corpo de mulher apenas. Batem novamente.
- Pequeno-almoço Sr. Francisco. Gritam do lado de fora.
Francisco abre, dá o bom dia a Mateus, agradece-lhe e num esgar envergonhado fecha a porta. Já faz um ano que Francisco está a viver no Bairro Alto Hotel. Mateus já lhe conhece de cor as manhãs.
Está cansado. Senta-se junto á janela, onde todos os dias contempla o sol a nascer no Tejo. É um homem de rituais. Sempre a mesma hora do pequeno-almoço, sempre aquele lugar a olhar o Tejo. Apenas uma coisa muda no seu ritual. Aquele corpo nu deitado na sua cama. O barulho do banho acorda aquela mulher. Nua, mal acordada, vai ter com Francisco.
- Olá Francisco...bom dia, acordaste à muito tempo?
- Olá Marta, foi só o tempo de tomar o pequeno-almoço. Deixei-te em cima da mesa.
- Obrigado, vou comer qualquer coisa então. E Luisa. O nome é Luisa...
Luisa deixa Francisco ainda mais incomodado. Que raios, todas as manhãs o mesmo erro. Terá isto um fim? Enquanto se interroga, Luisa vai ter consigo ao banho. Corpo moreno e elegante, hávido de abraçá-lo. Tocá-lo. Senti-lo. Não trocam uma palavra. Apenas olhares. Tocam-se. Francisco percorre com os seus lábios o corpo de Luisa. Quer voltar a senti-la. Possuí-la. Torná-la dele. Quer sentir mais. Quer amar. Percorre-lhe os ombros esguios e belos num suave deslizar. Luisa corresponde. Num êxtase, vira-se para Francisco e beija-o. As gotas quentes do duche quase lhe queimam a pele doce..."

terça-feira, 5 de julho de 2011

Teu nome


Madonna - Bad Girl por zocomoro

Hoje perguntaram-me por ti. Fazes cá falta, diziam-me. E fazes mesmo. Esse teu jeito de olhar para tudo com os olhos na alma. O desprezo pelo preconceito, pela posse exibicionista, pela traição. Eras uma mulher inteira. Emoção e razão, viviam em perfeita harmonia em ti. Conheço alguém exactamente como tu. Abominavas a mentira, o desejos escondido, a premeditação calculista e quase desumana de tantos comportamentos humanos. Se aqui estivesses, sei que muita da insanidade que por aqui rodeia tinha sido, no mínimo, corrigida. Não te ficavas nesse egoísmo e individualismo tão corrente nestes tempos confusos. Contigo era tudo muito simples. Elogiavas desmesuradamente o que gostavas, com a mesma força que mandavas à merda tudo o que te desagradava. Jeito bem simples de existir, contrariavas os teus próprios desejos interiores. Dizem que morreste de amor. Morreste nada. Vives, e vives ainda muito. O teu nome é Beatriz. E a tua história vai ser contada.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Bom e o Bonzinho

Gosto de gente. De conhecer gente. Traz-me Mundo. O que não conheço, nem sequer imagino. Traz-me conhecimento, emoção, razão, afecto ou repulsa. Mas traz-me sempre qualquer coisa. E eu gosto de coisas. Que mas tragam. Vem isto a propósito do ocorrido hoje. Mas já lá vou. Primeiro o que me traz aqui. Gente são homens e mulheres. Raramente escrevo sobre mulheres, prefiro guardar. E, também normalmente, a velocidade das teclas leva-me para os homens. Caso de psicanálise, talvez. Bom, e então. Hoje vai sobre dois tipos de homens que, a maior parte das vezes, cruzam os seus caminhos. Falo do Bonzinho e do Bom. Quase nada têm em comum. O que fazem, o que lêem, o que pensam, o que têm. Mas há uma coisa que, fatalmente, os une. As mulheres. Mulheres que, também normalmente, elogiam os primeiros, e ficam com os segundos. O Bonzinho é o gajo que manda a sms, depois do encontro, desejando que ela tenha "chegado bem". O bom não manda sms. O Bom vai também. O Bonzinho preocupa-se em escolher o restaurante, vai-lhe perguntando se gosta da comida, do vinho, no fundo sabendo se ela "está bem". O Bom escolhe o restaurante, decido o vinho, a entrada, o prato principal, a sobremesa. O Jantar é um complemento de si próprio, da sua assertividade, da sua masculinidade. Ele é O homem pá. Logo, nada pergunta. Está bem de certeza. O Bonzinho é o gajo que move montanhas só para ela se "sentir bem". O Bom é o dono da montanha, normalmente. O Bonzinho cita Goethe, Neruda ou José de Alencar. O Bom janta com eles. O Bonzinho é o gajo que recebe as mais elogiosas sms dela. Que tem bom carácter, que é sensível, que respeita. O Bom recebe-as na cama. O Bom é sensual, atrevido, seguro, inteligente, possuidor de um bom-humor extraordinário, experiente. O Bonzinho é..."especial". O Bonzinho é o tipo a quem ela telefona nos momentos de desespero, na procura de elogio, na procura de auto-estima. O Bom é o gajo que ela abraça, quando tudo isso está recuperado. No fundo, valha-nos a verdade, o Bonzinho até acaba por ser mais importante que o Bom. Embora não pareça.

domingo, 3 de julho de 2011

a moral do coxixo

Há-os para todos os gostos e feitios. Velhos senadores ou jovens aspirantes.
Com o seu saber, fruto da experiência de uma vida que já vai longa. Ou ainda jovens, mais plenos do seu extenso conhecimento da espécie humana e dos seus comportamentos. Uns e outros são os moralistas da pátria. Vivem de coxixo em coxixo. Alimentam histórias em emails, conversas de café na Mexicana ou na Versailles, ou através dos seus moderníssimos iphones. Imunes ao erro, perfeitos na sua existência, e com enorme zelo pelo seu bom nome fazem da pregação torpe da moral pública um entretenimento. Indiferentes ao facto de desconhecerem o pormenor, acrescentam adjectivos e verbo à história contada. É gente que nunca errou, nunca prevaricou, nunca falhou. Cheios desta nobreza, que normalmente lhe vem transmitida pelo sangue e nome longo, profetizam.
O moralista da pátria, normalmente, vive de enfatizar as suas públicas virtudes. E de negar, com convicção (sempre com convicção), os seus vícios privados. Negam-nos ao ponto de os desconhecerem. Acham-se, e dizem-no, imbuídos da mais nobre educação. Para eles, existem uns e outros. Utilizam palavras como verdade, educação e decência, como verdadeiros donos das mesmas. Para esta gente não há vidas com história. Não há passados, presentes ou futuros. Para eles tudo é o seu coxixo. E, infelizmente, o seu coxixo é, a maioria das vezes, falso. Pouco se importam. Valorizam quem lhos transmite, com a mesma convicção com que agridem de quem falam. Até um dia. Um dia em que, sem saberem nem porquê, a moral está virada ao contrário. E aí, pouco se importam. Nada lhes tira o sono. Já criticaram, julgaram e comentaram amiúde. E nisso, reconheço, têm razão. O seu coxixo já destruiu o que havia a destruir. Que venha o próximo.