sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pay it forward




Porque me ocorreu ontem.
Conheci o Padre António Amaro em meados de 2001. Em trabalho (curioso para onde me tem levado o trabalho) para os Jogos Santa Casa, comemorava-se na altura os 500 anos da Lotaria Nacional, instituída por D. Maria I, "Raínha santa", como é por ali conhecida.
Este homem foi um dos criadores e grande mentor de um projecto de impressionante humanidade, solidariedade e respeito pelo ser humano, a Aldeia de Santa Isabel. Esta instituição alberga no seu espaço mais de 200 pessoas, entre recém-nascidos, crianças e jovens, e idosos. Vivem todos de acordo com um princípio básico por ele promovido, "eu ajudo-me, ajudando-te". É o Pay it Forward à portuguesa, portanto. Numa das muitas noites por lá passadas, e quando chegava o silêncio da noite que tanto amedronta as mais de 50 crianças lá residentes, sentámo-nos na cozinha a beber o seu café trazido de Monção. Forte, como ele. Naquelas noites, contava-me as mais incríveis histórias de sobrevivência, de força interior, de crença e fé. Naquela noite chuvosa de Dezembro, contou-me a história dele. Posso partilhá-la, ele próprio a tornava pública. Foi recém-nascido abandonado, criança adoptada e violentada consecutivamente durante 3 anos, jovem institucionalizado. O pior possível. Até que numa situação particular vivida aos 16 anos, cheio de angústias, medos, raivas incontidas e uma solidão aterradora, ajudara alguém pela primeira vez na vida. A partir daí, dizia, criou-se uma razão interior que o levou a escolher a congregação onde dificilmente entrara. E passou mais de 30 anos nessa missão. Ajudar. Ele que se considerava um ser cheio de imperfeições. Do que lembro dele, e cada vez que me vem à memória cada acto da sua vida na Aldeia de Santa Isabel, só me ocorre o bom que é ter conhecido uma pessoa que, identificando-se como imperfeito, era e é um dos seres mais perfeitos que conheci.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Oportunidade perdida

Ouvido há dias: "A circunstância e o momento fazem a pessoa." Talvez seja. Mas avaliar mal o momento e esquecer a circunstância também faz cada um de nós. Para a frente, algures no tempo, virá a percepção daquela oportunidade. Perdida. Já tarde. É assim que se formam histórias de vida. Nestes bocados perdidos no tempo imenso de uma vida.

domingo, 25 de setembro de 2011

"Insane Courage"

Assim terminava a primeira carta que Churchill enviara aos seus ministros, acabados de empossar. Estranho? Nada mesmo. Fez Churchill a diferença? Fez, fez muita.
Impôs-se pela realização, convenceu pela convicção, deixou marca pela assertividade e força interior das suas decisões.
Vida estúpida esta que os Deuses nos oferecem. Parece rodar sempre em sentido contrário ao das escolhas. Escolhemos direita, ela vira à esquerda. Decidimos silêncio, ela torna-se mais ruidosa. Refugiamo-nos, e ela expõe-nos. Arriscamos, e ela não premeia. Acreditamos, e ela escapa. Um caminho constante de procura, de afirmação, de realização. Fortes ou não, o sentido é único. Em frente. Muitas vezes, com a companhia dos crédulos. Outras, apenas os olhos dentro da alma nos vêem. Mudamos os princípios, de acordo com a idade, o tempo, a circunstância. Normal. Fazêmo-lo todos. De manhã caminhamos de acordo com o comando de uma voz interior, para, ao entardecer, escutarmos a voz exterior geral, e calamos a crença e verdade interior. Submetidos a verdades construídas e socialmente exigíveis, lá calamos essa coisa chamada de honra pessoal. Abafamos o believe, e erguemos o follow. Tudo, em muitos momentos, em momentos demasiados, nos leva a desistir. Fugir. Calar. Resignar. Vai-se a crença nas palavras, a verdade da memória, a clareza do olhar puro, a esperança da alma percebida. Só uma coisa nos pode levar adiante. Me pode levar adiante. A tal coragem insana.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

E tu, já bateste na Rainha de Inglaterra?



(e porque hoje, pelos vistos, é noite de bloguite compulsiva)

Falava-se ontem em genialidade. Lembrei-me de um post escrito num blogue inter-atlântico. Depois das "Páginas em Branco", este é o melhor que me ocorre. Agora pergunto - E tu, Já bateste na Rainha de Inglaterra?

"A Rainha de Inglaterra, eu e...o Sr. Pinto
Fez há pouco tempo 10 anos que bati na Rainha de Inglaterra. Para desgosto do Sr. Pinto. Trabalhava eu na TELECEL (para quem se lembrar do nome, claro), e tive a meu cargo a dificil tarefa de organizar uma viagem a Londres com 50 clientes para fazer uma das últimas viagens do Concorde. Atento que era na altura ao “mundo”, julgava eu que o Concorde seria uma espécie de combóio ou feira popular. E aceitei claro. Se era evento, festa, animação. Eu trabalhava pronto. Sempre me sacrifiquei desta forma. E lá fomos. Eu, alguns colegas a quem coube tão árdua tarefa e os tais 50 clientes. Nesses estava o Sr. Pinto. O Sr. Pinto é daquelas figuras que nos fazem descer á terra, assim só de vez em quando. Ainda no aeroporto. “então Sr. Luis, está pronto para o voo? Ouvi dizer que ficamos sem respirar:::” disse-me. “Pronto, já vi que vou levar com esta encomenda a viagem toda!”, pensei eu naquela arrogância típica dos vinte e tais. Que já tive. Há muito. “Pois, parece que sim.”, respondi-lhe, mas querendo dizer “ó homem, eu vou é a Londres 3 dias, curtir, embebedar-me o mais que puder e, pronto ok, fazer a tal viagem. Ma agora...eh pá...vá ali para o seu lugar, vai?”. Ele foi. Chegados a Londres, toca de encaminhar a turbe para o hotel, informar das horas de saída para o jantar...e sair até ao jantar, claro. “Então hoje temos um jantar medieval não é verdade?”, disse-me o homem. O Sr. Pinto, claro. “Pois, pois...é verdade:”, respondi. Desta vez respondendo o que pensava de facto. Ás vezes dá-me para isto. Não penso mais que 4 palavras. À noite, encontro á porta do hotel e ala para o Jantar nas Docas de Londres. Tudo no bus. Onde lhes explicávamos quanto era boa e generosa a nossa querida empresa, pelo que proporcionava. O Sr. Pinto batia palmas. Muito animado. Chegados ao restaurante, a coisa era mesmo assim. Medieval. Mesas compridas de madeira, barulheira ensurdecedora, comer pelas tigelas e mãos, e beber pelos jarros. Estava em casa portanto. As vezes que desejara beber pelos jarros. Bom, jantar demorado e bem regado. Como óptimo relações públicas que era naquele tempo, andei de mesa em mesa, bebendo de jarro em jarro. No fundo, fazendo o meu trabalho. Conviver com os clientes. Chegados ao final do repasto, toca a trombeta e dá-se inicio aos combates medievais. Vestem-nos longos panos e colocam-nos pesados capacetes e sorteiam quem faz os combates. Dois contra dois. Sortudo como sempre fui, fui um dos sorteados. Outro dos 4 foi, claro, o Sr. Pinto. Sendo que ele pouco regado. Estava a preparar-se para o combate, dizia-me. Combate iniciado e corro desenfreadamente em direcção á Rainha de Inglaterra. O Sr. Pinto tenta segurar-me, mas eu estava eufórico. Imbatível mesmo. Afinal tenho Gerreiro como apelido. E Pimba. Pimba, pimba, pimba, pimba na Rainha. Em volta ouço aplausos, gritos. Vejo sorrisos. Estava em grande. Momento de glória o meu. O Sr. Pinto tenta segurar-me. Mas estava desenfreado. Novo ataque á Rainha. Pimba, pimba, pimba. Toma lá ó Inglesa. Pimba. A Rainha cai por terra (sim era mesmo terra). E levanto os braços em sinal de vitória. Aguardo a glória. E o prémio, que era um jarro ainda maior. “Você está bem homem?”, pergunta-me o Sr. Pinto. “Eu? Eu estou pois! Ganhámos, dê cá um abraço!”. Ele abraçou-me, e nas costas do senhor só vejo sorrisos histéricos, a Rainha olha-me perplexa. “Então mas, você ouviu bem as regras? Acha que ganhou?”, pergunta-me, num tom paternalista. “Então não ganhámos?? Dei-lhe tantas que a deixei por terra, ehehe....”. “Sim, você deu-lhe mesmo. Mas...a Rainha era da sua equipa....”.
Pimba.

domingo, 18 de setembro de 2011

Maquiaveleiros

Apetece chamar-lhes outra coisa, claro está. Como filhos-da-puta. Mas fica esta. Utilizam a estratégia pensada, detalhada, elaborada e assustadoramente cruel de Maquiavel. Então, fazem a coisa desta forma.
Primeiro, ponderam. Ponderam como será a "relação" com o coiso. Esta ponderação considera tempos de atingimento de objectivos, formas de actuação em fases distintas, o tom a utulizar em cada momento, e as circunstâncias externas abrangentes à volta do coiso.
De seguida, aproximam-se do coiso, o titular daquilo que pretendem. Acham-no indigno de merecer a coisa em si. Está-lhes mesmo na pele, este turpor visceral. Conhecem bem o coiso, logo sabem na perfeição como fazer, como o iludir, enganar, preparar para a matança, em bom português. Aproximados que estão, detalham tudo ao pormenor, cada conversa, cada acto, cada suspiro junto e para o coiso é pensado em conjunto. É como se diz, duas cabeças pensam melhor que uma. Julgam.
Aos poucos, vão destruindo um a um cada qualidade, cada estima social, cada acto bem feito pelo coiso. Pensando que, aos poucos e poucos, ele acabará por acreditar nessa "verdade". De vez em quando, lançam-lhe iscos. Apelam aos factores que, para o coiso, são os mais importantes na vida. Devagarinho, muito devagarinho, porque custa muito. Atingida que está a fase junto do coiso, há que tratar do coiso no chamado espaço público. Ignorá-lo em tudo o que seja mais visível, mas público. Esconder tudo o que possa gerar qualquer tipo de associação. E, aqui e ali, soltar uma palavra, um suspirozinho, um desabafo. A gente com "importância relacional", dizem. É aqui que a coisa falha. Porque para ser um perfeito acto de Maquiavel, quando se chega a este espaço público, o reconhecimento é exigido. Naquele espaço, e com aquela gente, o planeador tem que ter mais crédito que o coiso. Se não tem, perde a oportunidade. É que nem todos são coisos.

sábado, 17 de setembro de 2011

The Printed Blog Setembro


Ai está o número de Setembro do The Printed Blog Portugal, com o grande tema "O Nosso Papel".
Helena Sacadura Cabral explica o seu difícil amor, Rui Zink disserta sobre o "rating" da literatura, Marina Costa Lobo escreve sobre o nosso défice de ativismo, Lauro António descreve o filme Portugal, e Gonçalo Waddington diz o que escreveria se tivesse um blogue. Estes e mais 20 autores revelam-nos os seus pensamentos sobre variados temas que contribuem para uma avaliação do país, suas forças e suas debilidades.
Mais um número a não perder.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

passion of life

There is no end. There is no beginning. There is only the infinite passion of
life." Federico Fellini

terça-feira, 13 de setembro de 2011

to luna


SISTER of the first-born light,
Type of sorrowing gentleness!
Quivering mists in silv'ry dress
Float around thy features bright;
When thy gentle foot is heard,
From the day-closed caverns then
Wake the mournful ghosts of men,
I, too, wake, and each night-bird.
O'er a field of boundless span
Looks thy gaze both far and wide.
Raise me upwards to thy side!
Grant this to a raving man!
And to heights of rapture raised,
Let the knight so crafty peep
At his maiden while asleep,
Through her lattice-window glazed.
Soon the bliss of this sweet view,
Pangs by distance caused allays;
And I gather all thy rays,
And my look I sharpen too.
Round her unveil'd limbs I see
Brighter still become the glow,
And she draws me down below,
As Endymion once drew thee.

To Luna // Goethe

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

a complexa escolha da lingerie - Parte 3

...a pedido de várias famílias que se cruzam por estes moderníssimos espaços virtuais, cá vai o resto. Do que me lembro da história contada entre um John Daniels e outro (sim, somos malta que trata o Jack por John como Al Pacino em Perfume de Mulher).
Tínhamos ficado no momento dos 2 cigarros fumados, na espera ansiosa que ela experimentasse a lingerie que ele tinha comprado numa aventura fassbinderiana pelo El Corte Inglés.
- Vou colocar um bom Cd, pensou ele. Humm...ela tem milhares! Bolas! E agora, escolher entre mil e tal cd's o melhor?
Sentiu-se como o puto que vai aos gelados da Haggen-Dazz e a mãe diz-lhe para escolher...um sabor. O êxtase transforma-se em frustração. Assim se sentiu ele, caraças tanto cd bom, não dá para ouvir todos?? Lá se decidiu. Restava agora saber, de entre cd, televisão, dvd, psp, qual o comando? F....
Do fundo da casa, ela pergunta-lhe como tinha corrido o trabalho? Responde-lhe que "sim, correu muito bem", não lhe contando que passara 2 horas e meia a escolher a lingerie. Queria que ela pensasse que ele era um homem decidido pá! A lingerie tinha sido uma compra rápida, decidida, escolhida em minutos, que ele afinal é um especialista.
Ora bem, cd? Comando? Acaba por descobrir e sente-se possuído de uma realização interior incrível, afinal eram seis comandos, seis!!
Liga o aparelho, coloca o cd, e quer escolher aquela música, tem que ser aquela. Lembra-se da música, ouviu-a vezes sem conta pensando um dia a quem a dedicaria. Sabe a letra de cor, os vários vídeos do youtube, tudo, ele domina a coisa. Mas dá-lhe a branca...como se chama o raio da música?? Estúpido. Mas tem solução, é um homem que no meio da sua auto-anarquia, tem sempre a solução. Sms ao Gonçalo, o gajo sabe tudo de música. Enviada, resposta recebida em 2 minutos. A resposta esperada: "wonderfull tonight...sei todas as músicas de passarinhos seu tótó!". Ignora a resposta e escolhe a faixa, faz pause e prepara. Uff...accomplished.
Ela vem ter com ele à sala, observa-a enquanto caminha naquele azul turquesa, saltos altos, jeito meio envergonhado. É uma mulher que não tem noção do que é. Mas sorri, aquele sorriso sensual, cabelo pelos ombros, corpo desenhado a cinzel de seda. Ele petrifica. Comando já não sabe dele, cd nem se lembra, música só na cabeça dele.
"Então, fica bem?", pergunta-lhe ela, meio expectável pela resposta, meio com a certeza absoluta do quanto é perfeita.
Ele, mudo. Som, zero. Fala com os olhos que se espantam perante um quadro tão perfeito que só lhe apetece agarrar, guardar, e levar para casa. E sorri, sorri largo. E transpira, claro. Rotações do coração a 500, sente-se o dono do Mundo. Abraça-a, beija-a, pega-lhe levemente ao colo e atravessam a casa, onde as paredes são testemunhas silenciosas daquele momento que ele recorda para sempre (não, não a deixa cair...).
Ah...é verdade, a música era esta. E não chegou a tocar, pelo menos naquela tarde.

Wonderfull Tonight from Luiz on Vimeo.

domingo, 11 de setembro de 2011

D.H.Lawrence day

"Softly, in the dusk, a woman is singing to me;
Taking me back down the vista of years, till I see
A child sitting under the piano, in the boom of the tingling strings
And pressing the small, poised feet of a mother who smiles as she sings. "

Piano

did she pop the question?

- "...ok L, we've been talking for too long, i've sincerirely understood everything. But you didn't answered to what i asked...did she pop the question?"
- "No."
- "Hum...bad signal. Very, very bad signal."
Silence.

sábado, 10 de setembro de 2011

Bem-comportadinhos

Já dizia o Pessoa, país de bem-comportadinhos este.
O bem-comportadinho pulula por aí, demasiado perto a maioria das vezes. Não falam alto, são bem educadinhos, bem limpinhos, bem arranjadinhos como o seu bom nome e pedigree exige. Bons alunos, amigos certinhos, sempre com a camisinha certa, a calcinha engomadinha e o sapato sempre engraxado. Botão algum fora da sua casinha, jamais ausência de botãozinho. Comprinhas nas lojas certas, musiquinhas adequadas nos seus perfis, palavras da moda certas nas suas profissões. Ao chefe dizem sempre bom dia com um sorriso largo, não têm más segundas-feiras os bem-comportadinhos, são sempre "fantásticas". Frequentam os cursos certos, as pós-graduações a metro, as "formações profissionais" adequadas ao CV Europeu. Lêem os livrinhos que são "de ler", sabem a geopolítica internacional de cor aprendida nas páginas infindáveis do expressozinho de fim-de-semana que passeiam na mão. Os palavrões guardam-nos para os momentos de alta loucura dentro das suas quatro paredes, aí sim são "mauzinhos". Nunca se lhes ouve um grito, uma impaciência, um desalento, um desabafo incontido. Tudo muito controladinho, muito certinho, muito "adequado" e "bem educado". Não têm problemas, esses ficam para serem resolvidos pelos outros, os "desviados e imaturos". Ah, claro, para além de bem-comportadinhos, são uns homenzinhos de respeito. Portugal está cheio deles. E eu também. f.....

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

velocidade

Falava-se ontem de velocidade. Incrível como o tempo difuso desta cidade que plastifica as gentes, os seus sabores, escolhas, pensamentos e sentimentos, passa rápido. Num piscar de olhos leva almas, sentimentos, experiências, forças e alentos. E, noutro, traz de volta objectivos, realizações, compromissos recuperados e respeito. Detesto a velocidade, não me proporciona o tempo para sentir. Mas tem vantagens, passa rápido. O bom...e o mau.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Com as calças do meu pai, eu sou um homem.



Não sei bem se a expressão é esta, mas nunca como nos últimos tempos, me vem a coisa à boca, e me apetece a habitual incontinência verbal. É um país assim, anda há anos a vestir as calças do pai, armado em homenzinho. Políticos impreparados, incompetentes, ignorantes...mas sempre armados ao carapau (hoje estou nesta das expressões populares. Empossados nos seus digníssimos e distíntissimos cargos, esbanjam, enganam, mentem, usurpam, erram. Mas sempre em pose de estado, há-os de todo o feitio. Aspirantes a figuras de estado, figuras de estado aspirantes a senadores da républica, senadores com vontade de serem de novo figuras. E aqui andam, numa volta de 360º que teima em não parar. Afirmam-se com as maiores convicções do Mundo, fazem o contrário da afirmação com igual ou maior convicção. Mas sempre como homens, que homem que é homem não admite falta de respeito, e venha quem aponte o dedo. Vestem as calças do pai, passeiam-nas nos seus topos de gama, junto dos seus milhares de mad dogs (vulgos "assessores), que lhes estendem passadeiras vermelhas e brilham.
Como eles, há quem os teime em copiar. Escondem-se, espreitam pelo buraco da fechadura como um voyeur envergonhado, assistem aos pequenos desiquilibrios e surgem, no tempo que escolhem, com as suas sabedorias únicas. Aproveitam-se do que outros construíram, usufruem, gozam que se fartam. Mas sempre na espreita (não vá o mestre do engano tecê-las), estão atentos. Homens feitos, claro. De nome respeitadíssimo, claro. Carreiras distintas só ao alcance de alguns, são homens de bem. Vivem para o bem, pelo bem. Apelidam-nos de importantes, de sabedores. Fazem tudo, mas mesmo tudo, mas os agradar. Afinal, são uns homens, não uns putos. Mas o curioso desta vida, e da que virá certamente, é que verborreiam morais, opinam sabedorias, comentam sobre a "solidez da qualidade humana" do outro imbuídos da sua elevada qualidade. São, digamos, seres superiores. E homens crescidos, tá claro. Voltando à sabedoria popular, quando toca a doer, o outro que faça, que resolva. Eles ali estão para usufruir. Como verdadeiros homens crescidos, que vestem as calças do papá.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

The Printed Blog

Dizia W.H.Auden que a história boa deve ser contada enquanto é tempo. O nosso tempo. Cá vai disto.
Hoje, entre a angústia permanente entre quilómetros percorridos que não acabavam, e o discurso infindável do jovem escritor emigrado em terras de whisky, o dia correu. Fruto de outros dias passados, semente de dias que virão, dou por mim com vontade de escrever uma história. Palavras insuficientes as existentes na mente, que possam descrever o sentir aqui existente. Porque esse sentir recorda-me o momento pensado, o planeado e o percorrido. Não se trata de sonho. Trata-se, tão só, de uma ideia. De um "e se?". Pois bem, esse "e se?" tornou-se num fazer. Num pensar, perguntar, falar, planear, apresentar e conhecer. Não me chega a memória para lembrar as horas, os dias, as semanas ou meses na procura da solução. Na procura da melhor forma. Como dizer? Como explicar? Como fazer? Tudo movido por razões e motivações diferentes em tempos diferentes. Passou de um gozo puro e de uma vontade partilhada, a uma vontade inesgotável, quase obssessiva. Por estranho que pareça, foram maior motivação as negas, as recusas, a indiferença, a mentira, a premeditação, do que o incentivo, o encorajamento, o elogio. Esforçado, demasiadamente angustiado e por vezes desiludido. Mas sobretudo seguro. Do que se fez, do que se é, do que se será. É assim no trabalho, e assim é na vida. Por cada 100, noventa aparecerão com o adjectivo desqualificativo, a crítica soberba, a indiferença, a inveja. Terão que bastar os restantes dez. Tudo ao contrário do que devia ser? Talvez. Mas é o que é. Mas chega-se lá. Chega-se sempre lá. Com cumplicidade, com coragem, com audácia, com inteligência. É uma história simples esta. História simples, construída nas mais variadas complexidades do ser humano. Mas construída. Doce, bonita, sensual, arrojada, corajosa, desruptora, fora da caixa. A prova de que nem sempre o caminho é a rua escura, o obstáculo premeditado, a mentira escondida. A prova de que, este caminho, foi feito com emoção, afectividade, identificação, dinâmica e força interior. Um orgulho imenso. Ter as letras "TPB" na ponta dos lábios. É lamecha, sentimentalóide, fraquinho ou sensivelzinho? Talvez. Mas é bom. Muito, muito bom. E isto, meus cépticos e cínicos desta vida...soube bem. Bem demais.

sábado, 3 de setembro de 2011

(...)


Coldplay - Fix You por EMI_Music

uma mulher incrível

Conheci esta mulher há relativamente pouco tempo. Chama-se Dawn Nunn, e é uma das responsáveis pela criação da Network internacional da organização Save the Children. Por motivos vários, temos sido ambos obrigados a encontrar os horários mais absurdos para conseguirmos conversar, afastados que estamos por um oceano de distância.
Hoje, numa daquelas conversas que memorizamos por muito tempo, ouvi uma história de vida incrível, mais uma. A dela, claro. Filha de pais britânicos de linhagem, cedo se dedicou a causas humanitárias, todas elas relacionadas com crianças. Já lançou o projecto Save The Children em mais de 20 países, A Dawn tem 37 anos e uma filha de 14, que leva consigo pelos quatro cantos do Mundo. Mulheraça bonita, divertida, bem humorada, tem um conhecimento do Mundo absolutamente desarmante, e já teve mais de 10 convites milionários, nas palavras dela, por parte de outras organizações, empresas, enfim gente com quem se tem cruzado por esse mundo que, obviamente, lhe encontra rapidamente as qualidades. Nunca aceitou um único convite, e jamais considerou abandonar este projecto. Motivam-na várias coisas. O sorriso das milhares de crianças com quem se vem cruzando nesta vida, a resolução dos seus problemas, com elas encontrar caminhos. Hoje falávamos sobre a incompreensão do pensamento do ser humano. Partilhámos histórias e percebemos que as histórias são iguais no Mundo inteiro. As boas e as más. Mas uma das principais mensagens que ficam é a capacidade que esta mulher tem para dar, dar de si, dar tudo. E que, desde sempre, diz que a verdadeira motivação que tem na vida, o motor que a leva, é a de conseguir mudar comportamentos. Acabar com indignidades, corrigir desigualdades, promover encontros. Gerar sorrisos. Tem piada esta conversa ter ocorrido hoje, explicava-lhe algumas das razões para a minha falta de sorrisos (não todas, coitada...). A resposta dela é "caminhar Luís, caminhar". "Fazer, fazer, fazer". E sempre assente na premissa mais importante de todas, a de que a maioria das pessoas faz tudo com premeditação, desconfiança, instinto de salvaguarda e de superioridade moral e social, assentes em pressupostos "racionais". Percebendo isto e encontrando isto em cada pessoa, consegue-se chegar lá. Diz ela. "Nunca teres contra ti, quem mais esteve a teu lado. Vaia perder, perder numa medida incomensuravelmente maior, do que alguma vez ganhaste..."
Mas diz com um sorriso, acreditem que é com um sorriso. Incrível, mas real.