sábado, 24 de dezembro de 2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

somos uma imensidão de coisas

Perdemos todos. Todos os dias. A vida é muito mais perda que ganho. Também se ganha eu sei. Mas perde-se mais. Perdemos porque somos mais pequenos, mais frágeis, mais crédulos, mais feios. Porque somos menos competitivos, menos ambiciosos, menos premeditados, menos desconfiados, menos calculistas. Perdemos porque acreditamos de mais, porque não nos sabemos avaliar, porque temos dificuldade em "vendermo-nos" ao outro ou outros. Porque há sempre alguém mais inteligente, mais bonito, mais bem sucedido. Com mais facilidade no discurso, mais organizado, mais conhecimentos, mais amizades. Perdemos muito e todos os dias. Mas o que custa mais é perder sem saber. Não é feio, premeditado, pensado. Certamente que não. Somos, todos nós, um mundo infindável de coisas. Umas vezes para aqui, outras para ali. Hoje brilhantes, amanhã bestas. Hoje tranquilos, amanhã inquietos. Hoje inspiradores e corajosos, amanhã chatos, inconvenientes e precipitados. Fossemos menos coisas cada um de nós, e talvez fosse melhor. Talvez. Mas não ouvir o porquê é que é a perda mais angustiante e frustrante. Mas acontece e é triste.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Jácke - o Super Herói (...ou como a decepção pode ser patética)



Jácke observa as estrelas, por entre os seus óculos especiais. “Cassiopeia, Cassiopeia, por onde andas minha bebé?”. Está nisto há horas na sua cadeira de praia sentado na varanda virada para o Mundo, quando é despertado pelo impulso das suas próprias palavras, milhares delas dirigidas a Pandora. Parêntesis: Jácke é assim, sabe que escreve para ele próprio, sabe agora que só a ele lhe provocam impulso. Fecha parêntesis. Ia no impulso. Abre o frigorífico e puxa da sua Kriptonite. Marmelada. Junta-lhe bolacha Maria do Recheio (a mais barata). E prepara o seu plano. Planeia, este gajo.
Manhã cedo e pensa “é hoje”. Veste o seu fato de super-herói comprado noutros tempos provavelmente na loja mais barata (é uma fixação). Esforço brutal. No fato vivem ainda bocados de sal de fato mal lavado e o tempo do armário da arrecadação que lhe trouxe novidades. Perna esquerda, perna direita. Encaixa bem o livrete, carta de condução e seguro e está pronto. Olha-se ao espelho, um egocêntrico o gajo, e exclama “Olha que foda-se...está-me grande”. Tudo lhe fica grande hoje. É que já foi muiiiito grande este super-herói. Mesmo assim, gosta do que vê. Sente-se forte, aventureiro, imbatível mesmo. Ala para a rua. Chegado à rua, lembra-se doutra coisa. O seu Super-carro está “ausente” em parte incerta. Não faz mal, leva o segundo. É rico, o gajo. Cinto posto, gps ligado e siga para a Pandora. A viagem corre bem. Quer dizer, mais ou menos. Ou o tempo está mau, ou o fumo dentro dos óculos é demasiado. Não chega a perceber, não perde tempo com minudências. É grande e profundo, o Jácke. Chegado ao local, estaciona o seu super-carro-substituto. Está a retirar as suas armas da mala do carro quando é atacado pelos primeiros adversários. Duas águias voam ferozmente contra ele (a Vitória, e a outra...a que nunca encontra o símbolo, cega portanto). Mas vêem destemidas. Mas está preparado, e saca da sua pistola de água roubada em casa dos sobrinhos e mata-as. Não com a água. Com a dita mesmo. Pimba, pimba, pimba. E segue, triunfal.
Ao chegar à porta, Jácke é reconhecido. “Olha que foda-se”, pensa de novo. Dois Iphones gigantes barram-lhe a entrada e querem impedi-lo de passar. Luta mais difícil esta. Disparam-lhe mensagens e mensagens, fotos e fotos, palavras e palavras. Desta vez, conseguem feri-lo. “Então eram aqui que estavam as minhas mensagens, seus cabrões!”. Enfurecido, puxa de um pau. Um pau, pau, mesmo. E dá-lhes com alma. Lembra-se de Eça de Queiroz (um erudito além do mais o super-herói), que, dizia que quando a palavra falta, sobra a paulada. Pimba, pimba, pimba nos Iphones. Vence-os, claro. Entra la loja onde Pandora está, já vai ferido. Mas destemido, sempre. Agarra no microfone e grita “Pandora, Pandora, Pandora!”. O local está cheio, milhares de pessoas. Pára tudo. Silêncio sepulcral no local. Todos o olham. Mas com admiração. Aqueles óculos são irresistíveis. Cosnegue juntar a multidão a si e desta vez gritam todos: “Lalalalalala....lalalalalala...só nós queremos a Pandora aqui!”. Jácke deslumbra-se e distrai-se. Entusiasma-se facilmente o gajo. Nesta distracção aparece-lhe outro adversário. Vindo nem sabe de onde, como e porquê, aparece-lhe pendurado numa corda. E confronta-o. A multidão está hesitante e expectante. Antes de o confrontar, Jácke abre a sua lancheira sport-billy e saca de mais um pouco de marmelada. E flores. Distribui flores pelas milhares de pessoas. De todas as cores e feitios, mais vulgares e mais raras. Um cavalheiro, o Jácke. A multidão grita “Jácke, Jácke, Jácke”. O seu adversário, o tal vindo não sabia ele de onde, como e porquê, e entra em acção. Confronta-o com palavras e palavras, frases e frases, às centenas. Deixa-o confuso. Hesitante. Não consegue perceber uma única frase completa. Um Adónis das palavras, conhecido ali nas redondezas pelo Maneli. E pede-lhe um pequeno time-out. E faz o óbvio nestes momentos. Vai fumar. Regressa e diz-lhe.


O outro, perante tal movimento, foge. Ou esconde-se. “Este cabrão há-de regressar, pensa Jácke.”. A multidão felicita-o, abraça-o, leva-o em ombros. Está eem grande o super-herói. É, digamos, o seu Momento, vá.
A multidão clama por Pandora. Chamam-na em gritos estridentes, e Jácke aguarda. Triunfante, forte, destemido, respeitoso.
Pandora aparece, caminha lentamente na sua direcção. Silêncio absoluto na loja. A expectativa é grande. Ao fundo, ouve-se....



Pandora corre para Jácke, vai abraçá-lo.
Jácke retira os óculos, o fumo saído lá de dentro activa os alarmes de incêndio e chove na loja. O momento é, agora de grande adrenalina e sensualidade. Os cabelos negros e ondulados de Pandora esvoaçam (alguém, entretanto, e para ajudar a história, ligou um ventilador gigante, pronto). Olham-se e Jácke diz-lhe: “Pandora, só queria abrir a tua caixa. Não me deste tempo.” E vai embora.
Olha que foda-se.

(...)

...esta sensação da perda diária, meses e meses a fio, com a noção de que cada dia, cada momento, cada data será a última. Esta sensação do vazio que são todas as tentativas de cuidar, de mimar, de ajudar, de tratar. Esta sensação de pânico interior de cada cada minuto a seguir pode ser o último minuto. Esta sensação de ver, sentir e tocar a vida a acabar. Devastadora de todas as emoções, forças, crenças, equilíbrios, emoções. Devastadora.

o texto mais importante

Um noite inteira a tentar escrever o texto mais importante. Mas só me saía a palavra F......que, diga-se em boa razão, resume na perfeição os milhares de caracteres que dali saíriam. Na falta de melhor, e na curta hora dormida veio-me este sonho. Muito semelhante a outro tido em tempos, ou igual. Mau sinal. Vai.

"Hoje sonhei que era um bacalhau. E, como bacalhau que era, resolvi sair da água e apanhar um pouco de sol. Estava eu deitado na areia quando me aparece uma lula. "Que fazes aqui Lula?", perguntei-lhe, estranhando estar ela fora da água. "Eu...estou á procura do tubarão-martelo. Viste-o por aí?", perguntou-me. Respondi-lhe que não. E lá seguiu o caminho dela, á procura do tubarão-martelo. Acabado de tomar o meu banho de sol, resolvi ir até ao parque, andar de escorrega. Chegado ao parque, o escorrega estava tomado por duas torneiras. "Duas torneiras a andar de escorrega? Que estranho", pensei eu. "Olhem lá, mas que fazem duas torneiras e andar de escorrega?", inquiri. "Nós queriamos os baloiços, mas o tubarão-martelo e a lula, não saem de lá...", respnderam-me muito tristes. Decidi seguir caminho, que coisas mais estranhas encontre neste dia. Como ainda era cedo, fui até ao cinema. Bilhete comprado, para bacalhau há um preço especial, lá entrei. Sentei-me (tive que ir buscar uma cadeirinha de criança, pois por azar, há minha frente estavam dois postes de electricidade altíssimos), e vi o filme descansado, comendo as minhas pipocas (com sal a mais, note-se). Já era tarde e resolvi ir de autocarro para a praia. Estava cheio, tinha havido uma convenção de hienas ali perto. Estava um barulho ensurdecedor. Decidi sair e seguir a pé. Ao descer a rua, tropeço e rebolo por uma avenida inclinada e só paro no final. Quando me levanto, reparo que sou agora uma máquina calculadora. "Será que posso ir para a água?", interroguei-me. Chego á praia e encontro de novo a lula. "Olha lá Lula, achas que eu posso ir para a água?", pergunto-lhe. Com ar incrédulo responde-me "Mas que grande lata, uma máquina calculadora que fala! E ainda por cima quer ir para a água. Já não me bastavam as torneiras...vou mas é procurar o tubarão-martelo!".

domingo, 18 de dezembro de 2011

...e há Homens assim.

Já conheci gente boa e gente má. Gente feliz e gente infeliz. Gente só. Gente imensamente acompanhada. E por isso mesmo acredito que há Homens convictos de que a bondade pode vencer a maldade. A partilha pode vencer a inveja. A solidariedade pode vencer a solidão. Que sabem sentir sem serem sentidos. Que dão sem receber. Que acreditam no valor do trabalho, na força das convicções, na grandeza dos princípios. Que acreditam na lealdade. Que acreditam no destino. Nos sinais. Nas palavras, gestos, sentimentos. Que sabem que os amigos falham. Que eles falham. Todos falhamos. Que acreditam que há sempre tempo para acertar. Encaminhar. Recuperar. Que acreditam na sinceridade de uma desculpa. Que têm humildade para pedir desculpa. Que conseguem entender. Que acreditam que fazer sorrir é melhor que provocar o choro. Que crescem quando conseguem sorrir. Que é assim que vivem. Acreditando. E respeitando. É que há mesmo Homens assim. Conheço muitos.

há homens assim.


Há homens assim.
Encantadores no flirt, perfeitos na abordagem, lindos na apresentação e assertivos no avanço.
Espalham verdades absolutas, definem-se como aventureiros da emoção, fazem levitar. Voyeurs das fragilidades, aproveitam a oportunidade e arrasam. Têm capacidade de baixar todas as guardas, defendem-se nas suas falhas, premeditam cada momento. Mentem, iludem, enganam. Não olham a meios para atingir os os fins. Para eles vale tudo. Respeito zero, Fidelidade zero. Carácter zero. Mas são encantadores. Dizem-se e dizem-lhes. São os donos das oportunidades, a eles tudo se lhes perdoa, tudo se lhes compreende, tudo se lhes aceita. Afinal são perfeitos e proporcionam os momentos perfeitos. Decidem quando, como, onde e em que momento entram e saem. Afirmam e negam. Proporcionam e retiram violentamente. Têm sempre o tempo com eles. São imortais nas sensações quem provocam. Sabem-no e afirmam-no onde e como querem. Há homens assim. Apesar de tudo, têm-lhes as luzes dedicadas. E há homens que não são assim.

sábado, 17 de dezembro de 2011

momentos.

Momentos.
Acredito em absoluto que a vida é um tempo emprestado. Devemos gozá-lo o melhor possível. Quanto a mim, tento usá-lo da melhor forma, vivendo um dia de cada vez, absorvendo os cheiros, sons e sentidos que me rodeiam. Tento dedicá-lo o mais que posso aos que estimo, que amo. Tenho sempre a sensação que cada pessoa a quem dedico tempo, mais cedo ou mais tarde, se tornará uma perda. Mais do que uma sensação, é um facto. Não entendo porquê. Mas concluo que desperdiço cada vez mais este tempo emprestado que vivo. A barreira entre a vida e a morte é, claramente, um traço muito fino, invisível. Não tem forma ou cor. De um momento para o outro, o tempo acaba-se. É por isso mesmo que, bem ou mal, tento que este tempo seja único, forte, intenso e sobretudo, vivido. Há que desfrutá-lo então. Até porque, depois de ultrapassada a tal barreira invisível, virá outro tempo, outra vida, outras perdas. Momentos. Recordá-los é bom. Traz-nos verdade. Vida. Liberdade. E escolhas, as nossas escolhas.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Gosto da Julia Roberts


Notting Hill - Hugh Grant, Julia Roberts «I'm... por Flixgr

Sim, não é Fassbinder, Polanski, Von Trier...já sei, já sei...
Sim, parece rídiculo a Julia Roberts a dizer isto a este canastrão apreciador de Bj's na Boulevard. Com camisa cor-de-rosa.
Infantil, coisa de americanada, irreal, tonto, despropositado, arriscado.
Mas é bonito. Assim lamechinhinho. Mas é bonito. E corajoso. Ela, pelo menos é.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Pure Heart, Soul & Inspiration

No que toca a datas, não sou, diria, perfeito. Insisto em não me esquecer das melhores. E de uma ou duas das piores, vá lá. Faz hoje um ano e meio que o teu coração te traíu. Mulher corajosa, forte, independente. Hoje perguntaram-me por ti. Logo hoje. Noutros tempos, para descreveres alguém utilizavas uma expressão que só dita por ti soava bem: Pure Heart, Soul & Inspiration. Devias ver-te ao espelho, quando a proferias. Devias cá estar.
Por vezes deixavas-nos sem respirar, tal era a velocidade a que vivias. E fazem falta as tuas palavras que tornavam tão simples, os mais complicados dos problemas. E ajudariam a aliviar os dias. Merda da vida que nos leva os melhores.
Não eras um anjo, de facto. E ainda bem. Mas gostavas disto, vá lá saber-se porquê.

Gelado Olá


Quando era puto insistia com o meu pai que só gostava dos gelados da Menorquina. Um em especial. Aquilo era uma paixão assolapada, descontrolada, devastadora mesmo (daí a bonita alcunha de “bolinha”). Consumi aquilo sempre com o mesmo sabor, a mesma intensidade, parecia-me sempre como a primeira vez. O único senão (mínimo), era que aquele gelado tinha dois problemas. Em primeiro lugar, o pai achava-o muito caro, logo proibido. Em segundo, cada vez que chegava desaparecia rapidamente o raio do gelado. Chegava a dar pontapés desenfreados na arca, tal era a fúria quando não o encontrava. Mas ele nada. O cabrão do gelado não queria saber. Nunca ficava ali escondidinho no fundo da caixa, para que ninguém o levasse. Ingrato, é o que era! Até que o pai, num acto (julgava ele), de lucidez, cancela os gelados da Menorquina. A partir daquele dia era Olá. Garantia-me que eram melhores, faziam melhor à saúde, e que havia um gelado semelhante ao outro da Menorquina. Que eu ía gostar. Que experimentasse e veria que gostaria da mesma forma, ou ainda mais. Ainda olhei para ele, apreciei a embalagem, flirtei o gajo mesmo. Sentava-me a apreciar o mostruário da Olá, onde ele aparecia em destaque só para se exibir. Juro que até parecia combater dentro da arca com os outros gelados para chegar em primeiro lugar às minhas mãos. Punha-se m bicos de pés, batia palmas, assobiava, armava-se em bom o gajo. Mas eu...nada. Nahhh....até hoje não lhe provei o gosto. Seria bom?

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Anónimo é que sabe...

Encontrado por aí, num blogue de um qualquer anónimo.Que experiência deve ter tido....

“Gostar de ti.
Ansiedade por ouvir a voz. A espera do telefonema prometido. A tranquilidade de um abraço forte e quente. A sensação do sorriso na face, apenas pela lembrança do nome. As olheiras marcadas e o cansaço extremo por noites saborosas não dormidas. A possibilidade de um talvez futuro, assumindo a insegurança do presente. A vontade do beijo a qualquer hora do dia. O acordar repentino a meio da noite com desejo de possuir apaixonadamente, sem preocupação por noites mal dormidas.
A sã mas estúpida vontade de mandar sms, mms e toso os ésses possíveis. A ilusão de ser ELA. Agora. A certeza que está ali a força para a maior dificuldade, o conforto para a maior dor, o calmo abraço para a mais terrível angústia. A ouvinte cúmplice dos sucessos, das notícias boas do trabalho, das alegrias dos amigos, das peripécias dos sobrinhos. O estar. Saber que se está acompanhado ainda que ausente, abraçado ainda que longe.
A voz que nos tenta corrigir os defeitos e nos elogia as qualidades. Que nos faz caminhar pela terra, com o olhar na Lua. Encontrar, ali ao lado, a coragem, a ambição, a alegria. Ternura, sensualidade, esperança. Força de vida. Sem horas marcadas, dias previstos ou instantes programados, receber um “estás bem?”. O gozo de contemplar o corpo nu, com a luz mínima que entra cheia pela janela aberta, trazida pela Lua.
O saborear o cheiro do corpo, o toque da pele, o sabor do beijo. A tentativa frustrada de ver um filme até ao fim, sentados no sofá num dia de chuva. Vê-la adormecida no peito, embalada por milhões de passagens de dedos pelo cabelo longo, o pescoço saboroso. A vontade interior quase louca de beijá-la, abraçá-la, senti-la. O desejo de fazer um longo “pause” nos dias que correm rápidos demais, sem tempo para o tempo, em que os ponteiros do relógio avançam desenfreados sem respeito pela nossa vontade de “ver”.
A partilha descomplexada de histórias passadas. A dúvida súbita entre as palavras ausentes e as palavras a mais. A juvenil descoberta dos sons, cheiros, cores, vontades e sonhos. O medo da insegurança total da alma, da exposição brutal dos defeitos, das falhas, das incapacidades. Mas a simples, quente e leve esperança de que vai dar certo. A coragem para contar a história ridícula sem vergonha, a descabida e irreal sensação de se “estar bem”.
Perder a bússola, confundir norte com sul, este com oeste. Desorientar. Desracionalizar. Emocionar. A dúvida entre o silêncio necessário e o silêncio exigível. A mais simples vontade de desejar. Ver. Ter. Sorrir.
A terrível escolha da camisa certa, as calças adequadas, o engraxar semestral dos sapatos. A verificação minuciosa da ausência do buraquito no dedão das meias, e garantir que não se levam as boxers com o Buzz Lightyear. As pastilhas na boca para eliminar o hálito dos 5 cigarros fumados na ansiedade do primeiro encontro. A filosófica questão do “ela gostará de cabelos no peito?”. A pergunta óbvia sobre o que lhe devo elogiar primeiro. Se os olhos, a boca, as mãos, a inteligência, a força e o humor, com receio de ser apelidado de “especial”. Se o peito, o rabo perfeito, a sensualidade total do corpo e ser apelidado de “atrevido”. Soltar a piadola espontânea saída de um humor natural, ou a programada das enciclopédias dos Bogarts, Clooneys ou Pitts. O sabor de ler ou ouvir “tenho saudades tuas”.
No fundo, é isto.”

sábado, 10 de dezembro de 2011

Júlio de Matos

A propósito de Monchique no seu Júlio de Matos, vem-me à memória uma frase de Lobo Antunes "...esta coisa de sermos cada um de nós, a maior parte do tempo dois, é uma chatice...". Pois é. Desejamos em privado o que rejeitamos em público. Sabe-nos muito bem hoje o que amanhã já esquecemos e nem lembramos. Sorrimos no grupo e fechamos o rosto no privado. É uma chatice esta merda de sermos quase sempre dois. E chatice maior é decidir qual queremos ser. Porque os tempos, os momentos e as circunstâncias só passam uma vez. Por ambos os dois que somos. Basta escolher. Uma chatice. Ou, citando Conan O'Brien "maybe a good call...mabe." Prefiro o Conan.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

SMS: 00.19h

Não digo todas as palavras que quero. Não escrevo todas as palavras que imagino. Não imagino todas as palavras que sinto. Não faço todas as acções que desejo. Não desejo todos os actos que tenho que fazer. Não procuro nada que não queira. Não quero nada que não procure. Não exprimo toda a emoção que sinto. Não sinto emoções que não queira. Não imaginava tudo o que poderia sentir. Não deixo de sentir o que julgava já inimaginável. Não desisto de tudo o que acredito. Não acredito naquilo que não me motiva. Não deixo, nunca, de seguir o instinto que os sinais da vida que vão dando. Não desisto. Não desacredito. Acredito que falho quando confio e faço confiar. Mas acredito que o tempo, esse verdadeiro julgador da alma, tudo repõe. Não me surpreendo com as dúvidas, desiludo-me com as ausências frias, pensadas, submetidas as juízos de valor que a vida ainda não teve tempo de ensinar. Não deixo, jamais, que a vida que as pessoas fazem dela, a torne verdade absoluta. Não me engano na expectativa, mas acredito na esperança do querer, do fazer, do sentir. Não acredito em corações frios, almas escuras e gestos premeditados provocados por instintos de sobrevivência e de vivência que a vida provoca em cada um. Acredito, isso sim, que há gestos que valem por mil discursos elaborados. Acredito na bondade, sinceridade, doçura e amizade de uma simples sms com 14 palavras. Não significa o pensamento constante ou a paixão exacerbada. Mas significa que aqueles 3 minutos o pensamento e preocupação estavam ali. Chama-se a isto, dar. E acredito em gostar de quem sabe dar. Não me sei viver de outra forma. Jamais saberei.
Posso não ter o céu nas mãos, mas é para ele que olho. Sempre, e apesar.

Vida

Vida. Caminho tão estranhamente delicioso ou abruptamente triste. Forte, segura, emotiva, tranquila e quente. Traiçoeira, enganadora, frustrante, infeliz. Vida. Cheia de desencontros, enganos, problemas, desilusões. Vida. Inundada, nos mais inesperados e impreparados momentos, de calor, fogo, paixão, tranquilidade. Vida. Olgares, toques, beijos, cheiros, amores. Vida. A certeza, a cada dia que passa, de que só existe um caminho. Em frente. Com riscos de enganos, possibilidade de perder ou entristecer. Mas com a alma e coração suficientes para dar, acreditar, fazer, escolher. E viver cada emoção que ela nos traga. Só assim vale a pena. Só mesmo assim.

domingo, 4 de dezembro de 2011

...ou o Fernando Alvim é que sabe

"Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: “Nem pensar, leve isso daqui que me irrita a pele”.

Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos.. E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados?


Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é difícil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que não vi a tua chamada não atendida”.

Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.

Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campainha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós. "
Fernando Alvim

O MEC é que sabe

“Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”. Odeio esta mania contemporânea porsopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio,não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.”

Miguel Esteves Cardoso

sábado, 3 de dezembro de 2011

se o meu amigo tivesse um blogue...

Tenho um amigo que gostava de ter um blogue. Gostava mesmo. Um daqueles amigos desbocados, o gajo tem uma opinião sobre tudo e mais alguma coisa. Desde há muito. E hoje dizia-me "eh pá, se eu tivesse um blogue, convidas-me para escrever no The Printed Blog?". É um grande admirador do TPB, já agora. Qualidade que lhe aprecio bastante. "Então, imagina que tens, e que o teu texto tem que ser avaliado pela Directora e editoras da revista. Escreve lá qualquer coisinha, pode ser sobre o tema que mais aprecias, essa treta da emoção, e a malta logo vê". Aviso já, o gajo afinal tem mesmo muito para dizer. Escreveu isto (perdoem-me os palavrões, mas estou a citar). Cá vai.

"Eu sou um gajo cheio de emoções. Tenho várias, a maioria delas, estupidamente, reprimidas. Emocionam-me várias coisas. Mas, para já, vou falar apenas de uma.
Uma mulher, claro. Uma grande amiga de há 20 anos proporcionou-me conhecê-la. Mas já lá vou, primeiro a amiga. Esta amiga, passados praticamente 15 anos em que não nos víamos, vemo-nos e falamo-nos hoje como então. Impressionante. Vêem-me há memória milhares e milhares de momentos com ela vividos então. Conhecemo-nos na faculdade (o que dada a charmosa idade, já lá vai algum tempo). Lembro-me como se fosse hoje. Já então, os meus conhecimentos eram básicos, logo, entrei naquele curso na terceira fase. Ou seja, depois da primeira e da segunda. Logo aqui se avalia o elevado grau de inteligência do autor. Entrado numa turma pequena, cheia de mulherada, e com o curso em andamento, os olhares dirigidos ao gajo da terceira fase eram semelhantes aos dirigidos à Cátia da Casa dos Segredos. Mas esta amiga foi a primeira a dirigir-me a palavra. Logo ali lhe percebi a atitude. Para além do coração bom, era avessa à regra. Forte como um touro para enfrentar uma vida não tão fácil assim, rapidamente se tornou a melhor amiga. Comigo foi sempre assim, estas mulheres "diferentes" para melhor, olham-me sempre como um amigo. Cruz que me persegue até hoje. Mas andando que se faz tarde. Fomos uns companheiros do caraças durante o curso, partilhámos tudo. Estudos (os possíveis), amizade, desgostos, angústias, dificuldades, alegrias. Boa, gente mesmo muito boa. E forte, e positiva, e optimista, e lutadora. Mas adiante, lá escreverei sobre a dita noutra oportunidade. Um blogue é curto.
De volta à Mulher.
Por coincidência, deu-me a conhecer a tal Mulher. Numa primeira noite, em que, claro, lhe tirei as medidas de alto a baixo.Ela, claro. Ignorou por completo. Foda-se....Mas houve ujma segunda oportunidade, Uma festa, onde vários fomos convocados. É assim a amiga. Convoca os amigos para os bons momentos. Raro, portanto. Receoso que fui, desconhecia por completo que lá estaria a tal Mulher. Saio do carro, preparado para ums noite para a qual estava, obviamente, impreparado. Nem a roupinha nova levei. Apaixonei-me logo ali, mal a vi sair do carro.Sim, é daquelas que leva sempre o carro. Quer dizer, não foi bem ali. Foi um pouco mais tarde. Encostado que estava, já emborcado no 3º JD, observo-a ir ao bar. "Toma conta da minha mala", disse-me. Sem faz favor. Está bem. Felizmente, a qualidade do serviço era tal, que demorou a ser servida. Tempo perfeito para a observação. Já lhe tinha visto os olhos com atenção. E as mãos. E o cabelo. O resto, só naquele momento. Escuso as palavras que me vieram à mente (seria vetado no blogue). Depois daquela noite, e sempre forçado aqui pelo Jeanvalgen dos tempos modernos, la vou provocando á força uns encontros. Sabem-me bem cada minuto, cada hora. Mas a verdade é que eu tenho um defeito (um). Sou estupidamente tímido e estupidamente "certinho". Raramente provoco, raramente flirto, raramente transgrido a regra. Flores e florzinhas, mensagens e mensagenzinhas, beijinhos e beijinhos por sms, Tento entender, compreender, pensar e pensar para caralho. Penso demais, Ou não, sei lá. Bom, e tentando concluir. Se eu tivesse um blogue, aproveitaria para a exibição muito macho que eu possuo, claro. Para lhe dizer que o que gostava mesmo era de passar umas horas do dia com ela. Falaríamos claro. Prefiro ouvi-la, mas acabo sempre por falar mais. Prefiro beijá-la, mas acabo sempre por adiar até à última. Um certinho da merda, é o que é. Até ver. Mais dia, menos dia a coisa vai diferente. Agarro-a (num elevador, nas escadas do centro comercial, no jardim da rua, no meio da estrada ou no estádio de futebol), e dou-lhe um beijo de meia hora. Meia hora sim, que eu sou um resistente. E insistente. Depois explico-lhe que esta coisa do certinho que entende tudo, espera por tudo, compreende tudo, vai à fava. Ou à merda. Passo duas horas com ela (chega, de momento). E fico na expectativa de, depois disso, e só depois disso, ela decidir. E eu. É que, há coisas, emoções, sentimentos, emoções, desejos, vontades, cheiros, sons, que só se decidem depois de experimentar essas duas horas. Já tivemos várias "duas horas" (poucas, claro). E estou em clara desvantagem, hé quem passe 10 ou mis horas com ela. Mas estou habituado às desvantagens. Mas fui sempre estúpido. Ou certinho, o que, a avaliar pelo resultado, não é bom. Lá chegarei. Não seja eu um homem "especial". A ver vamos."

Sinais


Fazem-nos circular, por princípio em segurança, e põe-nos algo que, a nós humanos, pelos vistos faz muita falta. Regras. São isto os sinais de trânsito. Regras de circulação por um caminho que tanto pode ser longo e seguro, como curto e perigoso.
Os sinais de prioridade, por exemplo, fazem-nos acreditar na confiança dos outros, no respeito que terão e, quem sabe na esperança. O sinal de rotunda, indica-nos provável circulação de vários, que, todos eles, sabem a regra essencial da prioridade. O sinal de stop. Faz-os parar. Obriga. Impõe. Outros obrigam-nos a virar para a esquerda quando queremos ir para a direita. A seguir em frente, quando ansiamos virar à direita. E, o mais estúpido, mas ao mesmo tempo significativo. Proibido fazer contorno de marcha. Ou seja, descobrimos, pelos tais sinais que vamos apanhando, que é obrigatório voltar atrás e tomar mais atenção aos sinais apanhados no caminho (ainda que curto), mas, que raio, não podemos fazer o contorno de marcha. Mesmo depois se escarrapachado que não é aquele o nosso caminho, a nossa estrada. Estamos ali a mais, em tempo errado, em momento errado, na condução errada. Então, que se lixe, é para o desastre, é para o desastre. Estúpidos, estúpidos, estúpidos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Akunamatata

Benfica 1 - Sporting 0. Ainda por cima um resultado injustíssimo (sim, o Elias fez-me lembrar o Postiga...) vivido ao lado de uma meia dúzia de benfiquistas e milhares de Leões. Na vontade, quero dizer. Eles eram mais, mas ele e os seus "leões enjaulados" são mais...bonitos, vá. E a beleza vale muito, hoje em dia. Pronto, do lado dos benfiquistas havia uma que...enfim...parecia sportinguista. Mas um pouco agressiva, ainda hoje ele anda na fisioterapia tais foram os apertões, mordidelas e entradas a pés juntos feitos por ela. Uma Javi Gárcia da bancada, digamos.
Face a isto, restava-lhe uma solução. Beber. E foi.
Após variadíssimas tentativas, onde a noite parecia ir ser passada a andar de carro, chega ao sítio. E a Javi Garcia, claro. Mesmo lesionado após o jogo, havia de se vingar. Lá chegados é chamado a atenção pelo "arrumador" local. "Eu não gosto quando não estacionam onde eu digo!", disse-lhe. Mas, graças à companhia a à Irina que já se ouvia no parque, ainda lhe pagou. Claro, afinal ele manda ali.
Lá chegados, e ainda lesionado, está como gosta da coisa. Cheio. Bom som, gente boa e bonita e uma voz do outro Mundo. Em virtude da derrota injusta já referida, e para amenizar as dores já referidas do resultado jogo ( e na ausência de morfina), venha o JD por favor. Armado em esperto (arma-se muito este gajo) sugere "aquele spot é o melhor, vamos para lá...". Era. Agora não é, ali não se fuma. Mas vê-se e ouve-se melhor. Não se pode ter tudo. Nunca se pode ter tudo. Novo spot. Também não se fuma ali. F.....
Mas então, onde se fuma?? No meio, exactamente no único sítio do espaço onde se janta, e com mais gente acumulada por metro quadrado. Estranho não? Mas que importa isso, se a Irina continua a cantar que nem uma louca, uma Sofia qualquer da vida é convidada para tocar baixo e o ambiente é cada vez melhor. E a Javi Garcia vai ficando cada vez mais bonita, está quase a perdoar-lhe as lesões. Quase. Aguarda que a Irina cante Pearl Jam, para a noite melhorar. Vai cantando outra coisa qualquer e o 1-0 já está esquecido. Lights on. For now. Akunamata!

Mundo

Para os amigos, lembrei-me desta música. Estes senhores, assim como eu, já são um bocadinho antigos. É mais um daqueles discos herdados do mano velho que tanto ouvi. Ou ouvimos. Disco sim. Eram numas coisas chamadas vinil. Ainda existem para quem tenha curiosidade. E como é para os amigos, cá vai.
Ao ouvi-lo lembrem-se que isto só vale a pena se amarmos mais, formos mais presentes, abraçarmos mais, beijarmos mais, sentirmos mais, preocuparmos mais, ouvirmos mais, falarmos mais, partilharmos mais. É verdade que se pode fazer o contrário disto. Sim pode. Mas vai chegar sempre o tempo e o momento em que perguntarão "porque não fiz mais?". E olhem que chega assim. Sem aviso de recepção. Entra-vos na caixa de correio deixado pelo tempo que corre muito rápido. Lembrar de outra coisa ainda. É quando achamos que finalmente o Mundo é nosso que nos devemos lembrar que a outros falta mundo. O mundo que então nos deram eles. É só um conselho, nada mais. Aceitá-lo ou segui-lo é com cada um. É sempre com cada um. Mas há tanta gente sem Mundo...