sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Falando Sério: acampo, claro.


Juscelino Kubistcheck de Oliveira, por muitos considerado o melhor Presidente da Republica brasileiro, começava muitas vezes os seus discursos com esta expressão. Falando sério.
Num gesto que me deixa reservas, vão existindo vontades e pequenas (começam sempre assim) movimentações para a "criminalização" do ex-primeiro-ministro Sócrates e seus ministros. Mas condená-los de quê? De seguirem os seus manuais Keinesianos, aliás seguidos por americanos, alemães, franceses, de políticas absolutamente suicidas de endividamento da despesa pública? E daqui a alguns anos, condenaremos aos actuais, por este caminho liquidatário de uma nação, com um ultra-liberalismo sem limite, que nos levará a pagar, pagar, pagar, e nada produzir?
É assim Portugal. Enquanto foi tendo os seus sucessivos governos, que disparate atrás de disparate (iniciados nos tempos do actual Presidente da Republica), fomos alimentando um monstro que não parou de crescer, cheio de boys & girls do blocvo central que decidiram, assinaram, comprometeram e endividaram Portugal, nada dissemos. Elegemo-los, elogiamo-los, calamo-nos.
O que temos em Portugal, já o temos há tempo demasiado.
Deputados impreparados, ministros impreparados, primeiros-ministros impreparados. A maioria fruto de uma sociedade que cresceu mal em liberdade. Educou-se e educou mal.
É um país cheio de terrenos comprados a preço de saldo por sociedades de advogados, que contornam, subornam e adulteram PDM's. Decidem onde, quando e quem faz hospitais, hotéis, residenciais, condomínios e até aeroportos. É um país onde autarcas, uns atrás dos outros e de todas as cores partidárias, enriquecem em off-shores de sobrinhos, primos ou netos. Onde ex-ministros decidem hoje, e colhem amanhã. São inúmeros os casos de enriquecimentos absolutamente pornográficos em meia dúzia de anos. Decidem hoje contratos-programa com universidades onde serão reitores amanhã, decidem obras ao abrigo dessa engenharia financeira destruidora e devassadora do bem e dos bens públicos chamada de "Parceria Público-Privada", onde amanhã serão gestores. Criam Fundações atrás de Fundações, com zero empregados e actividades infinitas expostas nos seus websites (se está lá é porque é verdade), recebendo milhões de euros de subvenções estatais, quando nada fizeram, nada fazem e nada farão pelo país. Um país que escolhe entre um mentiroso compulsivo e um mentiroso em potência. Do compulsivo todos se esquecerão rapidamente. Do actual, poucos se lembram que defende e faz hoje muito pior do que criticou anteriores direcções, na caça do voto. Que apoiou, repito, apoiou muito do que fez o anterior. Um país onde o jornalista independente de hoje, se torna no fiel assessor de amanhã. Um país onde miúdos de 26, 27 anos, saídos dos seus mestrados de pacote pós-bolonha, exercem meia dúzia de meses algo a que chamam de actividade profissional, logo habilitando-os para assessores, directores-gerais, "responsáveis" de qualquer coisa.
Peçam-me para ser um "indignado". Serei sim, mas não para reclamar outra democracia ou sistema político. Sou e serei para reclamar a justa e correcta aplicação desta democracia. Irei a correr á decthalon ou sport zone comprar a minha tenda. E acamparei sim. Mas à porta de Institutos fictícios, motas-engis, ongoing's, grandes lojas das maçonarias, carris, metros do porto, fundações saramagos, produtores "culturais" que nos levam milhares anos consecutivos, ccb's, etc. É aí, exactamente aí que reside grande parte do mal deste país. É onde formam futuros decisores públicos. Onde a preguiça da esperteza é ensinada em lugar do trabalho honesto. Onde se ensina que existem os "nós" sempre antes e, a maior parte das vezes, contra os "eles". Onde se criam teias de relação escuras, sombrias, desonestas e destruidoras do bem social. Acampo sim, em frente ao Ministério da Saúde, onde se decidem enormidades como cancelamentos do pagamento de transporte a doentes dos IPO's Lisboa, Porto ou Coimbra, por serem "caros". Que venham a pé. Ou, melhor ainda, que morram. Serão "gordura" eliminada. Acampo sim, em frente aos parques dos ministérios, assembleia ou empresas públicas, que contratam mais de 100 milhões de euros em frotas automóveis. Por ano, por ano. Acampo sim, em frente ao aeroporto de lisboa, esperando que albertos joões, isaltinos ou fátimas felgueiras aterrem. Para os prender. E dizer-lhes "não, assim não se faz". Acampo junto de quem promove esta total ausência de respeito pelo trabalho de milhares de micro e pequenas empresas, que têm que inovar, criar, promover novas ideias e novos negócios, com médias de recebimentos de 60, 70 ou até 90 dias dos seus clientes. Milionários. Acampo junto de quem promove esta asfixia brutal do pequeno empreendedor, com a carga fiscal mais alta e mais intensa da União Europeia, com pagamentos por conta, prestações sociais, irs. iva's, irc's. Tudo para o estado, pelo estado e para quem este alimenta. Acampo sim, junto de quem ensina, promove e elogia uma sociedade onde já nem o contrato escrito vale, quanto mais a palavra. Onde em cada esquina, cada reunião, cada relação laboral, a desconfiança, o insulto escondido e vil e a promoção da desgraça alheia vive constantemente.
Acamparei sim para evitar que por cada homem mau, 2 homens bons caiam em desgraça. É um país bom, com gente boa. Mas escondida ora no seu conforto que julga eterno, ora no seu medo que é, de facto, diário e real.
Falando sério, sou há muito um indignado. E tenho do direito de querer trabalhar honestamente neste país. Que é o meu país.