sexta-feira, 3 de junho de 2011

eu e o gajo do Q7...

Hoje bati no trânsito.
Corrijo. Hoje um gajo num Q7 bateu no meu carro emprestado.
E então, foi assim.
"Eh pá, desculpe lá, quando o vi já estava em cima de si" (diz o gajo do Q7, enquanto não desencosta o seu Iphone do ouvido)
Faço pequena pausa e penso no que queria ele dizer com o "estar em cima de mim"...mau...
"Não faz mal, acontece a todos", digo-lhe eu, pensando ao mesmo tempo que acontece mais aos idiotas incapazes de conduzir, falar ao telefone e fumar ao mesmo tempo.
"Então e agora, o que fazemos?"
"Bem, se calhar o melhor é preencher a declaração amigável", respondo-lhe, mas já com vontade de o mandar para a fábrica do cocó (para os mais incautos, é a estação de tratamento da avenida de ceuta que, das duas uma, ou trata mal, ou não trata de todo).
"Deixe-me ligar aqui ao meu advogado rapidamente", diz-me ele...
"Porquê, você não sabe ler e escrever?" (não disse, mas deu vontade, pronto)
"Está bem, ligue lá".
Bom...10 minutos depois..."amigo (o amigo dele sou eu), o meu advogado está a caminho e tratamos já disto"
"Mas o advogado por alguma razão em especial?", pergunto-lhe eu.
"Sim...é que...sabe o carro é da minha Mulher e...bem...ela não sabe que eu ando por estes lados...devia estar noutro sítio, percebe?"
"Não."
"Bom, não interessa, dê-me 10 minutinhos e a gente trata disto"
"10 minutinhos" serão menores que dez minutos, interrogo-me...e espero, claro, enquanto o ouço.
"Olá querida, nem sabes o que me aconteceu...bati aqui na Avenida de Ceuta...vê lá tu. Não, não te preocupes querida, eu estou bem, eu estou bem. E olha...já estou cheio de saudades...um beijo"
Pelo menos não sou o único a sofrer com este gajo, penso eu. E espero. Pelo advogado que vem resolver a questão da declaração amigável do carro da mulher do gajo que me bateu, que não sabe que ele está aqui, pensando que estará a...trabalhar, calculo eu. Enquanto o observo ao telefone com a "querida", contemplo o seu estilo modernaço alfacinha blasé, e imagino o que fará este gajo. Calculo. Mas não digo.
Bom, voltando ao diálogo.
"Então, o seu advogado demora? É que estou com alguma pressa..."
"Não, não ele ligou-me agora mesmo a dizer que estava a chegar"
"Mas ligou-lhe como? Você tem estado ao telefone com a "querida"?" (pensei, não disse, pronto)
Novo telefonema.
"Olá Amor da minha vida, os meninos estão bem? Estou a ligar só para mandar um beijo e dizer-te que te amo deste Mundo até ao outro"
Bom. Entre querida e amor, esta deve ser a mulher. Penso.
Chega o advogado.
"Boa tarde amigo, como está?"
F....outro "amigo"???
"estou bem obrigado, então é o senhor que vai resolver isto?", pergunto, na esperança de ouvir um simples sim...
"Bem, então vamos lá ver. O amigo vinha a que velocidade, e o meu cliente, de onde vinha? E já agora, posso ver os seus documentos, seguro do seu carro. Quer dizer, tem seguro não tem? é que, sabe, hoje em dia nunca se sabe quem anda na estrada."
Pausa. Observo o outro "amigo" que, entretanto, continua absorvido nos seus telefonemas.
E respondo, claro.
"Eu vinha na velocidade recomendada nesta via, na faixa da direita. Está a ver ali aquela obra na estrada? O seu cliente não viu. Mas eu vi. E parei. E ele bateu por trás. No carro da mulher que não sabe que ele me bateu, porque não sabe que ele está aqui. E ele está aqui, porque acabou de sair da casa da amante querida de quem já tem saudades, e a quem já disse que bateu, mas que a mim não me diz nada." E fumo um cigarro.
"Bem, mas vendo bem as coisas...", prepara-se o "advogado" para dizer.
"Espere. Bem vistas as coisas, só agora reparei que não tenho nada no carro. E ainda bem, porque se tivesse, ainda teria que o indemnizar ao seu cliente, à mulher dele que tem um Q7, e à amante, que gosta muito dele, sobretudo porque ele tem um Q7. Que não é dele, é da mulher. Já viu a confusão que seria esta merda? E mais, não sou seu amigo."
E lá venho embora. O gajo? Bem, o gajo acena-me enquanto continua ao telefone. Parece que ainda o ouço gritar "adeus amigo"...