terça-feira, 14 de junho de 2011

Passado e futuro – estórias de sonhos e castelos de areia

Em tempos de enterro de passados inglórios e angustiantes, sentimos os dias sem rede. Vontades espúrias de ensaguamento de momentos infelizes, tristes e de vergonha, são alimentadas por sonhos de tempos futuros, em que a tranquilidade perseguida apareça.
As estórias da vida são feitas de castelos de areia pensados isoladamente ou sonhos planeados conjuntamente. Tudo reside, enfim, na forma e estado em que cada um de nós se encontre. Passados vividos numa profunda solidão, longe de imaginada ou pensada, mas real. Solidão essa responsável por actos irreflectidos, decisões não pensadas e escolhas momentâneas, pensadas como eternas. Existem passados assim, tristes, cheios de azares e erros de casting. Motivados por ansiedades interiores desconhecidas e, mais que isso, incontroladas. Existem passados assim, crentes em palavras vãs repetidas até à exaustão, afinal vazias. Ricas na forma, vazias no conteúdo. Caminhos sem ninguém na margem, pensados serem acompanhados. Mundos pensados como comuns, mas afinal tão longe. Existem passados destes, cheios de vozes, sons, movimentos e acções. Desertos de verdade. E são estes os passados que se tornam, um dia, num imenso castelo de areia húmida, fragilizada por qualquer movimento de maré mais simples, mais inofensivo, mais fraco. A estes passados o adeus deve ser forte, brusco, violento. Feito com a angústia acumulada de indiferença brutal, de infidelidade desavergonhada, de humilhação pública e barulhenta. É apenas essa a sua força. O que de tanto se deu, num passado, transforma-se, num ápice no egoísmo maior. Em tempos destes, em que se esconjura o passado que envergonha, aproveita-se para denunciar os amigos de faustos repastos, mas ausentes no momento mais importante. É nestes momentos em que vemos os telhados de rubi das casas que habitámos. São de lata, da mais fraca, ferrugenta e vulgar lata. São tempos em que escrevemos para a memória futura uma lição de vida. A vida é assim, dá-nos eternas lições. É, portanto, nestes momentos que percebemos a ausência de anjos da guarda, de karmas positivos, de sorte. Mas são, ao mesmo tempo, tempos de procura. De, pelo menos, novas crenças, novas forças interiores, novas vontades. Imaginá-las encontradas e meio de uma vida é duvidoso, mas lá haverão, sabe-se lá onde. É tempo de alimentar o sonho. Procurar palavras com sentido, verdade nos sons, nos gestos, nos cheiros. É tempo de olhar o destino de frente, e chamá-lo de amanhã. É esse o futuro. Amanhã.