segunda-feira, 20 de junho de 2011

Pedro e Mónica

Na televisão, a Sic Notícias apresenta-nos os currículos desses 11 heróis que se preparam para travar uma guerra provavelmente perdida à partida, tentando dar-nos uma leve esperança num futuro próximo que não é fácil. Na sala, rostos com sorrisos enganam os corações que sofrem, palavras sobre tudo e sobre nada alimentam uma conversa tardia, que faz encontrar uns e outros. Uns na esperança de ali não regressarem, e outros na certeza que aquela sala será o seu acolhimento durante semanas, meses, talvez anos. Pedro está sentado a meu lado. Corpo forte, alto, olhos enormes que lhe rasgam um rosto cheio de confiança. É a 28ª que ali está. Há dois anos e meio, e após a habitual futebolada com os amigos, notou que algo estranho no seu ombro. Doía-lhe como tantas outras vezes, mas daquela vez sentia ser uma dor diferente, contínua, incómoda. Sentia "um carreiro de formiguinhas constante dentro dos meus ossos", disse. Uma ida ao médico naquela manhã véspera de casamento com Mónica, havia mudado a sua vida para sempre. Ao lado de Mónica ouviu a pior notícia do Mundo. Tinha um tumor nos ossos. O pior possível para alguém da sua idade (1 em cada 10 jovens entre os 18 e os 30 anos sofre do mesmo), porque lhe foi dito a forma rápida e silenciosa como evolui. Casamento adiado, emprego perdido aos poucos. Já fez de tudo um pouco aqui neste sítio que nos encontra, desde então. A meio das suas palavras chega Mónica. Quadro superior numa multinacional, tenta aliar a exigência de tal emprego com a missão mais importante da sua vida, motivar Pedro. Cumprimentam-se com a naturalidade do casal de namorados, de casamento ainda marcado. Sorriem, Mónica conta-lhe as últimas novidades do seu dia. Contam que fazem sempre isto, a maior parte do tempo é passado a ouvir o dia-a-dia de Mónica. O único digno de palavras, diz Pedro. Ela conta que aquela notícia há dois anos atrás lhe provocou a maior dor no coração que jamais imaginara. Tiveram que reconsiderar tudo nas suas vidas. Casamento, casa comprada recentemente, planos de vida, filhos. Tudo. Desde então vivem cada dia esperando que a noite chegue melhor que a manhã, apenas. Não há planos, não há destinos de férias planeados, filhos pensados, ou sequer, o fim-de-semana seguinte combinado. Uma vida planeada ao minuto seguinte, é como vivem. Mas, por mais incrível que possa parecer, vivem tranquilos. O choque já passou, a angústia e raiva ultrapassados, a falta de esperança eliminada. Não há padrões estabelecidos, evoluções previstas ou fim de história já escrita. É tudo ao minuto. Ao minuto vão vivendo. Juntos e tranquilos. Uff...