terça-feira, 8 de novembro de 2011

Insuportável Sr. Presidente?

Insuportável, diz o sr. Presidente. Que os tempos que vêm podem ser insuportáveis para as famílias e gerações vindouras. Pois bem, Sr. Presidente, lembro-me dos tempos idos dos 80's, em que, para além de passar o tempo entretido com um infindável conjunto de inutilidades, fazia figura de parvo em inúmeras RGA'S (para os mais novos, Reuniões Gerais de Alunos). Sim, naquele tempo, a coisa fazia-se assim em open-space. E quem fazia figura de parvo, fazia-a em estado "open". E fazia-a em seu nome, deixe que acrescente. Promovia o Sr. então, com a Ministra de Educação Manuela Ferreira Leite, a introdução das propinas nas universidade. Todos preparavam as marchas ao sabor da Super Bock, e levantavam as vozes que pouco se ouviam na sala de aula, mas estridentes nas tais Rga's, contra si. Contra si, mais nada. O resto, o essencial que tinha a ver com um direito consagrada nesta Constituição bacoca, ultrapassada e "socializante" que temos ainda hoje era, para eles, essencial. As contas nunca foram matéria brilhante neste cérebro, mas já na altura fazia algumas. E achava bem. As propinas, as reformas anunciadas na administração pública, a reformulação do Sistema Nacional de Saúde, a urgente revisão de um sistema de segurança social já no tempo anunciado como quase falido (já lá vão 20 anos, 20!). Portanto, em seu nome, fazia a tal figura de parvo. Anos passam, continuo a ouvi-lo (sim só o ouço, não lhe faço likes no facebook onde me parece meio tonta a sua presença). Olho para trás, e que vejo, num caminho por si iniciado. Peneirices. Um país cheio de peneiras.
Governantes atrás de governantes com o discurso habitual do "eu ganhava mais ali". Gostava de os ouvir com a mesma convicção "agora sim, depois, ganho bem mais aqui". Não me lembro de um. Um país onde a peneira é tal que se acham todos brilhantes nas suas actividades, explanam longas e aprofundadas teses sobre os seus feitos. As suas opiniões. As suas teorias. Citam de tudo. Cobram valores pornográficos por cada meia-hora de trabalho "criativo" ou "técnico". Tudo ás centenas de milhar, que são muito bons pois então. Os políticos, rodeados de assessores trancados em bunkers bibliotecários, preparam discursos, estudam cores de gravatas, analisam índices de notoriedade. Vejo um país sem culpas. Desde 1974, ninguém tem culpas. De absolutamente nada. Vejo os produtores dos panfletários libertadores de Abril, rapidamente tornados em terroristas e que deviam estar hoje presos, a negociar com, hélas, os "povos libertados". Doutores, Economistas e Engenheiros formados com "passagens administrativas" em finais dos anos 70, tratados como senadores. Vejo presidentes de câmara que se eternizam no poder com rotundas, fontes, fogueteirices, jardins desertos e luzes de natal. Os tais que o Sr. considera como "forças vivas essenciais junto das populações", e para quem considera (tal como o Governo), terem a "necessidade" de manter a sua taxa de endividamento nos 125%. Pagamos todos (ou quase todas, vá). Eles não. São "forças vivas". Deputados criminosos eleitos para Conselhos de Magistratura (perdoe-me o eventual erro de terminologia, mas sou um simples "insuportado"). Depois vejo sindicatos que insistem em considerar que greves gerais resolve problemas. Não resolvem. Agravam. Os meus pelo menos. Bem como os dos milhares de pais que verão os seus filhos sem escola, os doentes sem enfermeiros, os milhões de "gente que vive no limite do insuportável" sem transportes públicos. E milhões e milhões de prejuízos. Boa solução, portanto. Vivem nesta peneira da preocupação pelos "direitos adquiridos" no tempo da maria caxuxa, esquecendo que mais importante que ter o direito adquirido no trabalho...é ter o trabalho por adquirido. Vai-me perdoar o tom, é que se aproxima o fecho do trimestre. E no fecho do trimestre deparo-me com o mesmo problema do trimestre anterior. Pagar IVA relativo a trabalhos efectuados e facturados. Mas não recebidos. Ou seja, o trabalho faz-se, o estado recebe pelo que não contribuiu. E quem o fez contribuindo para a peneirice do outro? E a quantidade de gente que, certa dos chamados "direitos" também trabalhou? Quase 70% de empresas que, fruto deste sistema vicioso tributário iniciado e piorado por si, sufocam. Ou insuportável, para usar a sua expressão. E passam a ser, estes parvos que aqui andam pelo meio, os desonestos. Vai-me desculpar a missiva que lhe dedico, mas tenho para mim que o Sr. Presidente, para além do cargo que lhe está inerente, tem feito companhia a estes milhares e milhares de peneirentos que têm tornado Portugal insuportável. Sei que é um mero professor universitário, mas se há coisa que sempre respeitei, foram os meus professores. Que muita reguada me deram, quando não fazia o trabalho de casa, faltava ao compromisso, mentia ou falhava. A régua eu já comprei (com iva a 23%). Agora, permita que lhe pergunte...onde os posso encontrar?