terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Gelado Olá


Quando era puto insistia com o meu pai que só gostava dos gelados da Menorquina. Um em especial. Aquilo era uma paixão assolapada, descontrolada, devastadora mesmo (daí a bonita alcunha de “bolinha”). Consumi aquilo sempre com o mesmo sabor, a mesma intensidade, parecia-me sempre como a primeira vez. O único senão (mínimo), era que aquele gelado tinha dois problemas. Em primeiro lugar, o pai achava-o muito caro, logo proibido. Em segundo, cada vez que chegava desaparecia rapidamente o raio do gelado. Chegava a dar pontapés desenfreados na arca, tal era a fúria quando não o encontrava. Mas ele nada. O cabrão do gelado não queria saber. Nunca ficava ali escondidinho no fundo da caixa, para que ninguém o levasse. Ingrato, é o que era! Até que o pai, num acto (julgava ele), de lucidez, cancela os gelados da Menorquina. A partir daquele dia era Olá. Garantia-me que eram melhores, faziam melhor à saúde, e que havia um gelado semelhante ao outro da Menorquina. Que eu ía gostar. Que experimentasse e veria que gostaria da mesma forma, ou ainda mais. Ainda olhei para ele, apreciei a embalagem, flirtei o gajo mesmo. Sentava-me a apreciar o mostruário da Olá, onde ele aparecia em destaque só para se exibir. Juro que até parecia combater dentro da arca com os outros gelados para chegar em primeiro lugar às minhas mãos. Punha-se m bicos de pés, batia palmas, assobiava, armava-se em bom o gajo. Mas eu...nada. Nahhh....até hoje não lhe provei o gosto. Seria bom?