quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Diferença = Esperança


Adele - Someone Like You (BRIT Awards 2011) por javierlobe

Talvez herança de pais que, a meio de uma vida, perderam tudo, arregaçaram mangas e fizeram-se à luta, cresci na esperança. E na diferença. Na tentativa de percepção da diferença, do olhar diferente, a palavra diferente, o gesto diferente. Sempre me trouxe mais esperança, a diferença. Já adolescente, insisti na marcha contrária, ergui bem alto voz e gestos na insistência da diferença. Fruto de leituras pouco adequadas à jovialidade de pensamento, e da procura da diferença, lá me fui enchendo de esperança. Entram, enfim, as escolhas mais difíceis. Trabalho, namoros, amigos, companhias. Novamente no trabalho, lá veio a procura da diferença. O diferente é, por natureza, um ser de coragem. Para assumir convicções, afirmar certezas, escolher o não óbvio. Baseia-se numa vida de aprendizagem, de pensamento interior, de uma alma forte, sonhadora, arrojada. Por isso traz mais esperança. Ao mesmo tempo, os amores. Já tarde, bem tarde, descoberta de nova diferença. A contemplação do belo. A abstracção pura da realidade, que transporta para um estado de tranquilidade inimaginável até esse momento. É um caminho, certamente. Este da procura da diferença. Faz errar, cegar temporariamente, enganar na avaliação. E perder, faz perder de forma a deixar-nos num estado de tristeza indescritível, desolador. Mas faz mais, muito mais que isto. Esta procura permite encontrar. Permite os melhores momentos recordados para uma vida inteira. Permite, em primeiro lugar, fazer o sonhado. Sim, o que é sonhado também se faz. Permite o encontro. É sempre melhor encontrar uma vez na vida, que passar uma vida na procura do encontro. Acontece a poucos, é o gozo de apenas alguns. Permite uma realização interior que nos transporta a um ponto que sabemos ser o mais alto. Permite o melhor de tudo (para mim que sou um homem de memórias), a eternização do sabor. Tenho vários sabores que não esqueço jamais. A cumplicidade da juventude, a imensa realização profissional, os milhares de beijos e abraços recebidos no tempo em que fui mais importante na vida. E os principais. Os abraços de um pai e de um irmão que foram, são e serão sempre sentidos como os melhores. As primeiras vezes em que ouvi "tio". A primeira vez que beijei a única mulher que me trouxe amor. E o beijo que te dei hoje, minha mãe. Someone like you, de facto, não existe. Uma força inesgotável, um sorriso que não termina nunca, e uma esperança que nos abala.