quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Gente boa

A propósito de gente boa hoje, claro, lembrei-me de uma mulher.

Com nome de rabina e corpo de mulher, ela era nas suas próprias palavras "uma salteadora do amor". Era a figura feminina de Richard Gere em "American Gigolo" (sem a parte do gigolo...). Uma arrasadora. Bonita, forte, inteligente, assertiva. Tudo o que um homem mais procura, mas mais teme.

Era multi-funções. A última faceta que lhe conhecia era a de formadora num curso de pós-graduação em comunicação assertiva, para um grupo deste jovens turcos que nos inundam os tempos desde há alguns anos. Imagino-a ali. Calça de ganga justa, botas altas, camisa branca desabotoada no peito contornado. A dar formação. Conheci-a h+a muitos anos, estávamos os dois a iniciar i curso na faculdade, ainda longe de que aquele (hélas) faria parte da uma vida. Eu, chegado numa terceira fase de candidaturas (a fase da piedade, vá), ela vinda de duas semanas do curso de Antropologia, do qual pedira transferência. Claro. Dois estranhos caídos num grupo já constituído, com as cumplicidades já formadas e os mecanismos informais de amizade estabelecidas. E, aos poucos, lá me fui enturmando. Ela não. Demorou, demorou muito. O tempo fez-nos andar por caminhos diferentes, que se foram cruzando de quando em vez. O profissional arranjava um espaço para o pessoal. Fomos assim daqueles amigos que, nas suas imensas diferenças, se respeitaram sempre. Na verdade, tinhamos cada um de nós, parte do que o outro gostaria de ser. Vem isto a propósito de gente boa. E da desilusão. Ela costumava dizer que o que mais lhe tirava o sono (e era pouca coisa), era saber que provocava desilução em alguém "bom". Era assim, tinha os bons e os maus bem estratificados. E vem a propósito de outra coisa lembrada hoje. Que ela era mais uma destas pessoas boas nas intenções e nas vontades, mas péssimas na prática das mesmas. Mais uma.