domingo, 28 de agosto de 2011

Não há amor maior


Voltando ao homem. Reconheço-lhe várias virtudes. A primeira é ser um romântico, sendo Alemão.
E depois, outras, bem mais interessantes. Era um elogiador. Gosto de quem tem humildade, sabedoria e visão para saber elogiar. É um acto de respeito, e de coragem.
Coragem, porque só o corajoso admite o grande amor. Porque corre o risco de não ser correspondido (no caso dele, julgo que todos). É um acto de expúria interior provocado por uma explosão emocional incontida. Corajoso porque está sempre em contra-mão. Não esconde, não tem vergonha de dizer, de admitir. Coragem, portanto.
Elogio à mulher. Coloca a mulher no seu ponto de inspiração. Inspiração para a tranquilidade. Sendo, ao mesmo tempo, uma fonte de desejo, de paixão enfurecida, de sabores que ficam na memória dos lábios, de cheiros que entram como cocaína pelas veias ardentes. De peles suaves em corpos selvagens. Inspiração, portanto.
Tranquilidade interior. Em Goethe, o romântico é um pragmático. Não se alimenta de amores platónicos. Deseja, provoca, tenta encantar. Quando alcança, bebe até à última gota e partilha o vivido.
Cumplicidade. O romântico é mais cúmplice na afectividade. Vive a alegria do outro, como se da dele se tratasse. Dá-lhe espaço para brilhar, prepara-lhe os holofotes e alimenta-se extasiado da luz que não é dele. Inspira-se nos gestos simples, nos actos escondidos do dia-a-dia, nas palavras únicas. Sente-se bem, na medida em que o outro está bem.
Contempla. Ele prefere o desejo, o beijo, o abraço, o toque dos lábios húmidos e o sabor do corpo deitado na cama, após um banho relaxante. Mas, ainda assim, gosta de contemplar. Descansa com o descanso do outro. Ainda que aguardando o momento em que os olhos se abram, acorda de noite, abre a portada da janela por onde entra uma luz ténue e o olhar voyeur dos vizinhos, e contempla a silhueta. Olhares desatentos ou almas tristes dirão que isto é obsessão. Não é. É admiração. Não há amor maior. Em Goethe, claro...