domingo, 7 de agosto de 2011

o melhor aniversário


Wonderful tonight Eric Clapton por lsfilipe

Já aviado com o quinto Jack Daniels com uma pedra de gelo, como sempre gostou, Francisco lembra-se daquele dia. Com Madalena viveu os dias mais felizes da viva, isso soube na altura, e sabe hoje. Já lhe falta o discernimento para a lembrança completa, mas lembra-se do melhor.
Era o dia do seu aniversário, mas, ao mesmo tempo, um dia muito importante na vida de Madalena. Estreava a sua primeira peça de teratro, o D. Maria estva esgotado há muito. Madalena era assim, uma mulher que encantava o Mundo, e assim que se soube que ela finalmente estrearia a sua primeira peça, rapidamente esgotou. Bem, é verdade que Francisco ajudou, não se cansou enquanto não chateou os seus milhares de amigos para irem, e recomendarem a outros que fossem. Adiante.
Fascinado com a noite que o esperava ao lado da mulher da sua vida, apenas os telefonemas dos amigos e da família o fizeram lembrar que aquele era o dia dos seu aniversário. Madalena lembrara. Em casa, na preparação para o teatro, Madalena esperimentara mil e uma peças de roupa, guardadas desde que se lembrava. Era assim ela. Cada peça de roupa, cada assessório, cada sapato tinha uma história, um momento e ela sabia-os todos de cor. E era deliciosa a forma como os contava. Tal como era delicioso observá-la a preparar-se. Prática, rápida, com poucas preocupações estéticas. Não precisava. E ficava sempre fabulosa. “A simples forma de ser magnífica”, dizia Goethe. E dizia ele, agora. Perguntavalhe sempre no mesmo tom, na mesma forma, com os mesmos gestos. “Estou bem?”. Estava sempre. Lembra-se, claro, que também naquela noite, a sua vontade era a de a despir o mais rápido possível, beijá-la e fazer amor a noite toda. E, no fim, agarrar-lhe na cabeça e dizer-lhe “amo-te”. Só pensou, não fez. Estúpido. E então lá foram. Correu como ele esperara. Todos paravam para falar ou cumprimentar Madalena. Via-se nos olhos e nas palavras de todos, a admiração que lhe tinham. E brilhava, brilhava sempre Madalena. E ele, claro, peito cheio, cigarro atrás de cigarro, e vinho atrás de vinho, cheio de cagança. “Sou o maior.” Peça estreada, elogios da praxe feitos e Madalena apressa-se. “Bom, vamos embora?”. Francisco estranhou, mas ir embora porquê, aquela era a noite dela, porque raios se quereria ir embora? “Vamos Francisco, é o teu aniversário, temos que ir jantar.”. E foram. Fizeram-se a caminho, e Madalena conduz. Era o seu carro, ali quem mandava era ela. Converseta pelo caminho sobre a noite de estreia, Francisco no seu exaustivo discurso sobre como ela brilhara, que era magnífica, linda. Para ela, os adjectivos saiam-lhe a uma velocidade estonteante. Nem dera pelo caminho que Madalena fizera. O restaurante havia sido escolhido por ela, sem ele saber, e ficava junto à praia. Num hotel bonito, parecera de propósito, a sala estava só para eles. No jantar, o habitual, o tempo e as palavras passavam com a tranquilidade dos Deuses. E a cerveja também. Madalena levanta-se a meio, para ir à casa de banho. Ele, fascinado, continuou entusiasmado no jantar e na cerveja que o acompanhava. E noutro pensamento, óbvio. “Onde irei com ela a seguir?”. Ela regreessa è mesa e traz consigo a chave de um quarto (ou cartão, que agora é tudo cartonado). “Hoje ficamos aqui...”, diz-lhe, naquele olhar terno e sensual, como quem dedica a noite ao outro. Sentiu vontade de gritar (gritou mesmo), e agradeceu-lhe. Madalena deixou-o sem palavras. Terá sido a melhor oferta de aniversário que algum dia tivera. Nunca lho disse, lembra-se agora. Mais um Jack Daniels...