domingo, 3 de julho de 2011

a moral do coxixo

Há-os para todos os gostos e feitios. Velhos senadores ou jovens aspirantes.
Com o seu saber, fruto da experiência de uma vida que já vai longa. Ou ainda jovens, mais plenos do seu extenso conhecimento da espécie humana e dos seus comportamentos. Uns e outros são os moralistas da pátria. Vivem de coxixo em coxixo. Alimentam histórias em emails, conversas de café na Mexicana ou na Versailles, ou através dos seus moderníssimos iphones. Imunes ao erro, perfeitos na sua existência, e com enorme zelo pelo seu bom nome fazem da pregação torpe da moral pública um entretenimento. Indiferentes ao facto de desconhecerem o pormenor, acrescentam adjectivos e verbo à história contada. É gente que nunca errou, nunca prevaricou, nunca falhou. Cheios desta nobreza, que normalmente lhe vem transmitida pelo sangue e nome longo, profetizam.
O moralista da pátria, normalmente, vive de enfatizar as suas públicas virtudes. E de negar, com convicção (sempre com convicção), os seus vícios privados. Negam-nos ao ponto de os desconhecerem. Acham-se, e dizem-no, imbuídos da mais nobre educação. Para eles, existem uns e outros. Utilizam palavras como verdade, educação e decência, como verdadeiros donos das mesmas. Para esta gente não há vidas com história. Não há passados, presentes ou futuros. Para eles tudo é o seu coxixo. E, infelizmente, o seu coxixo é, a maioria das vezes, falso. Pouco se importam. Valorizam quem lhos transmite, com a mesma convicção com que agridem de quem falam. Até um dia. Um dia em que, sem saberem nem porquê, a moral está virada ao contrário. E aí, pouco se importam. Nada lhes tira o sono. Já criticaram, julgaram e comentaram amiúde. E nisso, reconheço, têm razão. O seu coxixo já destruiu o que havia a destruir. Que venha o próximo.