quarta-feira, 6 de julho de 2011

Nua

“...batem à porta. Num repente, Francisco acorda. Assustado e ressacado. Outra vez. Fixa o olhar no corpo nu deitado a seu lado. Um outro corpo nu. Sem nome, sem história, sem morada. Um corpo de mulher apenas. Batem novamente.
- Pequeno-almoço Sr. Francisco. Gritam do lado de fora.
Francisco abre, dá o bom dia a Mateus, agradece-lhe e num esgar envergonhado fecha a porta. Já faz um ano que Francisco está a viver no Bairro Alto Hotel. Mateus já lhe conhece de cor as manhãs.
Está cansado. Senta-se junto á janela, onde todos os dias contempla o sol a nascer no Tejo. É um homem de rituais. Sempre a mesma hora do pequeno-almoço, sempre aquele lugar a olhar o Tejo. Apenas uma coisa muda no seu ritual. Aquele corpo nu deitado na sua cama. O barulho do banho acorda aquela mulher. Nua, mal acordada, vai ter com Francisco.
- Olá Francisco...bom dia, acordaste à muito tempo?
- Olá Marta, foi só o tempo de tomar o pequeno-almoço. Deixei-te em cima da mesa.
- Obrigado, vou comer qualquer coisa então. E Luisa. O nome é Luisa...
Luisa deixa Francisco ainda mais incomodado. Que raios, todas as manhãs o mesmo erro. Terá isto um fim? Enquanto se interroga, Luisa vai ter consigo ao banho. Corpo moreno e elegante, hávido de abraçá-lo. Tocá-lo. Senti-lo. Não trocam uma palavra. Apenas olhares. Tocam-se. Francisco percorre com os seus lábios o corpo de Luisa. Quer voltar a senti-la. Possuí-la. Torná-la dele. Quer sentir mais. Quer amar. Percorre-lhe os ombros esguios e belos num suave deslizar. Luisa corresponde. Num êxtase, vira-se para Francisco e beija-o. As gotas quentes do duche quase lhe queimam a pele doce..."