domingo, 15 de maio de 2011

Pares.

Desde Adão e Eva, que permanece a dúvida. Como se forma o bom par?
Há-os de todo o gosto e feitio.
Aqueles que, desde miúdos, prometem amor eterno. E resulta. Desde muito cedo, encontram-se nos hábitos, conciliam-se nas diferenças. Partilham alegrias e tristezas, sempre construindo o sonho de juntos prosseguirem. Livres de dúvidas, sujeitos e tentações, claro, todos estão. Mas lá resistem, e mantêm-se a par. Tiveram a sorte de um encontro inicial. Muitos dirão que já não existem estes pares. Talvez, mas se existirem, é bom.
Depois aqueles que, por mais tentativas que façam, erram sempre. São os "felizes por uma semana" de Goethe. Projectam no "outro" o que gostariam que tivesse. Ou aquilo que procuram incessantemente. Encontram muitos, por pouco tempo. Vivem intensamente cada minuto, onde aliam o êxtase do ter, com a ansiedade da perca que sabem ser para breve.
Existem ainda os que se encontram ocasionalmente. Quando já não procuravam, quando, aliás, se achavam não merecedores de encontrar. Essa improbabilidade do encontro é o seu valor maior. E o menor, por vezes.
Maior, por que têm, naquele momento agora chegado a possibilidade de dar uma chance a si próprios. Acreditam, agora, nas milhares de palavras escritas, nas centenas e centenas de músicas ouvidas em silêncio, enquanto imaginavam. Projectavam nos seus quartos escuros, uma luz breve na parede e construiam o seu "par". A cor dos olhos, a força do abraço, o som das suas palavras, o sabor do seu beijo. E vivem apaixonados. Encontram-se, enfim. Sentem tranquilos, leves, donos do Mundo. Do seu Mundo que julgavam perdido. E distraem-se. Porque um caminho não preparado, traz sempre o imprevisto. A qualquer momento chegam as mágoas passadas vividas então, os medos que julgavam já afastados, um futuro não preparado, mas que se exige o mais preparado possível.
Enfim, gosto de pares. De os ver, observar, perceber as suas cumplicidades, os seus silêncios. Os seus sorrisos. Conheço muitos, e bons. Sei hoje de um novo par. Sei que será bom e feliz. Nela, está a tranquilidade doce dos anjos, a sabedoria da experiência vivida na troca do amor, a capacidade inesgotável de entregar. Nele...bem nele, está o que ela precisa. E procura, sem saber. E ainda bem. Que os veja sorrir, sorrir muito.