terça-feira, 3 de maio de 2011

Memória do que somos

"À calúnia responde com o silêncio, diminuindo-a. À indiferença responde com a palavra, provocando-a. Ao ódio responde com nada, um absoluto e convicto nada." M. Gandhi
Dito por Gandhi, soa bem. Vivido por qualquer um de nós, sabe mal. Muito, muito mal. Qual o ser humano que aguenta dias e dias a fio, meses e meses seguidos, viver sob estes três factores: Calúnia, Indiferença, Ódio. Na verdade, ser humano algum julga algum dia poder ser alvo de um ódio tal que o destrua, que o consuma a tal ponto de errar, claro. Se contado, todos teremos certamente as melhores decisões. Contado, todos teremos as melhores atitudes. Contado, seremos sempre controlados, serenos, tranquilos e ponderados. E vivido? Manteremos todos estas virtudes? Talvez alguns o consigam, talvez. O que me parece, sinceramente, é que ninguém que tenha um determinado perfil na partilha, na amizade, na solidariedade consegue o controlo absoluto. É que a maior das indignações não está no espaço público, está numa vivência interior. E essa, é incontrolável. Ora, o ódio, infelizmente, gera a calúnia. A calúnia vive de duas coisas. De quem a faz. E de quem nela acredita. E quanto a isto, mais uma vez, nada a fazer. Talvez o silêncio, como aconselhado. Talvez. Quantos o fariam? Não conheço ninguém. Ninguém. Depois a indiferença. A indiferença surge por várias razões. Por completo alheio social e solidário para a qual caminhamos todos. E de razões pessoais. E, nas razões pessoais, a indiferença surge como o mais perfeito subterfúgio para a nossa fraqueza. Escondemo-la, sendo indiferentes. Com a nossa indiferença, tornamos o outro o alvo. O detentor dos defeitos, o pior dos seres humanos. Se não o fizéssemos, seríamos nós o observado. E isso é, de todo, absolutamente escusado. Temos pois, que, perante a frase do Gandhi, resta-nos lê-la, interpretá-la, elogiá-la e citá-la. Mas vivê-la?