domingo, 29 de maio de 2011

"A melhor estória, é a estória não contada"


Adele - Someone Like You (BRIT Awards 2011) por javierlobe
Há estórias assim.
De amor profundo. De entrega, encontro, dedicação. Daquelas estórias que apneas se imaginam, ou leiem. Ou sonham. Estórias de gente com caminhos descruzados, passados cheios de céus carregados, vontades por concretizar, tranquilidades por alcançar. Há estórias em que esta gente se encontra. E quando se encontram, o caminho não lhes é fácil. Parece constantemente não merecedores de luz. O destino dá-lhes fugazmente o que lhes devia ser eterno. Consomem-se, entregam-se, completam-se. Distraem-se. Mas lá se encontram, e se juram eternamente juntos. Já pouco afectos a palavras vãs, acreditam nos olhares que se fixam, nos silêncios que se perduram no tempo certo, nas salas cheias de sons ausentes. Mais do que no acessório, vivem no essencial que os alimente. A vida corre-lhes todos os dias ao sabor de um tempo que parece não passar. Olham para a rua, e vêem sempre o mesmo sol, a mesma luz, o mesmo horizonte. Nestas estórias, o coração tolda-lhes a razão. Ou não. Depende dos corações, sobretudo, depende das razões. A estória tem um bom caminho inicial, sobretudo porque não foi procurada exasperadamente. Nada se questiona, nada se premedita, em tudo se acredita. Em tudo. E como são raras estas estórias, têm vida curta. São estórias boas demais para serem de pertença única. Ou são vividas por todos, ou todos a desacreditam. O muito citado Goethe insistia em dizer que “a melhor estória, é a estória não contada”. Depois de contada, passa para um espaço público polvilhado de rancor, inveja, cobiça. E maldade. Que a aniquila. Ninguém tem o direito a uma estória melhor. Ou a temos todos, ou ninguém a tem. Para sempre. Má hora, a hora em que esta foi contada.