terça-feira, 12 de abril de 2011

Suave

"...noite quente, as portadas do quarto de Madalena batem forte, agredidas pelo vento de Norte. Põe o seu som nocturno de sempre, desta vez é Chico Buarque quem lhe dedica os acordes. Despe-se levemente, com o mesmo sabor alinhado de todos os dias e refugia-se no seu banho de final do dia. Cada pingo de água que sai forte e quente, afaga a sua pele doce e macia, protegida pelo tempo. É um dos seus momentos preferidos do dia, depois das manhãs sempre aceleradas na sua livraria e das tardes dedicadas aos meninos do colégio de S. Francisco de Assis. Madalena saboreia cada momento do seu dia, desde o acordar tranquilo dos seus filhos, as idas à escola, o trabalho. Faz tudo com a paixão e a sabedoria dos Deuses. Mas este é o seu momento. O momento em que, só, embalada pelos sons e palavras que a fazem caminhar por um outro Mundo. O seu Mundo. Aquele em que o tempo pára, os ruídos se calam, as luzes fazem-lhe a última vénia do dia e acalma. Tranquila. Doce, apaixonada e livre. Pensa na sua nova paixão que a conforta num tempo difícil. Depois de uma tempestade que passou, julgando ser amor. Passa, distraída, o creme pelo corpo desenhado, abre as janelas onde a espreitam ao longe e adormece, ouvindo como só ela sabe ouvir..."