segunda-feira, 11 de abril de 2011

Telepontos e Mitos

Vivemos num País de teleponto. E de Mitos. Desde há muitos anos que ouvimos, lemos ou vemos um conjunto de mitos urbanos criados por profissionais do teleponto. Pouco me incomoda o teleponto. Não gosto de telepontos. Que me perdoem os Obamalovers do País. O teleponto explica a ausência de espontaneidade, livre pensamento e emoção. A emoção não se escreve. Sente-se e exprime-se em palavras. Olhamos para Sócrates e nele tudo é programado, premeditado, pensado exaustivamente. Dirão que o teleponto é mais eficaz. Permite a transmissão correcta da mensagem. Concordo. Mas sempre fui um purista da forma. O teleponto mente. Basta ver o quão ridículo foi quando o teleponto da direita (tinha que ser esse) se avariou, e obrigou o nosso Primeiro a olhar apenas para esquerda. Dirão que o Congresso era para isso mesmo, virar à esquerda. Bom, nesse sentido, foi eficaz.

E o mesmo teleponto ajuda a mitificar. E muitos.
Mito da Crise Global
Olhe-mos para essa Europa fora, tenhamos o cuidado de ler jornais e revistas locais de alguns países, e perguntemo-nos: crise global? Perguntemos a um alemão, um austríaco, um holandês, um checo, um polaco, até um esloveno ou eslovaco. A crise é maior nos mesmos de sempre: Portugal, Grécia, Irlanda. Ou seja, os “latinados” e os “latinos do Norte”. A crise não é de hoje, de seis semanas, ou seis meses. É de anos e anos de desperdício do bem público, de descapitalização da banca nacional, de completa anarquia da subsidiação, da premiação da preguiça, do engordar absurdo de um estado que, descapitalizando e sobrecarregando as Pequenas e Médias Empresas, se engordava a si próprio, com Institutos, Comissões, Sub-Comissões, Grupos de Trabalho, Grupos de Trabalho para propor Grupos de Trabalho. De inauguraçãoes milionárias de obras despesistas, de “despesas de representação” a boys políticos, de pagamentos de facto pornográficos a gestores públicos. Olhe-se para Refer, Metro, Metro do Porto ou Carris. E compare-se com os seus congéneres em Inglaterra ou França. Todos, todos sem excepção, dão lucro. Têm os melhores, os mais eficientes e os mais controlados gestores públicos.
Ministros, secretários de estado, sub-secretários de estado, assessores das três categorias referidas. Estão hoje a legislar e adjudicar. Estão amanhã a cumprir a lei que legislaram e a enriquecer com as obras e serviços que adjudicaram. Gente sem história, sem currículo, sem trabalho. Dirão que não é de hoje. E concordo. Mas é de hoje que o principal responsável por tudo isto é um homem que mente a olhar nos olhos. Um engenheiro formado a um domingo, num curso que não frequentou, aprovado em exames que não fez. Um engenheiro que assinou obras que não viu. Um Primeiro-Ministro que diz hoje mel, amanhã fel. Que se rodeou de uma cambada de gente ignóbil sem qualquer ponta de vergonha. Planeou censuras jornalísticas, urdiu planos de aquisição de meios de comunicação social. Um Primeiro-Ministro que conhece a mãe de Francisco Loução. Acha-a mansa. Disse ele. Um Primeiro-Ministro que usufruiu de mentiu ad nauseum sobre défices das finanças públicas, crescimentos económicos, divída pública. Um Primeiro-Ministro que acena com um documento na Assembleia da República apelidando-o de “Documento da OCDE”, quando, pedido o documento por um jornalista mais corajoso (porque sim, tem sido preciso coragem), se percebe que é um relatório de uma pessoa que, por acaso, fazia parte de uma comissão da OCDE. Um homem que, após estes caminho, se apresenta num Congresso a fazer um comício eleitoral, sem um esgar de preocupação, um pingo de auto-crítica, uma palavra de “desculpem qualquer coisinha...”. Organiza um Congresso de entronização do Grande Líder, com bandeiras da nação espalhadas, filmes espectaculares e elogios, elogios, elogios, elogios. Olho, como homem da comunicação que sou, para aquele congresso e lembro-me, de facto, dos melhores filmes de Leni Riefenstahl. Desculpem-me a comparação, mas quem se dê ao trabalho de conhecer a obra e o trabalho do mais brilhante comunicador e publicitário Francês Jacques Séguela, sabe que já ele o dizia há muito. Hitler inspirou os melhores comunicadores do Mundo.Dirão que não é único. Talvez, mas nunca tinha visto um espectáculo tão caro, tão programado, tão perfeito. Até o filme que passou em honra à história dos vários lideres do Partido Socialista. Eles, a preto e branco, ele, o Grande Líder. Chega a cores. Vergonha e mito. Este Primeiro Ministro não é determinado, perseverante, lutador. É um mentiroso. E um problema para a política e os políticos deste País.

Mito da Liberdade de Imprensa e de Comunicação
Alguém fez um dia uma contabilidade do número de entrevistas, reportagens, trabalhos na imprensa sobre este Primeiro-Ministro e o seu Governo. Dava mais ou menos 400 e tal para um grupo de imprensa. E 6 ou 7 para todos os outros. Liberdade? Vejam os relatórios da Entidade Reguladora com atenção, e vejam os jornais, televisões e rádios onde o Governo e seus milhares de institutos investiram em promoção e comunicação. Conheçam as empresas que trabalharam com Governo e principais empresas de capital maioritariamente público. São poucas. Muito poucas. Mas ricas, muito ricas.

Mito dos Fundos
Criou-se, há muito, a ideia que com Cavaco e Guterres é que tinhamos dinheiro a rodos a entrar para este País. Que eles, eles sim, é que o desbarataram, desperdiçaram. É verdade que sim, muito foi desperdiçado. Mas é também verdade que foi no primeiro Governo de Cavaco Silva que tivemos o maior cresciemnto económico. E é verdade que entra hoje em Portugal, o mesmo ou mais dinheiro que entrava naquele tempo. É isto uma realidade na opinião pública? É isto sabido pela maioria? Quando votam, sabem disto?

Mito da Cidadania
Esta ideia que os “cidadãos” só existem fora dos partidos políticos é outro mito. Mas alguém acreditava, há meses atrás, que se algum dos grandes partidos convidasse Fernando Nobre, ele não aceitaria? Mas, afinal, quer ou não quer fazer a diferença? Quer ou não quer ter intervenção? Pois bem, se quer, ela não se faz em alegres soirées ou pequenos brunch's na Bica do Sapato. Faz-se na Assembleia da República. Com os Partidos e nos Partidos. É assim a democracia. Já Churchill dizia “a democracia da rua faz bem à mente, mas mal ao corpo”. Perdeu eleições, é verdade. Mas ganhou a guerra, e reconstruiu um País. Apenas de resta uma dúvida. Saberá Pedro Passos Coelho que o Presidente da Assembleia da República é a segunda figura da mesma? Repito: a segunda.