sexta-feira, 29 de abril de 2011

uns e outros

Uns. O verdadeiro poder que têm é o de serem os únicos donos das suas vontades. A maioria de nós é condicionada nas suas vontades por terceiros. Nas profissionais, pedimos 200 opiniões, nas sociais, procuramos aceitação, nas passionais, somos condicionados pelas respostas, pelas disponibilidades, pelas vontades do chamado "outro". Estas pessoas funcionam de forma bem diferente. A única vontade que conta é a sua. Escusam-se a procuras de vontades alheias, são o que são e quem são, e ponto final. Certeza do que são. Não têm paciência absolutamente nenhuma para terem que partilhar decisões, escutar vontades. Muito menos, sentirem-se prisioneiras dos tempos e gostos dos outros. Gostam de viver na sua liberdade e decisão total. Têm o que querem, quando querem. Na maior parte do tempo, tudo o que têm é o que desejam. Quando sentem alguma falta ou necessidade, essa falta é preenchida. Mas quando eles querem. Gostam da admiração, fá-los sentirem-se seguros do que são. Mas não a cultivam, nada disso. São procurados, sempre procurados. E é, essencialmente, isto que os faz diferentes e melhores. São os desejados. Desejos aos quais respondem apenas nos tais tempos. Nos deles.
Outros. Falham constantemente. Traídos pela confiança que depositam, pela fé que têm na verdade das palavras dos outros. Movem-se pela emoção, escutando a razão. São menos racionais, mas por isso mesmo fazem muito mais que os outros. Fazem, sobretudo, para os outros. Eliminam-se. Apagam-se. São incapazes de serem respeitados, apesar da quase obsessão pelo respeito pelo outro. Não se conformam, mas nada conseguem alterar, no que a eles próprios diga respeito. Vivem numa constante ansiedade emocional, pela injustiça a que são, vezes demais, sujeitos. São desrespeitados, humilhados, mal-tratados, indiferenciados, esquecidos, apagados e eliminados. Num ápice. O seu valor é zero. Ou quase zero. Têm um. O de existirem, para alimentarem os desejos dos outros. Os que os apagam. Vivem na sua emoção interior. E na sua tristeza. Profunda.