segunda-feira, 25 de abril de 2011

Triunfo da forma


Escrita coisa parecida há exactamente um ano atrás. Longe estava de a repetir. De que preferia que fossemos todos apenas palavra. Na palavra escutamos, aguardamos, entendemos, compreendemos, aceitamos. O problema é que, passada a palavra, vem a necessidade do restante. A necessidade dos actos. Da posse. À forma em negação do conteúdo. E, na forma, vencem os tais melhores. Aqueles que negam, hoje, as palavras de ontem. Seguem triunfantes aliados à forma. Esquecem os princípios associados à palavra. Honestidade, verdade, fidelidade. Fidelidade. Na forma, vencem-nos com o silêncio das suas palavras. Silêncio enganador. Não significa ausência de pensamento ou presença. É pior, muito pior. Significa a traição mais ignóbil da palavra, a humilhação pública e repetida dos valores insignificantes da palavra. Assentam na forma, respiram-na e subvertem tudo e todos. Descredibilizam por completo a verdade do conteúdo. Lutam pelo conforto individual, pela ascensão social, pela posse do absurdo. Destruindo e desvalorizando o valor da palavra, do afecto, do abraço, da companhia. Tudo indiferente. Pela forma, e contra tudo. E fazem com cuidado, no silêncio dos astutos o que fazem melhor. Escondem os seus vícios privados, vergastando com ódio e fervor as mentiras públicas dos outros. Aniquilam-nos. E seguem, triunfantes na forma. Até à próxima vítima.